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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Geraldinho Vieira - Seitas, partidos e penas para todo lado

A partir de Hoje estaremos reproduzindo o artigo do jornalista Geraldinho Vieira, que é publicado todo domingo no Blog do Noblat, com a autorização de ambos.
O de hoje fala de política.

Retirado do Blog do Noblat

A disputa presidencial que já está nas ruas sinaliza tempos de intolerância à medida que caminhamos para outubro.

Há riscos de espíritos armados e baixo teor de caloria intelectual: o debate político ameaça deixar de ser “debate” e ganha ares de guerra de torcida organizada em briga de galo.

Muita mesmice à venda na praça: multiplicam-se nas ruas, nos espaços do (e)leitor e também entre cronistas expressões catárticas de um fanatismo do tipo seita religiosa - “meu candidato faz mais milagre que o seu”, “o milagre que o seu santo fez, só foi possível graças à água benta produzida pelo meu”, “seu santo nunca foi santo e deixou isso aqui um inferno”...

Eleição à moda da casa: a “direita que não é direita” disputa contra a “esquerda que não é esquerda”, enquanto veículos de comunicação tangenciam (se tanto) uma reflexão sobre o futuro que queremos.

Muitos meios jornalísticos estão jogando pro mato os princípios básicos de uma imprensa plural para se tornaram eles também partidos.

É legítimo e aconselhável que toda empresa de comunicação tenha e torne pública sua preferência política: para isso serve o Editorial, mais que isso e o meio vira o “jornal da candidatura de fulano”.

Há um inegociável cenário de liberdade em nome da diversidade de expressões, claro; mas difícil tem sido encontrar o limite (e o equilíbrio) entre liberdade de imprensa e liberdade de empresa.

Uma lástima: depois de 8 anos pra lá e 8 anos pra cá, entre Lula e FH, bem que seria saudável existirem meios dispostos a um jornalismo de pluralizar debates, ampliar olhares, investigar tendências e vigiar todos os interesses.

É por perseguir essa missão que a imprensa tornou-se relevante para as sociedades contemporâneas. Por nada mais, por nada menos.

Um pouco de exagero? Talvez, mas a imprensa brasileira parece-me plural apenas na somatória do que produzem todas as empresas de comunicação, sites e blogs (ou seja, vista como cenário, panorama).

Se observados individualmente, entretanto, muitos dos meios se mostram com cores bem próximas das partidárias - o lado que não é ouvido num meio é a única voz do outro.

Mas não é a esta espécie de “pluralidade de cenário” que se refere o manual do ofício. Por isso, vivas às exceções!

Entretanto, (e)leitores não são apenas vítimas. Deveriam ser ao mesmo tempo consumidores exigentes e artífices de um melhor jornalismo, mas são, eles mesmos, quem diria, sensacionalistas: gostam da disputa de esporas, do cheiro de sangue das rinhas, das penas pra todo lado.

Quem adora a ditadura do pensamento único (o seu próprio), elege um jornalismo de pensamento único.

Acostumados a fazer política como quem está torcendo, querem ganhar ainda que com gol de mão e na verdade gostam é de humilhar o adversário.

Cidadãos de uma ainda muito jovem cidadania, irritam-se com a conversa democrática e partem logo pro pau, para a desqualificação do outro.

Com meios mais abertos que nunca para debater, comentar e refletir, é impressionante ver como uma multidão de (e)leitores faz da liberdade participativa um exercício de reação nervosa e torna-se mais disposta a destruir do que a contribuir para a riqueza do debate.

Basta navegar pela blogosfera para ver uma polarização de tendência é de crescente agressividade, perspectiva nada iluminadora.

Democracia e hipocrisia: do jeito que as coisas caminham, a democracia brasileira corre o risco de virar um sarapatel de interpretações distorcidas e orgias de reflexões tendenciosas com doses cavalares de intolerância.

Perde o Brasil, que fica pequeno quando os cidadãos e meios de comunicação que deveriam enriquecer a reflexão no espaço público tornam-se parecidos com os políticos. Santos de pau oco, políticos e partidos mereciam menos torcida cega e mais olhar crítico, todos eles!

Somos, todos, co-responsáveis pela qualidade da informação, do debate (não apenas quando está em jogo a disputa de poder, mas sempre e em torno de todos os temas da realidade). Na luta dos partidos, somos co-responsáveis pela prática política que patrocinamos. Depois não reclama da política como ela é...

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