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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Política - Partido é Parte do Todo - Não se torne cego neste momento

A campanha eleitoral tomou-se de um clima emocional semelhante aos vistos em campeonatos de futebol, onde muitas vezes uns torcedores agridem o outro, como se inimigo fossem de sangue e fogo, apesar de nem se conhecerem, ou muitas vezes serem profundamente identificados em tudo o mais, menos em relação ao time que jogam.

E tem sido assim. Se você for conversar com alguém que votará em um candidato a presidente do que você escolheu, pronto, pode ser seu melhor amigo, mas o clima ferve e parece que todo seu passado de amizade ou de camaradagem fica de lado.

É compreensível um pouco e até desejável que as pessoas se entusiasmem pelo processo eleitoral, que virem cabos eleitorais (menos aqueles que como magistrados da nação, deveriam se mantiver neutros, mas esta é uma outra questão de postura e de grandeza).

Eu sempre tive uma postura política, desde pequeno quando participava de passeatas contra a ditadura militar e militava para que os candidatos do antigo MDB (a voz da oposição democrática) fossem eleitos e assim se fortalecesse a luta pela redemocratização do Brasil. De lá fui ao PSDB, onde acreditava deveriam estar todos aqueles que, defendendo a democracia como princípio fundamental, desejava ver construída uma sociedade mais justa, de melhores igualdades de oportunidade, de valoração do ser humano, de liberação de homens e mulheres de sua condição de submissos no processo social, de sua afirmação como entes autônomos, conscientes e responsáveis por suas escolhas. Mas apesar disto sempre entendi que os outros que pensavam diferente de mim, também deveriam ser ouvidos. E tinham muito de verdadeiro para afirmar.

Eu entendo que os partidos políticos e suas ideologias são filtros pelos quais a realidade social é entendida. Não há como ser diferente. Não vamos fingir que podemos ver a realidade social como ela realmente é sem filtrar por nossas crenças e valores. As vezes pior, vemos as realidades sociais de acordo com nossos interesses. Sempre veremos parte do todo. Esta é a limitação humana. Mesmo um objeto físico, quando olhado por diferentes perspectivas passam informações distintas para o observador. Quando o objeto (as relações sociais e econômicas) são invisíveis e intangíveis, os valores, crenças e interesses passam a ter um papel importantíssimo na definição da verdade observada.

Assim é importante que existam mais de um partido, mais de uma perspectiva da realidade. Se estivermos abertos a mais de uma perspectiva, poderemos chegar mais perto da realidade, mas sempre conscientes da nossa limitação em identificá-la.

Dito isto, como animal político que sou, não vou votar em branco, nem nulo, voto de acordo com minha consciência de social-democrata. Assim voto Serranelo. José Serra para presidente do Brasil e Agnelo Queiroz para governador do Distrito Federal.

Acho que todos devem votar e nunca votar em branco e nulo, pois acho que votar significa dizer o que pensamos. Se você acha que Dilma é melhor que Serra, vote Dilma, se achar que Roriz é melhor que Agnelo, vote Roriz. Mas votar em branco ou nulo é desacreditar na sua própria história, é ser niilista. É negar a importância de sua participação social, é ser negligente quanto ao resultado eleitoral. Vença Dilma, ou vença Serra, eu terei feito minha parte votando Serra. Vença Roriz ou vença Agnelo, eu terei feito minha parte votando em Agnelo. Faça você também sua parte. Qualquer que seja o resultado, o Brasil vai precisar de nosso trabalho, de nossa inteligência, de nossa dedicação e de nossa vigilância. Assim é a democracia. Pode ser até ruim, mas é um trabalho em construção de todos nós,ou como dizia Wiston Churchill “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.
Víva-a.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Política - O homem que destruirá a esquerda no Brasil

Do Estado de São Paulo Pág. 2 – 28/10/2010
Um Mito de Papel
Demétrio Magnoli
"Não me importo de ganhar presente atrasado. Eu quero que o Brasil me dê de presente a Dilma presidente do Brasil", conclamou Lula, do alto de um palanque, dias atrás. Não foi um gesto fortuito. Antes, a Executiva do PT definira a campanha "Dê a vitória de Dilma de presente a Lula". Aos 65 anos, a figura que deixa o Planalto cumpre uma antiga profecia do general Golbery do Couto e Silva. O "mago" da ditadura militar enxergara no sindicalista em ascensão o "homem que destruirá a esquerda no Brasil". Quando o PT trata a Presidência da República como uma oferenda pessoal, nada resta de aproveitável no maior partido de esquerda do País.
Lula vive a sua quarta encarnação. Ele foi o expoente do novo movimento sindical aos 30, o líder de um partido de massas aos 40, o presidente salvacionista aos 60. Agora, aos 65, virou mito. O mito, contudo, é feito de papel. Ele vive nos ensaios dos intelectuais que se rebaixam voluntariamente à condição de áulicos e nos artigos de jornalistas seduzidos pelas aparências ou atraídos pelas luzes do poder. Todavia ele só existe na consciência dos brasileiros como fenômeno marginal. Daqui a três dias, Lula pode até mesmo ficar sem seu almejado carrinho de rolimã. A mera existência da hipótese improvável de derrota de Dilma evidencia a natureza fraudulenta da mitificação que está em curso.
"É a economia, estúpido!", escreveu James Carville, o estrategista eleitoral de Bill Clinton, num cartaz pendurado na sede da campanha, em 1992. George H. Bush, o pai, disputava a reeleição cercado pela auréola do triunfo na primeira Guerra do Golfo, mas o país submergia na recessão. Clinton venceu, insistindo na tecla da economia. Por que Dilma não venceu no primeiro turno, se a economia avança em desabalada carreira, num ritmo alucinante propiciado pelo crédito farto e pelos fluxos especulativos de investimentos estrangeiros?
A pergunta deve ser esclarecida. Lula abordou a sua sucessão como uma campanha de reeleição. No Brasil, como na América Latina em geral, o instituto da reeleição tende a converter o Estado numa máquina partidária. A Presidência, os Ministérios, as empresas estatais e as centrais sindicais neopelegas foram mobilizadas para assegurar o triunfo da candidata oficial. Nessas condições, por que a "mulher de Lula", o pseudônimo do mito vivo, não conseguiu reproduzir as performances de Eduardo Campos, em Pernambuco, Jaques Wagner, na Bahia, Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, Antonio Anastasia, em Minas Gerais, ou Geraldo Alckmin, em São Paulo?
"Há três tipos de mentiras - mentiras, mentiras abomináveis e estatísticas", teria dito certa vez Benjamin Disraeli. Os institutos de pesquisa registram uma taxa de aprovação de Lula em torno de 80%. Cerca de dois terços da aprovação recordista se originam de indivíduos que conferem ao presidente a avaliação "bom", não "ótimo". Nesse grupo, uma maioria não votou na "mulher de Lula" no primeiro turno. Mas a produção intelectual do mito, a fim de fabricar uma "mentira abominável", opera exclusivamente com a taxa agregada. Há muito mais que ingenuidade no curioso procedimento.
As águas que confluem para o rio da mitificação de Lula partem de dois tributários principais, além de pequenas nascentes poluídas pelos patrocínios oriundos do Ministério da Verdade Oficial, de Franklin Martins. O primeiro tributário escorre pela vertente dos intelectuais de esquerda, que renunciaram às suas convicções básicas, abdicaram da meta de reformas estruturantes e desistiram de reivindicar a universalização efetiva dos direitos sociais. Eles retrocederam à trincheira de um antiamericanismo primitivo e, ecoando uma melodia tão antiga quanto anacrônica, celebram a imagem de um líder salvacionista que fala ao povo por cima das instituições da democracia. Nesse conjunto, uma corrente mais nostálgica, que se pretende realista, enxerga em Lula a derradeira boia de salvação para a ditadura castrista em Cuba. A Marilena Chaui pós-mensalão, transfigurada em porta-estandarte do "controle social da mídia", é a síntese possível do lulismo dos intelectuais.
"As pessoas ricas foram as que mais ganharam dinheiro no meu governo", urrou Lula num comício eleitoral em Belo Horizonte, pronunciando um diagnóstico inquestionável. O segundo tributário da mitificação desce da vertente de uma elite empresarial avessa à concorrência, que prospera no ecossistema de negócios configurado pelo BNDES e pelos fundos de pensão. Essa corrente identifica no lulismo o impulso de restauração de um modelo econômico fundado na aliança entre o Estado e o grande capital. Os empresários da Abimaq divulgaram um manifesto em defesa do BNDES, enquanto Eike Batista, um sócio do banco estatal, o cobria de elogios. Na noite do primeiro turno, os analistas financeiros quase vestiram luto fechado. Tais figuras, tanto quanto os controladores da Oi e os proprietários da Odebrecht, representam o lulismo da elite econômica.
O mito ficou nu no primeiro turno. Todos os indícios sugerem que o aguardado triunfo de Dilma foi frustrado exatamente por Lula - que, na sequência do escândalo de Erenice Guerra, afrontou a opinião pública ao investir contra a imprensa independente. "Nem sempre é a economia, estúpido!": os valores também contam. Naquele momento as curvas de tendências eleitorais se inverteram, expressando a resistência de mais de metade dos brasileiros ao lulismo. O jornalismo honesto deveria refletir sobre isso, antes de reproduzir as sentenças escritas pelos fabricantes de mitos.
Os mitos fundadores pertencem a um tempo anterior à História. No fundo, desde a difusão da escrita na Grécia do século 8.º a.C., só surgiram mitos de papel - isto é, frutos da obra política dos filósofos. Por definição, tais mitos estão sujeitos à desmitificação. Já é hora de submeter o mito de Lula a essa crítica esclarecedora.
SOCIÓLOGO, É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP. E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@TERRA.COM.BR

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro - Despedida

25/10/2010


Ary Ribeiro deixa de escrever neste blog. Esta é a última colaboração.
Este blog, seus leitores e o Zé vão sentir falta de suas colocações e sabedoria.
Esperamos que ele se sinta "convocado" a se tornar um colaborador eventual.
Em nome de meus leitores, eu lhe sou muito grato Ary.
Zé Ricardo


O PAPEL DO PMDB

Ary Ribeiro


Alea jacta est, a sorte está lançada, como disse Júlio César ao atravessar o Rubicão e levar seu exército para enfrentar o poder instalado em Roma.

Aqui também a sorte está lançada. Domingo os eleitores irão novamente às urnas para decidir o futuro próximo do País (e em alguns casos, de Estados também).

A crer-se nas pesquisas, não haverá surpresa: todas apontam vantagem de 10 a 12 pontos a favor da candidata Dilma Rousseff, diferença difícil de ser tirada em tão poucos dias. Mas não impossível. No primeiro turno já houve um “milagre”. Quem sabe, pode haver outro.

Qualquer que seja o resultado, há que ser respeitado. As urnas vão traduzir a vontade do povo, que erra e acerta, como é natural numa Democracia. E nem sempre aprende com os erros.

O povo já elegeu Jânio Quadros e Fernando Collor, se bem que nesse último caso, como a opção era Lula, não se pode dizer que tenha votado mal. Collor era o mais preparado e, postos de lado os fatos que levaram ao impeachment, fez coisas boas: abriu o País, obrigando a indústria nacional a modernizar-se; acabou com reservas de mercado; e iniciou o processo de privatização. E hoje é um dos grandes aliados de Lula e Dilma.

Apenas para raciocinar, imaginemos que as urnas confirmem as pesquisas. Como seria o governo Dilma Rousseff?

O País teria no governo alguém sem liderança própria. Dilma foi uma criação de Lula, e ele batalhou por ela sem se incomodar com os limites da decência política. Ela chegaria ao poder, assim, sem méritos políticos próprios. Lula a escolheu justamente para continuar mandando – um terceiro mandato de fato. Talvez até pensando em continuar usando o Aerolula e desfrutando de outras regalias do poder, inclusive em viagens ao exterior.

Tudo muito bem arquitetado e executado. O presidente jogou tudo no seu projeto, mandando às favas o respeito à dignidade do cargo. Uma coisa, porém, são os planos, os objetivos, outra a realidade, em política sujeita a mil variáveis.

Quem pode assegurar que Dilma, no governo, seria mera executante das ordens de Lula? Faria isso por gratidão? Em política, isso não existe. Além disso, seu temperamento forte, autoritário, seria avesso a esse tipo de interferência. E uma coisa é Lula presidente, com todo o poder de fato e de direito nas mãos, outra é Lula fora do poder, um ex-presidente.

O governo Dilma começaria, pois, com esse forte potencial de atrito. Mas há outros armados, a começar pelo PT. Ela não tem controle sobre ele. Até pouco antes do início do governo Lula, nem petista era. Estaria, portanto, à mercê de pressões do partido, onde despontam duas lideranças opostas: a de José Dirceu e a de Antonio Palocci. Dirceu já declarou que, com Dilma seria a vez do PT, dando a entender que sob Lula o partido não conseguiu se impor.

Outro atrito iminente estaria nas relações com os partidos aliados, principalmente o PMDB, que desta vez quer lugar privilegiado, de “sócio” no governo. Argumenta que das outras vezes aderiu ao governo, inclusive ao de Lula, pois embora o vice-presidente José Alencar tivesse saído de suas fileiras, ele fora escolhido não por essa condição, mas por ser respeitável empresário. Agora, não. Agora foi parceiro do PT desde a primeira hora, colocando inclusive seu presidente, Michel Temer, como vice na chapa de Dilma.

O PMDB, por sinal, estaria destinado a representar importante papel num futuro governo Dilma Rousseff. Por incrível que pareça, poderia ser o fator de equilíbrio, impedindo quaisquer investidas do governo contra as liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição.

Isso é o que mais se teme num governo petista. As intenções do partido, claramente expostas na primeira versão do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e no programa da candidata encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (por ela rubricado “sem ler”) e depois retirado, são de controlar a imprensa, a cultura e a educação.

O PMDB é sabidamente partido ávido pelo poder. Troca cargos por apoio. Esteve no governo Fernando Henrique e está no governo Lula. Mas é, na essência, partido conservador e que ainda guarda lembrança de suas lutas contra o regime militar e pela volta à Democracia. Pode-se esperar que a resistência a quaisquer medidas antidemocráticas comece pelo próprio Michel Temer.

Assim seja – se ela se eleger.


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DESPEDIDA

Com essas observações, encerro minha participação neste Blog. Agradeço ao Zé Ricardo por ter-me aberto este espaço, por meio do qual procurei lançar algumas luzes sobre a campanha eleitoral. Sem agressões, sem ofensas, sem dar curso a mentiras, tentei mostrar que José Serra é competente (comprovadamente competente), com muito mais experiência política e administrativa que Dilma Rousseff; que a eleição desta poderia representar risco para liberdades fundamentais; e que votar em Serra seria votar pela Democracia e por valores mais altos, como a ética na administração pública. Acredito ter feito o que pude. A decisão está com eleitor.

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P.S. - Parece que caminhamos para o "milagre". Circulam informações
de que o candidato a vice na chapa de Serra, Índio da Costa, tem em
mãos recente pesquisa feita por especialistas independentes da Unicamp
dando empate técnico entre Serra e Dilma. A julgar pelo mergulho de
Lula na campanha, a ponto de abandonar seus afazeres (?) no Palácio
do Planalto, sua candidata estaria mesmo correndo risco de uma
segunda e definitiva derrota (a primeira foi por não ter saído vitoriosa
no primeiro turno, como Lula esperava). Setores ligados ao PSDB, por
sua vez, estão cada vez mais confiantes. Estão certos de que a grande
maioria dos indecisos penderá para Serra. Se estão indecisos, é porque
não se deixaram levar pela lábia lulista e, se estão analisando as duas
candidaturas, não há dúvida de que optarão pela que apresenta a mais
longa e competente folha de serviços prestados ao País, além de conduta
exemplarmente ética na condução dos negócios públicos. Esses mesmos
setores estão certos também de que Itamar Franco, Aécio Neves e
Anastasia, em Minas, Alckmin, em São Paulo, e outras fortes lideranças
tucanas e do DEM no Sul e no Centro-Oeste do País conseguirão os votos
de que Serra precisa para alcançar a vitória.

Meio Ambiente - Gerar valor do lixo: nosso grande desafio

Retirado da Folha de São Paulo, 26/10/2010

Nosso grande desafio é sermos responsáveis pelo que produzimos. É vermos o planeta Terra como perene e viva, que necessita nosso cuidado para nos acolher como humanidade. Buscar identificar criação de valor na reciclagem e na sustentabilidade é o caminho para incentivar as sociedades a investirem na reciclagem. Parabéns Lula pela nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, que ela não seja do PT, nem do PSDB, mas que gere frutos para todos os brasileiros e sirva de exemplo para as outras nações do mundo.
Zé Ricardo


Coleta seletiva e reciclagem podem minimizar despesas de governo e de empresas privadas e gerar receita

ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enxergar o valor econômico do lixo pode ser a senha para a solução de um dos maiores problemas ambientais do século: a destinação adequada para os mais de 2,1 trilhões de toneladas de lixo gerados ao ano pelo homem.
É um mercado e tanto. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no país mais de R$ 8 bilhões em materiais recicláveis foram parar em aterros sanitários e lixões em 2009.
O que explica tamanha fortuna sendo, literalmente, jogada no lixo? De acordo com especialistas, há várias respostas. "O lixo, por sua própria natureza, nunca foi prioridade nas políticas públicas", explica o técnico do Ipea, Jorge Hargrave.
Uma realidade que se reflete nos contratos de concessão do municípios para a gestão do lixo. Focados no transporte e aterro, acabam estimulando as empresas a enterrar lixo sem preocupação com coleta seletiva.
"Muitos prefeitos falam que não há recursos para a coleta seletiva, e eles deveriam ver isso como oportunidade de reduzir gastos", diz o professor Sabetai Calderoni, do Instituto Ambiente Brasil.
Somente no município de São Paulo, segundo ele, mais de R$ 1 bilhão dos R$ 1,2 bilhão gastos ao ano com gestão do lixo poderiam ser economizados com coleta seletiva e reciclagem -menos gasto com transporte e aterros.
Já a atual distribuição dos ganhos com a reciclagem pode desestimular. "As prefeituras têm a maior parte dos custos da coleta, e os benefícios são difusos, incluem catadores e empresas transformadoras", relata Hargrave.

PARCERIAS
Como os contratos de concessão de limpeza urbana não refletem a perspectiva de aproveitamento econômico, algumas prefeituras usam as Parcerias Público-Privadas (PPPs) para a coleta seletiva.
"O uso das PPPs explica em boa parte o crescimento dos municípios que fazem coleta seletiva", diz Calderoni.
Dados do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) mostram que 443 cidades, 8% do total, hoje fazem coleta seletiva (em 26% a coleta é feita por empresas privadas). Em 2002 eram 192. Na outra ponta, há maior demanda por reciclados, que são insumos mais baratos.
Prova de que há um descompasso entre oferta e demanda, entre 2008 e 2009 as indústrias importaram quase R$ 500 milhões de "lixo limpo" (papelão, alumínio etc).
Nenhum estímulo promete ser mais forte para o avanço da economia do lixo no Brasil, no entanto, que a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em agosto pelo presidente Lula.
Com base no princípio de que resíduos geram valor e renda, a lei cria obrigações para governos e empresas que prometem mudar o modo como o lixo é tratado, estimulando a reciclagem e a exploração comercial do setor.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Política - Presidente Lula: UMA VERGONHA

O Presidente da República deixou de ser de todos os brasileiros (Brasil de todos) e passou a ser o presidente dos petitas. Uma vergonha, uma pena para nossa nação, um demérito para a Chefia da Nação.
Desmerece os que não pensam como ele, pede para o povo eliminar os opositores, fala que Deus se vinga de todos os que discordam dele. Em vez de repugnar os atos de violência contra a liberdade de movimentação e expressão dos candidatos, como ocorreu no Rio, onde os militantes do PT tumultuaram uma caminhada do grupo do Serra, resolve agredir verbalmente a candidatura do adversário. Que país sairá dessas eleições.
Nós somos uma só nação, mas o presidente insiste em falsamente (porque ele vive abraçado com banqueiros e industriais) em dividir-nos entre pobres e ricos, entre petistas e não petistas. Alegrei-me em 2002 pela eleição do Lula, hoje me envergonho e tenho medo da falsa consciência de luta de classes e da divisão do país insuflada pelo presidente da República.
Tenho pena de nós e de nosso país.
UMA VERGONHA.
Para quem quiser ver:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1360677-7823-PERITO+ANALISA+SUPOSTA+AGRESSAO+A+JOSE+SERRA+NO+RIO,00.html

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

18/10/2010

OPÇÃO PELA DEMOCRACIA

Ary Ribeiro

Aproxima-se a hora da decisão. No dia 31 não se optará apenas por quem vai fazer mais isto ou aquilo, quem vai fazer mais escolas técnicas, creches, policlínicas, estradas.

Não estará em causa somente escolher quem é melhor administrador, se Dilma Rousseff ou José Serra. Nesse quesito, por sinal, o último ganha de longe. Tem experiência comprovada e aprovada por sucessivas votações.

O que estará em jogo, no meu entender, são questões mais profundas, que dizem respeito a valores, à ética e à Democracia.

O PT foi criado tendo por bandeira justamente esses valores. Defendeu-os por muitos anos. Combatia ferozmente os desvios de conduta na administração pública, ganhando a simpatia da camada mais esclarecida da população.

Só não conseguia traduzir a simpatia em maior êxito eleitoral porque, por radicalismo, se opunha sistematicamente a todas as iniciativas do governo, não importando se eram boas ou não para o País.

Foi assim que, no governo Itamar Franco, combateu o Plano Real, arquitetado por Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda.

Boa parte do eleitorado de hoje não sabe o que representou o Plano Real, não sabe o que era uma inflação de 20% ao mês. Quem hoje tem um pouco menos de 30 anos de idade não viveu esse período, não sabe o que era entrar num supermercado e ver os preços dos produtos subindo (remarcados) à sua frente.

A inflação atingia principalmente os mais pobres. O salário chegava ao fim do mês valendo quase 20% menos. A classe média ainda podia salvar um pouco do valor do dinheiro ao recorrer ao mecanismo da correção monetária, ao chamado over night, que corrigia os valores, como o nome indica, de uma dia para outro.

Era um inferno. Collor achou que poderia, com apenas um tiro, matar o “dragão da inflação”. O tiro não passou de um traque, a não ser pelo efeito desastroso de haver bloqueado quase todo o dinheiro que as pessoas tinham em contas bancárias ou em aplicações financeiras. Sarney também tentou, recorrendo a congelamentos. Finalmente, Itamar teve a feliz inspiração de deslocar Fernando Henrique – contra a vontade deste – do Ministério das Relações Exteriores para o da Fazenda e ele reuniu uma competente equipe de economistas que soube encontrar a engenhosa solução do Plano Real.

A inflação, que por décadas, desafiava os governos, foi finalmente contida – contra o voto do PT, comandado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi o Plano Real que permitiu a ascensão social das classes mais pobres. Se hoje há tanta gente comprando carros, eletrodomésticos e eletrônicos, isso se deve muito mais à estabilização da moeda proporcionada pelo Plano Real que a medidas tomadas pelo atual governo.

O PT, sob a liderança de Lula, foi contra também à Lei da Responsabilidade Fiscal, que pôs fim à gastança irresponsável de governadores e prefeitos; foi contra o Proer, o programa de evitou a quebradeira geral de bancos e saneou o setor, contribuindo decisivamente para que, ao contrário do que ocorreu em quase todos os outros países, o sistema bancário brasileiro não fosse engolfado pela crise financeira mundial; foi contra as privatizações, graças às quais todos os brasileiros têm, hoje, acesso a telefones (antes, privilégio dos mais ricos), e empresas como a Vale e a Embraer tiveram enorme expansão, criando milhares de empregos e pagando vultosas somas em impostos.

Fernando Henrique tinha candidato à sua sucessão. Era José Serra. Mas comportou-se como presidente de todos os brasileiros, não indo às ruas em defesa do seu candidato. E depois, tendo sido este derrotado, fez exemplar transmissão do cargo.

É claro que, com todo o histórico de ferrenhos opositores das medidas saneadores da economia, Lula e seu PT suscitassem fundados receios com sua chegada ao poder. Esse temor produziu ligeiro abalo na estabilidade econômica do País, não se chegando, porém, ao caos a que a candidata Dilma recentemente aludiu. E tendo o ministro da Fazenda Antonio Palocci demonstrado que seriam mantidas as linhas básicas da política econômica herdada do governo Fernando Henrique, os temores foram afastados e o País rapidamente voltou à normalidade.

O PT, no poder, lançou fora a bandeira dos valores que defendera. Em nome da “governabilidade” aliou-se a partidos e políticos que antes classificava de “espúrios” e lançou mão de práticas condenáveis para garantir votos de deputados, a ponto de alguns de seus fundadores o terem abandonado pelo caminho, como é o caso do respeitável promotor público paulista Hélio Bicudo.

O PT nunca desistiu, porém, de outra marca de nascença: a vocação autoritária e o rançoso esquerdismo. Nunca se conformou realmente com a alternância democrática no poder. Foi contra o segundo mandato quando proposto por Fernando Henrique, mas, no poder, dele se aproveitou – e o presidente Lula ainda acalentou a possibilidade de ir para um terceiro. Não chegou a propô-lo abertamente por saber que quase certamente sofreria derrota, se não na Câmara dos Deputados, com certeza no Senado. Mas inventou a candidatura Dilma, imaginando que conseguiria elegê-la para, por seu intermédio, continuar mandando.

O PT nunca se conformou também com a liberdade de imprensa. Por mais de uma vez tentou pôr a imprensa “burguesa” sob controle. E aspira controlar igualmente a educação e a cultura. Tudo, em nome da “causa”. Suas intenções, seu verdadeiro programa, estão no texto inicial (posteriormente amenizado) do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos.

Então, o que se vai decidir, no dia 31, é se o País dará continuidade ao processo democrático, com a alternância no poder, ou se vai enveredar por um caminho que pode criar-lhe graves obstáculos.


MARINA, A INDEPENDENTE

Curiosa a posição da Marina Silva e do seu Partido Verde. Ela conhece bem o governo Lula e a ministra Dilma. Foram tantas as dificuldades que encontrou para poder pôr em prática seu programa ambientalista que acabou por demitir-se do cargo de Ministra do Meio Ambiente e por desligar-se até do PT. Não poderia, pois, por coerência, apoiar a candidatura Dilma. Mas poderia optar pela de Serra, pois, como assinala o professor José Goldemberg (USP), “as únicas medidas sérias tomadas no Brasil, nos últimos anos, para orientar o País na direção do desenvolvimento sustentável foram a aprovação de leis propostas pelo prefeito Gilberto Kassab, no município de São Paulo, e pelo ex-governador José Serra, no estado de São Paulo, que estabeleceram metas e prazos para reduzir as emissões de carbono (e outros poluentes) até o ano 2020”. “Essas leis – acrescenta – vão conduzir o País a uma economia de baixo carbono e não constituem um freio ao crescimento econômico, mas, ao contrário, levarão a uma modernização da indústria brasileira, o que aumentará sua competitividade no comércio internacional.”

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Política - Neutralidade Nunca

Eu concordo com o Humberto, ex-senador pelo estado do Paraná. Acredito que os líderes políticos não podem se ausentar entre duas opções ruins. Um vai governar o país e o Líder Político tem a responsabilidade de escolher caminhos. Sempre fazemos opções e nossos passos serão frutos destas opções. Na maior parte das vezes, quase sempre, temos que fazer escolhas entre opções que não são as nossas ideais, mas sempre temos que escolher. A não escolha é uma atitude covarde, é se ausentar. Nunca um líder político pode fazer isto. Aqueles que acreditam neles esperam uma indicação.

17/10/2010 - 13h58

Marina oficializa neutralidade para segundo turno ....

Sou o mais antigo filiado do PV no Brasil. Entendo que partidos políticos não podem ser neutros diante de fatos que irão determinar os caminhos políticos de uma nação. Seria como "pular fora da canoa" salvando somente sua forma de pensar e não participando do que irá ac ontecer nos próximos quatro anos. Luther King e Gandi puderam ser independentes pois deixaram seuS corpoS em holocausto. Partido político implica em atuação coletiva. Não se prestam individualmente. Eleições não se caracterizam como início de uma forma de pensamento , mas sim como continuidade de um processo já existente e concretizado em uma constituição. Neste caso o caminho precisa ter continuidade. Neutralidade seria "tanto faz Como tanto fez", e a NAÇÃO NÃO PODE SE SUBMETER A ISTO. O BRASIL ENCONTR-SE EM UMA ENCRUZILHADA DE CONFRONTO SOCIAL ( demonstrado na violência ) . Nosso confronto não é ideólogico, racial ou hambiental. É de EDUCAR E DISTRIBUIR RENDA PELO ACRESCIMO DE CAPACITAÇÃO. Erra quem tentar definir nossos próximos passos pelos detalhes de nossos programas partidários. O confronto pode ser "resolvido" em propostas heivadas de violência entre OS QUE TEM E OS QUE NÃO TEM, ou no CONGRESSO NACIONAL - ali esta a definição. ESTA É A QUESTÃO para todos os partidos politicos, incluindo o Meu PV. Hamilton Vilela de Magalhães

Francisco de Oliveira: privatização é com Lula

Para reflexão,
retirado do Blog do Noblat (publicado na Folha de São Paulo)

Sociólogo afirma que 'Lula é mais privatista que FHC'
Para Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT, é "ilusão de ótica" achar que o presidente é estatizante

Professor emérito de sociologia da USP diz que atual segundo turno obriga eleitor a escolher entre o "ruim e o pior"

Uirá Machado

No começo de 2003, ano em que rompeu com o PT, o sociólogo Francisco de Oliveira, 76, afirmou que "Lula nunca foi de esquerda".

Agora, o professor emérito da USP dá um passo adiante e diz que Lula, mais que Fernando Henrique Cardoso, é "privatista numa escala que o Brasil nunca conheceu".

Na entrevista abaixo, Oliveira, um dos fundadores do PT, também afirma que tanto faz votar em Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB).

Folha - Qual a sua avaliação sobre o debate eleitoral no primeiro turno?
Fora o horror que os tucanos têm pelos pobres, Serra e Dilma não têm posições radicalmente distintas: ambos são desenvolvimentistas, querem a industrialização...

O campo de conflito entre eles é realmente pequeno. Mas, por outro lado, isso significa que há problemas cruciais que nenhum dos dois está querendo abordar.

Que tipo de problema?
Não se trata mais de provar que a economia brasileira é viável. Isso já foi superado. O problema principal é a distribuição de renda, para valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família. Isso não foi abordado por nenhum dos dois.

A política está no Brasil num lugar onde ela não comove ninguém. Há um consenso muito raso e aparentemente sem discordâncias.

Dá a impressão que tanto faz votar em uma ou no outro...
É verdade. É escolher entre o ruim e o pior.

Qual a sua opinião sobre a movimentação de igrejas pregando um voto anti-Dilma por causa de suas posições sobre o aborto?
É um péssimo sinal, uma regressão. A sociedade brasileira necessita urgentemente de reformas, e a política está indo no sentido oposto, armando um falso consenso.

O aborto é uma questão séria de saúde pública. Não adianta recuar para atender evangélicos e setores da Igreja Católica. Isso não salva as mulheres das questões que o aborto coloca.

O sr. foi um dos primeiros a romper com o PT, em 2003, e saiu fazendo duras críticas ao presidente. Lula, porém, termina o mandato extremamente popular. Na sua opinião, que lugar o governo Lula vai ocupar na história?
A meu ver, no futuro, a gente lerá assim: Getúlio Vargas é o criador do moderno Estado brasileiro, sob todos os aspectos. Ele arma o Estado de todas as instituições capazes de criar um sistema econômico. E começa um processo de industrialização vigoroso. Lula não é comparável a Getúlio.

Juscelino Kubitschek é o que chuta a industrialização para a frente, mas ele não era um estadista no sentido de criar instituições.

A ditadura militar é fortemente industrialista, prossegue num caminho já aberto e usa o poder do Estado com uma desfaçatez que ninguém tinha usado. Depois vem um período de forte indefinição e inflação fora de controle.

O ciclo neoliberal é Fernando Henrique Cardoso e Lula. Só que Lula está levando o Brasil para um capitalismo que não tem volta. Todo mundo acha que ele é estatizante, mas é o contrário.

Como assim?
Lula é mais privatista que FHC. As grandes tendências vão se armando e ele usa o Estado para confirmá-las, não para negá-las. Nessa história futura, Lula será o grande confirmador do sistema.

Ele não é nada opositor ou estatizante. Isso é uma ilusão de ótica. Ao contrário, ele é privatista numa escala que o Brasil nunca conheceu.

Essa onda de fusões, concentrações e aquisições que o BNDES está patrocinando tem claro sentido privatista. Para o país, para a sociedade, para o cidadão, que bem faz que o Brasil tenha a maior empresa de carnes do mundo, por exemplo?

Em termos de estratégia de desenvolvimento, divisão de renda e melhoria de bem-estar da população, isso não quer dizer nada.

Em 2004, o sr. atribuiu a Lula a derrota de Marta na prefeitura. Como o sr. vê como cabo eleitoral de Dilma?
Ele acaba sendo um elemento negativo, mesmo com sua alta popularidade. O segundo turno foi um aviso. Essa ostensividade, essa chalaça, isso irrita profundamente a classe média.

É a coisa de desmoralizar o adversário, de rebaixar o debate. Lula sempre fez isso.

domingo, 17 de outubro de 2010

Poesia - Dualismo - Rosa Maria Soares Bugarin

Tia Rosa me deu de presente de aniversário (19 de setembro). em uma bonita moldura de pássaros. Disse-me que havia escrito antes, mas que, como poeta, sua obra era atemporal e que naquele dia sentia que tinha escrito para mim.
Muitos tem o privilégio de ganhar bens materiais. ^
Tia Rosa como sempre foi mais além.

Dualismo
Rosa Maria, Urbana, 14 de Novembro de 1996.

Não ser comum
e sofrer na diferença.
Sentir demais
e magoar-se na dureza.
Caminhar com os olhos para o alto
e tropeçar nas pedras do caminho.
Ensaiar um canto de vitória
e ser calado pela massa amorfa,
Tentar tocar estrelas luminosas
e mergulhar na terra dura e fria.
Querer subir, possuir o espaço pleno
e estar parado na limitação.
Ter o dom de falar e bem dizer
e estar só, sem ser ouvido por ninguém.
Possuir toda a luz dos dias lindos
e enegrecer na solidão das horas mortas.
É o dualismo de quem sendo brilho tem que andar, curvado, pelo chão.
É a angústia de quem possui o sol, Semente divina de esperança.
De quem viaja em cauda de cometa e passeia no esplendor do céu azul.
Mas, que o mundo atrai para mais baixo e a vida vai minando a resistência.
Abafando as palavras de delírio, Sufocando as benesses de infinito.
No dia-a-dia comum do ser mortal.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

11/10/2010
DILMA, A OUTRA FACE

Ary Ribeiro


Finalmente, ao menos a pequena parcela do eleitorado que permaneceu ligada na TV Band até quase à meia noite de ontem, domingo, pôde ver um pouco da outra face (a verdadeira) da candidata Dilma Rousseff.

Dilma, como a Lua, mantinha uma face oculta, fora das vistas do eleitorado. A candidata que andava por aí era só sorrisos. Uma versão marketeada do “paz e amor” da campanha do seu padrinho político.

Essa face não correspondia a tudo que se dizia do comportamento dela como ministra, que muitas vezes seria um tanto ríspida com auxiliares, jornalistas e até colegas de Ministério, a ponto de vários deles, após despacho com ela, irem se queixar ao presidente da República.

Ontem à noite, no primeiro debate entre os dois candidatos, na televisão, eis que surge uma Dilma diferente, agressiva, do começo ao fim, levando seu adversário, José Serra, a dizer-se “surpreendido”.

Seus marketeiros devem ter concluído que num debate mais tranqüilo, ela correria o risco de ser massacrada pela experiência e pelo preparo de Serra. Seria melhor, portanto, partir para acusações, dizendo-se vítima de calúnias, mentiras, “baixarias”, por parte de seguidores dele e, assim, colocá-lo na defensiva.

Serra resistiu bem, rebatendo as acusações sem se alterar. Insistiu em que só tem uma cara, não muda de opinião ao sabor de conveniências eleitorais. Citou declarações contraditórias da candidata a respeito do aborto e da crença em Deus. Afirmou não ter nada a esconder em sua vida, deixando no ar intrigante interrogação. E disse que a candidata e o PT é que dão margem ao surgimento do que classificam de “baixarias”, culpando adversários e a imprensa por isso. São os casos de violação de sigilos fiscais tucanos, da denúncia de tráfico de influência na gestão de Erenice Guerra – ex-mão direita da própria Dilma – na Chefia da Casa Civil da Presidência da República e, agora, da notícia sobre contratos superfaturados nos Correios.

Dilma até disse que “no próximo bloco” voltaria à questão da Erenice, mas não o fez. Ela, mais uma vez, como Lula fizera com Geraldo Alckmin, em 2006, levantou a questão das privatizações. Sem êxito, porém. Serra, preparado, defendeu-as. Se fosse pelo PT, segundo ele, não haveria esses milhões de telefone celular, o Brasil seria “o país dos orelhões”. Os fundos de pensão, em geral controlados por sindicalistas do PT, são donos de boa parte da Vale. O PT segue o ditado chileno: “predica, mas não pratica”. Nas campanhas eleitorais, fala contra a privatização, mas, no governo, privatiza, como fez com dois bancos estatais no Nordeste. E não desprivatizou nada.

Serra ainda foi mais além, ao dizer que vai, isto sim, “reestatizar” a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os Correios e o BNDES, que, segundo ele, foram loteados entre os partidos que apóiam o governo.

Serra ouviu a candidata dizer que, se eleita, vai fazer não sei quantos centros de saúde, não sei quantas escolas, não sei quantas creches, não sei quantas casas, não sei o que para coibir o tráfico de armas e de drogas. Perdeu a oportunidade de perguntar por que não fez isso nos quase oito anos que passou no governo. Todo mundo sabe que a educação, a saúde pública e a segurança pública, por exemplo, estão em situação mais do que calamitosa.

Enfim, esse primeiro debate serviu para os candidatos começarem a aparecer, para o eleitor, como realmente são.


NADA DEFINIDO

A última pesquisa do DataFolha revelou o que já se previa: o segundo turno é mesmo nova eleição e nada está decidido. Dilma está com 48 pontos e Serra com 41. A diferença entre ambos, que no primeiro turno era de 14,30% -- Dilma obteve 46,91% dos votos e Serra, 32,61% -- caiu para 7%.

Na verdade, a diferença pode ser menor, como demonstra José Roberto de Toledo, especialista em pesquisas eleitorais. Serra não precisa de mais 7% dos votos para vencer. Bastaria que 4% dos eleitores, em vez de votar na Dilma, votassem em Serra. Um eleitor que assim proceda produz efeito duplo: tira voto de um candidato e o transfere para outro.

É claro que a migração de votos pode ocorrer em sentido contrário, aumentando a votação da candidata oficial. Tem-se de aguardar a abertura das urnas. Por isso, até lá nada estará decidido. Ninguém poderá ficar cantando vitória antecipadamente, como havia acontecido no primeiro turno.


BRIGA NO ARRAIAL

Enquanto as coisas não se definem, as principais correntes no arraial governista vão desensarilhando as armas. Dentro do PT, são três os que se preparam para dominar o próximo governo: o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci (graças ao qual foram mantidas as linhas da política macroeconômica do governo Fernando Henrique, responsáveis pelos frutos colhidos pelo governo Lula), o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu (opositor daquela política) e, claro, Lula, que lançou uma candidata sem votos e à revelia do PT justamente para ter de fato um terceiro mandato. O PMDB, por sua vez, não se conforma em estar num segundo plano (abaixo do PT). Quer o lugar privilegiado de “sócio” do possível futuro governo, em igualdade de condições com o PT. E para complicar mais as coisas, o novo membro da coordenadoria da campanha de Dilma, Ciro Gomes, assumiu a função fazendo duríssimas críticas ao PMDB.

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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

04/10/2010



DERRAPADA DE DILMA

Ary Ribeiro


O que parecia quase impossível aconteceu: a candidatura Dilma Rousseff derrapou a poucos metros da chegada.

Para isso contribuíram certamente as denúncias envolvendo sua amiga e sucessora na chefia da Casa Civil, Erenice Guerra – que devem ter alarmado ao menos parte do eleitorado mais esclarecido –, a melhora registrada na campanha de José Serra (que parou de cair) e sobretudo o surpreendente desempenho da Marina Silva.

O fato é que a candidatura sofreu forte abalo. Por mais que seus partidários procurem disfarçar, é inegável a frustração que devem estar sentindo. Para quem estava certo de ganhar em primeiro turno, ir para o segundo não deixa de ter ligeiro sabor de derrota.

Podem dizer que o segundo turno será moleza, para quem obteve 46% dos votos válidos no primeiro. Bastariam apenas mais 4%. Em tese, sim. Mas em política as coisas não se passam assim.

O segundo turno será, sim, nova eleição. Para onde irão, por exemplo, os quase 20% dos votos dados a Marina Silva e mais alguns dos outros candidatos? Quem votou nela em função da causa ambientalista não terá razão para apoiar justamente a candidata que, quando no governo, se opunha às causas da Marina, a ponto de levá-la a demitir-se do cargo de Ministra e a desligar-se do próprio PT. E muitos dos que nela votaram, não pela causa, mas por ela mesma, por ter-se encantado com a sua singeleza, sinceridade e preparo, estariam, por isso mesmo, mais propensos a optar pelo candidato que se mostre mais experiente e qualificado para conduzir os destinos do País.

Agora, os dois candidatos – Dilma e Serra – irão se defrontar diretamente. Acabaram aqueles engessados e monótonos debates na TV, em que nada se debatia e a Dilma, para evitar confronto direto de ideias e programas, não fazia perguntas a Serra, preferindo o território mais ou menos neutro dos outros dois contendores: Marina Silva e a Plínio de Arruda Sampaio.

No confronto direto, os eleitores vão poder avaliar realmente as qualidades e as fraquezas de cada candidato. Serra terá oportunidade de demonstrar que se o País está bem, se diminuiu a pobreza, isto não foi realização do governo Lula e sim de governos anteriores, sobretudo de Itamar Franco e de Fernando Henrique. Eles plantaram o que Lula colheu. Mas o alarde que faz da colheita engana até respeitáveis jornais do exterior, como se vê pela edição de hoje do New York Times e do Le Monde. Mas não na do Financial Times, que realisticamente atribui a César o que é de César.

A propósito, muita gente está satisfeita com a situação por estar podendo comprar mais (ou simplesmente comprar) e, por isso, aprova o governo Lula. Mas e a saúde pública, a educação e a segurança pública não contam? Ou está satisfeita com o estado em que se encontram?

Lula anunciou que no segundo turno vai arregaçar as mangas – como se já não o tivesse feito no primeiro – para conseguir a vitória. Que mais pode fazer? A máquina já estava mobilizada. O peleguismo sindical também. Talvez só falte o MST.

Agora, o outro lado pode possivelmente contar com as lideranças regionais que, prudentemente, estiveram enrustidas no primeiro turno, receosas de ser arrazados pelo “efeito Lula”, como algumas o foram. É o caso, por exemplo, de Aécio Neves, que praticamente não apareceu na campanha de Serra, imaginando que isso talvez pudesse atrapalhar o que para ele era prioritário: reeleger o governador Anastásia e eleger a si próprio e a Itamar Franco para o Senado. Garantido isso no primeiro turno, com larga vantagem, está livre para se engajar para valer na campanha de Serra. Não somente ele, mas também o governador eleito Anastásia e o senador eleito Itamar Franco. Eles podem virar a votação em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País.

Em São Paulo, Geraldo Alkmin, eleito governador no primeiro turno, também está livre para fazer campanha não somente no Estado como também no País, pois como ex-candidato presidencial, é reconhecida liderança nacional.

Podem juntar-se também à campanha outras lideranças, como a governadora eleita e o senador reeleito do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini e Agripino Maia, ambos do DEM; o tucano Beto Richa, governador eleito do Paraná; o governador eleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM); e até mesmo o tucano Arthur Virgílio, que, apesar de derrotado no Amazonas pelas poderosas forças que se juntaram contra ele, é reconhecidamente um líder nacional, com grande número de admiradores em todo o País.

Resta saber se finalmente a Oposição vai se unir ou se seus principais líderes vão continuar cada um para seu lado. E também se a campanha de Serra terá a inflexão reclamada por tanta gente, até dentro das próprias fileiras tucanas.


DF: DIFÍCIL OPÇÃO

Brasília está diante de difícil opção: de um lado, a candidata que representa o velho grupo que ostenta realizações – inclusive a Ponte JK – mas é alvo de denúncias de corrupção e criticado pelo inchaço do Distrito Federal; de outro, o candidato do esquema que também tem sido alvo de denúncias de corrupção – como os casos do mensalão e, recentemente, do que ocorreu na Casa Civil da Presidência da República – e apresenta traços de autoritarismo – inclusive controle da imprensa – em seu projeto de governo. Qual o mal menor? É a questão.


EFEITO TIRIRICA

Quem sabe se a eleição do Palhaço Tiririca a deputado federal por São Paulo, com mais de um milhão de votos, não terá o efeito útil de levar o Congresso, finalmente, a fazer a tão falada reforma política? Não se pode continuar com um sistema eleitoral que estimula candidaturas, digamos exóticas, para atrair avalanches de votos e, com estes, graças à soma e divisão que se faz, por legendas, eleger mais três ou quatro candidatos quase desconhecidos dos eleitores. Muitos votam nesse tipo de candidato em sinal de protesto ou por achar engraçado. Depois ficam reclamando do Congresso. Pior não fica; fica sim! Os votos no rinoceronte Cacareco foram também de protesto, mas ao menos não ajudaram a eleger outros candidatos.
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