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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

27/09/2010



RETA FINAL

Ary Ribeiro


A corrida presidencial entra esta semana na reta final, com Dilma Rousseff bem à frente, segundo as pesquisas, podendo a disputa encerrar-se no próprio domingo.

A esperança dos oposicionistas repousa quase que em algum possível milagre, uma súbida falta de combustível ou um furo de pneu, como às vezes ocorre em corridas de automóveis, fazendo com que o carro perca a velocidade e não chegue muito à frente dos outros.

Em outras palavras: a esperança é de que Dilma, nesta semana, tenha algum tropeço, perca alguns pontos e Serra e Marina subam um pouco, levando, assim, a decisão para segundo turno.

A esperança soa remota. Para Dilma, resta apenas o obstáculo final, que é o debate na TV Globo, marcado para quinta-feira. Foi num debate na mesma emissora que Collor arrasou com a candidatura Lula. Mas eram apenas os dois, num confronto direto.

Há quem acredite que Serra guarda na manga do paletó alguma carta decisiva, capaz de virar o jogo, pois sua campanha, até aqui, não fez jus à experiência política de quem já foi presidente da UNE, deputado federal, ministro duas vezes (com brilhantismo), candidato à Presidência da República, prefeito da capital paulista e governador do mais importante Estado da Federação.

Dadas, porém, as rígidas regras estabelecidas pelas televisões – que não permitem verdadeiros debates – e sobretudo a insistência de Serra em apresentar-se como uma segunda situação, sempre preservando Lula, parece pouco provável que o debate altere as tendências até aqui observadas.

Parece incrível que a campanha de Serra não tenha explorado a denúncia de tráfico de influência na Casa Civil da Presidência da República, envolvendo Erenice Guerra, braço direito de Dilma.

Vale reproduzir trecho de artigo de hoje de Denis Lerrer Rosenfield, publicado no Estadão: “A oposição não agiu enquanto tal, salvo, agora, de forma atabalhoada, quando a derrota se vislumbra no horizonte imediato. Uma oposição digna desse nome deveria ter apresentado propostas, mostrado o seu contraste com o governo, expondo o que fez no passado e sugerindo medidas alternativas. Não deveria ter-se escondido enquanto oposição, fingindo ser uma outra forma da situação.
A oposição tucana alçou Lula a um pedestal, como se ele estivesse acima do bem e do mal. Colocou-se, numa espécie de servidão voluntária, na posição de continuação do atual governo, interditando-se qualquer crítica ao atual mandatário. A chiadeira atual de que ele está ameaçando as instituições nada mais é do que o resultado de sua incompetência, o fruto desse reconhecimento preliminar de que a condenação do atual governo não deveria fazer parte de sua agenda política. É o estertor de uma política que não deu certo!”
O venezuelano Hugo Chávez está, por isso, otimista quanto ao resultado das eleições no Brasil. Não tem dúvida de que seu “irmão Lula” sairá vitorioso. Segundo a imprensa, há duas semanas, em entrevista à TV estatal, ele recomendou aos venezuelanos aprender a pronunciar o nome de Dilma Rousseff, a quem qualificou de "uma grande mulher, uma revolucionária".
A perspectiva de vitória de Dilma, acrescida dos constantes ataques de Lula à imprensa e de nova ação de juízes contra a liberdade de expressão – desta vez, juízes do Tocantins – tem deixado apreensivos setores democráticos do País. Na semana passada, personalidade do mundo intelectual, jurídico, artístico e religioso lançaram manifesto, em São Paulo, em defesa da Democracia.
Segue trecho do principal editorial da edição de ontem, domingo, do jornal O Estado de S.Paulo: “A acusação do presidente da República de que a Imprensa ‘se comporta como um partido político’ é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre ‘se comportar como um partido político’ e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente, não bastasse o embuste do ‘nunca antes’, agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.”

FICHA LIMPA
O resultado do julgamento da Lei da Ficha Limpa, no Supremo Tribunal Federal, era esperado. Sabia-se que o Tribunal estava dividido, meio a meio. A surpresa foi não ter havido conclusão. Esperava-se que o presidente, com o Voto de Minerva, desempatasse o julgamento ou que, com base em outro dispositivo regimental, se declarasse rejeitado o recurso e, portanto, válida a Lei.
Como havia observado em comentário anterior, havia e há fundamentados argumentos jurídicos para sustentar a posição num sentido ou noutro. Mas o fato é que um lado – a validade e a imediata aplicação da Lei – vai ao encontro do que as pessoas mais bem informadas esperam da vida pública brasileira, e o outro mantém por mais tempo os maus costumes de hoje.
Com todo o respeito pelos que votaram de forma diferente, não se tratava de sujeitar o julgamento ao que “o povo quer”, pelo fato de a Lei da Ficha Limpa ter-se originado de iniciativa popular. Estava em jogo o princípio da moralidade na administração pública, consagrado pela Constituição.
De qualquer modo, o resultado foi positivo porque, não tendo havido decisão, a Lei da Ficha Limpa continua em vigor. E mais: foi considerada constitucional. Ficou afastada a objeção quanto à alteração verbal feita pelo Senado. Só falta decidir se a Lei se aplica já ao pleito deste ano ou se é aplicável apenas aos que venham a realizar-se um ano após a vigência da Lei, e se pode retroagir a fatos passados.
Houve, de qualquer modo, um avanço.

ESTILO LULA

O estilo mitingueiro do presidente Lula já contagiou a maioria das agências de publicidade e vai se espraindo por outros setores. Quase não há mais anúncios na televisão em que não apareça um sujeito gritando as excelências de algum produto, desde fogão e geladeira até automóvel. O anunciante parece estar num palanque, falando das obras do PAC: quer, pelo artificial entusiasmo tonitruante, convencer o público de que o produto e os preços são os melhores possíveis.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Política - Vitória de nossa Democracia.

Acho que o empate foi uma vitória.
Trouxe um grante alento para aqueles que desejam um país melhor, uma política LIMPA.
Mostrou que mesmo os "Deuses" estão em dúvida.
Mostrou que parte de nossos ministros estão acima do detalhe da Lei e buscam realmente a JUSTIÇA.
Vitória do Ficha Limpa.
Como cidadão, quero agradecer aos Ministros
Ricardo Lewandowski, Carlos Aires Brito, Carmem Lúcia, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa, o Brasil hoje está maior está maior graças ao posicionamento de vocês.
Que não seja em vão a iniciativa popular do ficha limpa, que não seja em vão a fé em um mundo melhor e em uma representação digna.
Que não seja em vão a coragem deste grupo de JUIZES.
Zé Ricardo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ficha Lima no Supremo

Estamos todos desejosos que o Supremo Tribunal Federal vote a favor da Lei de Ficha Limpa. Não é contra o ex-governador Roriz, não é contra Paulo Maluf, não há nada de pessoal neste anseio. É pelo futuro do Brasil, o futuro da representação política deste país, pelo futuro de nossa democracia.
Hoje o relator do processo, Ministro Aires Brito deu um alento à sociedade Brasileira.
Ele disse que a Constituição do Brasil prevê a moralidade e a probidade dos candidatos e assim ele entende que estão englobados entre o desejo constitucional a definição da lei de Ficha Limpa. “Como exigir que essas regras tenham data para valer? Perguntou o ministro em seu parecer. “A probidade pode esperar”?
Quanto ao fato de Joaquim Roriz ter renunciado antes da aprovação da Lei, o ministro disse: “O risco de o renunciante, para evitar cassação, ter sua renúncia como causa de inelegibilidade era previsto no texto da carta magna. A renúncia não tem o poder de imunizar o renunciante da inelegibilidade”.
Obrigado Ministro Aires Brito. Precisamos mais pessoas como vossa excelência no Supremo, no Congresso e no Executivo.
O Brasil pede FICHA LIMA para seus representantes. Pedimos ao Supremo não se agarrar na formalidade dos processos legais, mas julgar de acordo com o anseio dos brasileiros (mais de 85% são favoráveis à lei, segundo o Ibope). E mais ajudem sim a fortalecer o estado de direito neste país, garantido a exigência da probidade administrativa e moral dos eleitos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

20/09/2010


DIVISÃO DO PODER
Ary Ribeiro

Por enquanto, Dilma Rousseff está eleita apenas pelos institutos de pesquisa. Mesmo que as pesquisas estejam corretas, elas refletem o quadro do momento, quadro que ainda poderia ser alterado, embora falte muito pouco tempo para isso. Se houvesse, no País, um sentimento de indignação diante da revelação do que ocorria na Casa Civil da Presidência da República, podia-se esperar por alguma reviravolta. Mas não se percebe esse sentimento.

O que tem vindo a público é de estarrecer. Muitos simpatizantes do lulapetismo dão de ombros, dizendo que isso sempre existiu, em todos os governos. Não é verdade. Corrupção, sim, sempre existiu. Não, porém, com tal desenvoltura, de forma tão transparente, para usar expressão muito a gosto, inclusive de ocupantes do poder. Um funcionário, Vinícius de Oliveira Castro, segundo a revista Veja, chegou um dia para trabalhar, abriu a gaveta de sua mesa e deparou com um envelope, dentro do qual estavam R$ 200 mil em dinheiro vivo, “um presentinho da turma responsável pela usina de corrupção”. Isto, a poucos metros das salas da ministra, que ainda era Dilma Rousseff, e de sua mão direita, Erenice Guerra, que ela deixou em seu lugar quando se desincompatibilizou para concorrer à eleição.

Quando surgiram as primeiras denúncias, atingindo a então ministra Erenice Guerra, o Palácio do Planalto reagiu como se previa: passou o caso para o Conselho de Ética Pública. Era uma forma de dar aparente satisfação ao País e encerrar o assunto. A imprensa, contudo, agindo com a costumeira liberdade investigativa – que tanto desagrada os ocupantes do poder – descobriu que havia coisas mais graves, envolvendo vários membros da família da ministra. O governo, percebendo que o fogo poderia chamuscar a candidata oficial, não teve outro jeito senão livrar-se da ministra, acolhendo a carta de demissão que ela encaminhou ao presidente da República.

As primeiras denúncias não abalaram a posição de Dilma Rousseff nas pesquisas. Pode ser que os fatos novos – apesar de explorados apenas timidamente pela campanha de José Serra – produzam algum efeito, o que, no entanto, é pouco provável.

Por isso, começa a desenhar-se, cada vez mais forte, a disputa pelos cargos e posições no que acreditam seria o futuro governo Dilma Rousseff. Há menos de um mês, o PMDB deixou claro que desta vez não será mero aliado, mas coadjuvante. Não se contentará com algumas pasta. Como principal partido da coligação, ao lado do PT, quer compartilhar o governo com este em pé de igualdade, meio a meio, participando inclusive de postos dentro do Palácio do Planalto e da chamada “reunião das 9”, aquela em que se passa em revista, com o presidente, os acontecimentos políticos, econômicos e administrativos das últimas horas e se discutem medidas a tomar. Agora, é o PT que põe as mangas à mostra. Em palestra para sindicalistas, na Bahia, na semana passada, José Dirceu foi muito claro: “A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa.” Pode-se inferir dessas palavras que Lula não foi bem um representante do PT, não executou o projeto político do partido. Com Dilma, será diferente. Com Lula fora do poder, o partido poderá pôr em prática seu projeto, que inclui, entre outras coisas, o controle da liberdade de imprensa.

Neste fim de semana, o próprio PT foi além: deu o que popularmente se diz “um chega p’ra lá” nas pretensões do PMDB. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o partido quer um governo de maioria petista, com prerrogativa de indicar os ministros mais importantes, como os da Fazenda, Educação, Saúde e Casa Civil, além dos presidentes do Banco Central e das megaestatais Petrobrás e Petro-Sal. Quer ainda o comando da Câmara, para garantir um petista como segundo na linha sucessória do Planalto – o primeiro é o vice-presidente, que no caso da vitória de Dilma seria Michel Temer, do PMDB.
Parafraseando a conhecida pergunta atribuída a Garrincha, depois de ouvir a preleção do técnico sobre como jogar para derrotar a Seleção russa: o PT e o PMDB já combinaram isso com Lula e Dilma? Porque Lula escolheu Dilma e a impôs ao partido para continuar ele próprio governando. A candidata é Lula com o nome de Dilma. Seria o terceiro mandato, exercido por interposta pessoa. Portanto, as coisas não seriam bem como José Dirceu está pensando. A vitória seria mais uma vez de Lula e não do PT, não havendo nenhuma garantia de execução do programa partidário. Depois, de fato e de direito, Dilma é que seria a presidente da República. Ela é que assinaria as nomeações, ela é que passaria à História como governante do Brasil. Será que iria obedecer cegamente às ordens de Lula? Não haveria de querer montar o governo a seu modo? Será que não se rebelaria contra o criador, como sempre acontece? Uma coisa é Lula com o dito carisma, mas sobretudo rodeado de bajuladores e com a caneta e meios de sedução e coerção nas mãos, outra é Lula fora do poder, quando até o carisma costuma bater asas...

FICHA LIMPA
O Supremo Tribunal Federal estará bem à vontade para, esta semana, decidir se a Lei da Ficha Limpa vale ou não para estas eleições e se é aplicável a situações passadas. Há sólidos argumentos jurídicos tanto num sentido quanto no outro. O Supremo poderia então decidir pela imediata aplicação da Lei, porque assim estaria fazendo o que o povo quer. Mas qual o povo que quer a Ficha Limpa? Aqueles poucos milhões que assinaram o projeto de lei ou a imensa maioria que não está nem aí para a quebra de sigilos fiscais na Receita Federal nem para as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil da Presidência da República?
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domingo, 19 de setembro de 2010

'Nós somos a opinião pública'

Rodrigo Alvares, do estadão.com.br

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a fazer críticas contundentes à imprensa e à oposição durante comício realizado na tarde deste sábado, em Campinas (SP).

"Tem dias em que alguns setores da imprensa são uma vergonha. Os donos de jornais deviam ter vergonha. Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos. Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública", afirmou.

Lembra Luis IV "L'État c'est moi" 300 anos atrás, no auge do absolutismo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nuvens cinzentas no Céu do Brasil

Na Receita Federal os dados sigilosos dos cidadãos que sustentam o Brasil são violados livremente.
Em Santa Catarina o Presidente diz que tem que EXTIRPAR (erradicar) um partido porque ele fez oposição a ele votando contra um de seus projetos.
Na Bahia, um dos líderes mais influentes do próximo governo (José Dirceu) diz que a imprensa tem muita liberdade.
Nós queremos uma sociedade mais justa. Mas não a custa de nossa liberdade de pensar diferente.
Para onde estamos nos dirigindo. Lutamos tanto para livrar-nos e a nossos filhos da ditadura militar, para termos o direito de expor nossas idéias, o direito de discordar. A tão sonhada liberdade.
E agora parece que estamos caminhando para um AUTORITARISMO, talvez mais perene e ferino que os anos entre 1964 e 1984.
Se todos que pensam diferente do governando forem erradicados, se a imprensa for silenciada, se nossa privacidade for invadida pelos orgãos do governo e divulgadas para nos destruir. A mentira vai imperar. O medo vai nos corroer. Nossa capacidade de amar estará comprometida
Que sociedade estamos construindo?
Estamos de olhos fechados?
Hoje o problema é com o vizinho, que não pensa como nós, não reclamamos.
Amanha será com nós. Não vamos poder reclamar mais.
Lembrem-se dos líderes das Revoluções Francesa e Russa que foram perseguidos e guilhotinados por discordar de alguma decisão de seus companheiros em momento futuro.
HELP!.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

13/09/2010


RAZÕES DO “EFEITO TEFLON”

Ary Ribeiro


Primeiro foram as denúncias de quebra do sigilo fiscal do vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, de outros tucanos e de pessoas da família do candidato José Serra. Fato grave, por indicar que, com intuito obviamente político-partidário, funcionários de um órgão da respeitabilidade da Receita Federal, órgão de Estado e não de governo, estavam acessando indevidamente dados fiscais de adversários políticos e violando um direito constitucional.

A candidata oficial apressou-se em dizer que nada teve a ver com isso, embora sua campanha pudesse ser a beneficiária da vinda a público de alguma coisa errada que eventualmente se descobrisse nos dados. E a reação do governo foi ainda mais desconcertante, ao procurar demonstrar que havia certo “mercantilismo” à solta numa repartição da Receita situada no ABC paulista. Ou seja, haveria um esquema de acesso e venda de dados fiscais. Nada a ver com objetivo político...

Agora surgem outras denúncias, envolvendo a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, mão direita de Dilma Rousseff desde os tempos em que ela foi ministra de Minas e Energia. Dilma a levou para a Casa Civil e, quando saiu para disputar a eleição, deixou-a em seu lugar, promovida a ministra. Segundo a revista Veja desta semana, um filho de Erenice, Israel Guerra, estaria fazendo lobby, no governo, em benefício de empresários. Hoje, o jornal O Estado de S.Paulo diz que uma irmã de Erenice, Maria Euriza Alves Carvalho, consultora jurídica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério das Minas e Energia, autorizou a contratação, sem licitação, em setembro do ano passado, do escritório Trajano e Silva Advogados, onde trabalha Antonio Alves Carvalho, outro irmão dela e da ministra. Esse escritório, por sinal, segundo o mesmo jornal, seria utilizado pelo filho da ministra para as suas atividades lobísticas.

O que será que vai acontecer? À vista de alguns precedentes, nada. A ministra e o governo certamente vão dizer que tudo não passa de “campanha eleitoral” da oposição, são “invenções” das “zelites” encasteladas na grande mídia, para tentar atingir a candidatura Dilma. E ficará tudo por isso mesmo. Quando muito vão pedir à Comissão de Ética Pública do governo que apure o caso. (Havia acabado de escrever isto, quando veio a notícia de que essa foi mesmo a providência tomada.) E a candidatura oficial é capaz até de subir mais alguns pontos nas pesquisas eleitorais. Nada atinge a aprovação popular do “mito” Lula e, por extensão, a intenção de voto na candidata que escolheu para representá-lo nestas eleições.

Qual a explicação para esse “efeito teflon”, que funcionou tão bem no caso do mensalão e em outros episódios? Talvez possa ser buscada no despreparo de grande parte do eleitorado. Quando da proclamação da República, há pouco mais de 120 anos, 80% dos brasileiros eram analfabetos. De lá para cá, o número caiu muito, mas o grau de instrução continua péssimo. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, 8 milhões de eleitores são analfabetos, 19 milhões têm “alfabetização rudimentar” (não frequentaram escolas) e 73,3 milhões (58,26% do total) não completaram o ensino fundamental. Há 46 milhões de “analfabetos funcionais”, que conseguem identificar as letras, mas não têm capacidade para compreender e interpretar textos.

O resultado disso se viu em recente pesquisa do Ibope sobre intenção de voto para deputado federal. Em São Paulo, onde se acredita estar um dos eleitorados mais politizados do País, houve quem citasse Serra, Fernando Henrique, Marina Silva, Alckmin, Mercadante e até o falecido Mário Covas... Apenas 12% dos paulistas foram capazes de indicar em quem votarão para deputado federal. É por isso que o palhaço Tiririca poderá chegar à Câmara dos Deputados com a maior votação do País; e o cantor Netinho de Paula – também de São Paulo – ao Senado. E não o serão como resultado de votos de protesto, como foi o caso do rinoceronte Cacareco e talvez também do folclórico cacique Juruna, que andava com um gravador para registrar promessas (que não seriam cumpridas) de autoridades com que se avistava.

Todos esses milhões de pessoas votam e avaliam o presidente e o governo nas pesquisas eleitorais.

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

Expectationalmente, por motivos de força maior do editor deste blog, a Coluna do Ary só está sendo publicada na quinta-feira.


06/09/2010

O “ORGANISMO” DE LULA
Ary Ribeiro


Parece cada vez mais difícil, faltando menos de um mês para as eleições, uma alteração no panorama eleitoral desenhado pelos institutos de pesquisa.

Falam em manipulação de pesquisas. Há até estudos técnicos demonstrando que alguns dos institutos procuraram ouvir eleitores de municípios comandados pelo PT. Mas até pesquisas encomendadas ao Ibope pelos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo – que estão longe de ter simpatias pela candidata de Lula – não discreparam dos resultados apresentados por outros institutos.

O fato mais animador para a oposição foi a verificação, pela pesquisa do Ibope, na semana passada, de que Dilma parou de subir e Serra, de descer. A diferença entre ambos, entretanto, continua muito grande. A última esperança é de que algum fato novo leve os indecisos a optar por Serra, provocando, assim, um segundo turno, quando então os dois principais candidatos poderiam confrontar-se mais diretamente e em condições mais ou menos iguais.

O vazamento de dados da Receita relativos a dirigentes do PSDB, inclusive a filha de José Serra, é fato novo e grave. Mas quanto por cento do eleitorado sabe exatamente o que isso significa? Certamente, apenas pequena parcela da faixa mais instruída. E mesmo dentro dessa faixa, muitos estão dando de ombros para essas notícias.

A imensa maioria dos brasileiros parece anestesiada. Perdeu a capacidade de indignação. Longe vão os tempos em que a denúncia de estar o governo (de Getúlio Vargas) ajudando um jornalista (Samuel Wainer) a montar uma rede nacional de jornais desencadeava uma revolta no País. Nem é preciso recuar tanto no tempo. É recente a saída às ruas dos “caras pintadas” exigindo o impeachment de Fernando Collor. Agora, tudo parece “normal”: mensalão, caixa 2, dinheiro na cueca, “aloprados” apreendidos com R$ 1,7 milhão – dinheiro de origem até hoje desconhecida – para a compra de falso dossiê a ser usado, nas eleições de 2006, contra a candidatura – veja-se – de Serra ao governo de São Paulo. Parece perfeitamente normal também um presidente da República participar de campanha eleitoral, discursar em comícios e falar pelo rádio e televisão, pedindo votos para a sua candidata. Para a grande maioria, “é assim mesmo”, como observou o ex-presidente Fernando Henrique.

Há poucos dias – 28 de agosto – num comício, em Recife, o presidente Lula criticou o Senado. Disse que ele o fez “sofrer”, crítica de resto não justificável, porque, apesar de não ter maioria folgada na Casa, esta aprovou e aprova praticamente tudo o que ele quis ou quer. A derrubada da CPMF foi quase a única exceção.
Depois de fazer a crítica, Lula anunciou (O Globo): “Não pensem que quando deixar o governo, vou deixar a política. Vocês vão me ver andando por esse país. Vou continuar construindo a nossa organização política. Penso em criar um organismo muito forte, juntando todas essas forças que nos apoiam, para que nunca mais a gente possa permitir que um presidente sofra o que eu sofri com um Senado que quase derrubou um presidente da República.”
Que “organismo forte” será esse? Qual será a sua composição? O objetivo já se sabe: constranger uma instituição democrática, o Senado Federal, para que um presidente – naturalmente Dilma e não qualquer presidente – não “sofra” o que ele, Lula, “sofreu”. Vindo de um presidente da República, é afirmação grave. Em outros tempos, suscitaria forte reação no País. No entanto, passou mais ou menos batida até mesmo nos setores da imprensa que ainda criticam o presidente.
Sábado, em outro comício de apoio a Dilma, em Guarulhos-SP, o presidente se permitiu fazer até deboche com a quebra de sigilo de oposicionistas em repartição da Receita Federal. “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê esse vazamento? Mentira tem perna curta." Até agora não apareceu reação.
Aquele amigo de Hamlet diria que “há algo de podre no Reino da Dinamarca”. Mas aqui não é a Dinamarca... Nem há Shakespeares por estas plagas.

COMPUTADOR “INTELIGENTE”
A propósito do vazamento de dados do vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, ocorrido na agência da Receita Federal, em Mauá-SP, a servidora Adeildda Leão dos Santos – sobre a qual recaem suspeitas – divulgou nota (segundo o jornal O Estado de S.Paulo) dizendo que a senha de seu computador era de fácil acesso: estava na agenda que ficava em cima de sua mesa. Não via problema na possibilidade de colegas a usarem. Muitas vezes, chegava de manhã e encontrava seu computador ligado, embora o tivesse desligado ao sair, na véspera. Seus colegas diziam que “o computador ligava sozinho”. Ela comunicou o fato à Corregedoria da Receita e “o corregedor disse que isso é normal". Deve ser computador de geração novíssima, que liga sozinho e vai ver que sozinho também busca dados de dirigentes de partidos da oposição...

NO DF, UMA “ESCOLHA DE SOFIA”

No Distrito Federal, estamos diante de uma “escolha de Sofia” às avessas. No livro e filme nele inspirado fala-se de uma polonesa, Sofia, à qual os nazistas propuseram escolher qual dos dois filhos – um menino e uma menina – seria morto. Se ela não indicasse nenhum, ambos morreriam. Aqui em Brasília, conforme as pesquisas, a escolha real está entre um candidato impugnado pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa e outro recomendado por Lula e Dilma. Qual dos dois não gostaríamos de ver eleito?

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