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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

13/09/2010


RAZÕES DO “EFEITO TEFLON”

Ary Ribeiro


Primeiro foram as denúncias de quebra do sigilo fiscal do vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, de outros tucanos e de pessoas da família do candidato José Serra. Fato grave, por indicar que, com intuito obviamente político-partidário, funcionários de um órgão da respeitabilidade da Receita Federal, órgão de Estado e não de governo, estavam acessando indevidamente dados fiscais de adversários políticos e violando um direito constitucional.

A candidata oficial apressou-se em dizer que nada teve a ver com isso, embora sua campanha pudesse ser a beneficiária da vinda a público de alguma coisa errada que eventualmente se descobrisse nos dados. E a reação do governo foi ainda mais desconcertante, ao procurar demonstrar que havia certo “mercantilismo” à solta numa repartição da Receita situada no ABC paulista. Ou seja, haveria um esquema de acesso e venda de dados fiscais. Nada a ver com objetivo político...

Agora surgem outras denúncias, envolvendo a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, mão direita de Dilma Rousseff desde os tempos em que ela foi ministra de Minas e Energia. Dilma a levou para a Casa Civil e, quando saiu para disputar a eleição, deixou-a em seu lugar, promovida a ministra. Segundo a revista Veja desta semana, um filho de Erenice, Israel Guerra, estaria fazendo lobby, no governo, em benefício de empresários. Hoje, o jornal O Estado de S.Paulo diz que uma irmã de Erenice, Maria Euriza Alves Carvalho, consultora jurídica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério das Minas e Energia, autorizou a contratação, sem licitação, em setembro do ano passado, do escritório Trajano e Silva Advogados, onde trabalha Antonio Alves Carvalho, outro irmão dela e da ministra. Esse escritório, por sinal, segundo o mesmo jornal, seria utilizado pelo filho da ministra para as suas atividades lobísticas.

O que será que vai acontecer? À vista de alguns precedentes, nada. A ministra e o governo certamente vão dizer que tudo não passa de “campanha eleitoral” da oposição, são “invenções” das “zelites” encasteladas na grande mídia, para tentar atingir a candidatura Dilma. E ficará tudo por isso mesmo. Quando muito vão pedir à Comissão de Ética Pública do governo que apure o caso. (Havia acabado de escrever isto, quando veio a notícia de que essa foi mesmo a providência tomada.) E a candidatura oficial é capaz até de subir mais alguns pontos nas pesquisas eleitorais. Nada atinge a aprovação popular do “mito” Lula e, por extensão, a intenção de voto na candidata que escolheu para representá-lo nestas eleições.

Qual a explicação para esse “efeito teflon”, que funcionou tão bem no caso do mensalão e em outros episódios? Talvez possa ser buscada no despreparo de grande parte do eleitorado. Quando da proclamação da República, há pouco mais de 120 anos, 80% dos brasileiros eram analfabetos. De lá para cá, o número caiu muito, mas o grau de instrução continua péssimo. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, 8 milhões de eleitores são analfabetos, 19 milhões têm “alfabetização rudimentar” (não frequentaram escolas) e 73,3 milhões (58,26% do total) não completaram o ensino fundamental. Há 46 milhões de “analfabetos funcionais”, que conseguem identificar as letras, mas não têm capacidade para compreender e interpretar textos.

O resultado disso se viu em recente pesquisa do Ibope sobre intenção de voto para deputado federal. Em São Paulo, onde se acredita estar um dos eleitorados mais politizados do País, houve quem citasse Serra, Fernando Henrique, Marina Silva, Alckmin, Mercadante e até o falecido Mário Covas... Apenas 12% dos paulistas foram capazes de indicar em quem votarão para deputado federal. É por isso que o palhaço Tiririca poderá chegar à Câmara dos Deputados com a maior votação do País; e o cantor Netinho de Paula – também de São Paulo – ao Senado. E não o serão como resultado de votos de protesto, como foi o caso do rinoceronte Cacareco e talvez também do folclórico cacique Juruna, que andava com um gravador para registrar promessas (que não seriam cumpridas) de autoridades com que se avistava.

Todos esses milhões de pessoas votam e avaliam o presidente e o governo nas pesquisas eleitorais.

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