Seguidores

terça-feira, 30 de março de 2010

Educação de Civilidade, eis o que nos falta

O Custo Brasil de um aeroporto
Retirado do Blog do Noblat em 30/03/2010
Joaquim Falcão


A experiência é com o aeroporto do Galeão, o quarto do Brasil, logo atrás de Guarulhos, Congonhas e Brasília, que estão em obras para a Copa e as Olimpíadas. Mas é provavelmente a mesma para todos os grandes aeroportos.

Quase cinqüenta banheiros já foram reformados. Mas todo fim de semana a Infraero tem que repor cerca de 100 peças novas. Torneiras roubadas, vasos quebrados e até espelhos desaparecidos.

Cada criança e adolescente pedinte, que consegue entrar no saguão ou ficar na calçada, faz cerca de 70 reais por quatro horas de trabalho. Ganha provavelmente mais e trabalha provavelmente menos do que seus pais se forem trabalhadores de carteira assinada.

Os taxistas, em vez de irem ao banheiro, pela pressa e comodidade não raramente usam as paredes e cantos. Esses são pequenos exemplos, mas somem todos, multipliquem e terão uma idéia dos aumentados custos de limpeza, segurança e manutenção de um aeroporto.

É um dos aspectos do que se denomina Custo Brasil.

Custo Brasil é uma expressão tipo slogan que inventaram para significar o custo adicional que o Brasil tem no cenário da competição global, e que não deveria ter.

Daí o custo Brasil como lentidão da justiça. O custo Brasil como burocratização. O custo Brasil como sobrecarga na folha de pagamento. E por aí vamos.

O que está por detrás desse custo Brasil dos aeroportos? E como evitá-lo?

Trata-se de um custo de falta de educação popular do exercício da cidadania. Não é um custo de falta de educação para o exercício de uma profissão ou de uma qualificação técnica. É outro custo de educação, que não se aprende na escola. Mas que poderia aprender.

Como se comportar diante do patrimônio público? Como se responsabilizar, como ser controlado? Como conviver na coletividade?

Não se nasce sabendo. Mais do que educação é um processo positivo de socialização. Mas isto se aprende também. Basta lembrar que na China, antes da Olimpíada, o governo fez campanha para mudar o hábito milenar das pessoas de cuspirem no chão. Lá, hábito. Cá, falta de educação.

Administrar um aeroporto, segundo Willer Furtado, superintendente da Infraero, é administrar não apenas, no Galeão, por exemplo, cerca de mil funcionários, mas sim uma comunidade de cerca de 26 mil pessoas.

E como em toda a comunidade, problemas de educação surgem também. Em geral só se fala dos milhões necessários para completar obras.

As obras vão estar prontas, ao que tudo indica. Já a educação, não sei.

O Brasil é um país curioso. É capaz de ter sofisticadas disciplinas obrigatórias para o primeiro grau e ensino médio como arte e sociologia, mas na escola não se ensina, ou se ensina apenas excepcionalmente, cidadania, direitos, deveres, comportamento.

Acresça ainda outro fator lembrado pelo superintendente.

Nos últimos anos uma nova classe social, de menor rendimento, teve felizmente acesso ao transporte aéreo. O que é muito positivo. Mas não tem a menor idéia do que seja check-in ou gate.

A maioria dos avisos de um aeroporto é em inglês. E será mais ainda nas Olimpíadas. Não é por menos que na Coréia os operários são alfabetizados nas duas línguas há décadas: inglês e coreano. Não é questão de desnacionalização. É questão de nacionalização no global.

Esse descomportamento perceptível na comunidade de um aeroporto não é um comportamento mal educado, nem é natural do brasileiro, nem destino inevitável.

É típico de um país onde a ascensão social está acelerada. A família de ontem tem menos renda e menos educação do que a família de amanhã. Não pode transmitir o que não tem.

Quem tem que fazê-lo e rápido são o governo e a sociedade civil organizada, no caso, as cooperativas de taxi, as companhias aéreas, os proprietários de lojas, a prefeitura, pois nem só de segurança vive um aeroporto ou um país.



Comentário do Zé - como levar nossa gente a compreender o valor do patrimônio coletivo se nossos políticos estão sempre misturando os bens coletivos com os seus, vide a bandeira do PT no jardim do Palácio da Alvorada e os mensalões do PT no Brasil e do Dem em Brasília! Precisamos pensar em algo e agir para mudar esta realidade patrimonialista.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Coluna do Ary: ALEGRIA NO NINHO TUCANO

Ary Ribeiro * Em 29/03/2010


Os últimos dias foram só de alegria na área da Oposição, principalmente no PSDB. Saiu o resultado de pesquisa DataFolha apontando seu candidato – a pré-candidatura será formalmente anunciada dentro de mais alguns dias – com 36% e Dilma com 27%. Nada menos do que 9 pontos de diferença!

O governo Lula continua com boa aprovação (76%), pelas razões que já aventei neste Blog e que no momento não vêm ao caso. O importante, para os oposicionistas, é que, nesse segmento, Dilma caiu de 35% para 33% e Serra foi de 27% para 32%, numa demonstração de que a transferência de votos não é tão simples assim e que há muita gente que gosta do governo, mas gosta também do governador de São Paulo.

Aliás, outra pesquisa, hoje divulgada , comprova isso. O governo Serra tem 55% de aprovação e apenas 11% o acham ruim. Como se acredita que o PT conta com aproximadamente 30% do eleitorado, isso significaria que mesmo parcela ponderável de petistas aprova seu governo.

Outro dado relevante da pesquisa anterior é que entre os que julgam o governo Lula regular, Serra pulou de 46% para 51%. Dilma tem apenas 9%.

Para o governo de São Paulo, o resultado da pesquisa DataFolha, hoje divulgado, indica que o tucano Geraldo Alckmin pode vencer no primeiro turno. Tem 53% contra 13% de Aloizio Mercadante (PT), 10% de Celso Russomano (PP), 3% de Fábio Feldmann (PV) e 1% de Ivan Valente (PSOL).



POUCO PAC, MAIS PAC

Notícia, de hoje: “Dilma é anunciada com destaque em evento do PAC 2 - LEONARDO GOY, FABIO GRANER E TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado - A chegada da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para lançamento da segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) já deu o tom político-eleitoral do evento. Pré-candidata à Presidência da República, (o) nome de Dilma só foi anunciado depois que ministros, governadores e prefeitos já estavam presentes e perfilados no palco ou próximo dele. Dilma foi a única a ser aplaudida ao ter o seu nome anunciado por duas vezes. Na segunda vez foi aplaudida de pé pela maioria dos participantes do evento.”

A notícia dispensaria comentários. Mas que outro sentido teria toda essa encenação para lançar um PAC 2 quando, segundo a ONG Contas Abertas, após três anos, o PAC 1 só conseguiu concluir 11,3% das obras e 54% delas não chegaram sequer a sair do papel?

Diz também o Estadão de hoje: “Um relatório reservado que chegou no início do ano às mãos da ministra, intitulado Sinais de Alerta do PAC, constatava que a ‘implementação’ do programa estava ‘problemática’ porque sobravam ‘recursos disponibilizados’ para o plano. Gerente do governo, Dilma distribuiu broncas na equipe e cobrou empenho na execução das ações de infraestrutura logística, energética, social e urbana.”
Não seria mais razoável concluir as obras do PAC 1?

CASO ISABELLA
Muito já se falou e escreveu sobre o trágico caso da menina Isabella, mas vale ainda alguma reflexão. O promotor Francisco Cambranelli, com base em trabalho meticuloso feito pela perícia técnica e por ele próprio, provou que o casal Nardoni estava dentro do apartamento quando Isabella foi lançada pela janela, sepultando de vez a inverossímel versão de que uma terceira pessoa, sem nenhum propósito e em exíguos minutos, teria entrado no apartamento e cometido o crime.

Imaginemos que, num acesso de fúria, o casal tenha agredido a menina e a estrangulado, pensando tê-la matado. Caindo em si, o casal poderia chamar um pronto-socorro ou a polícia, assumir a culpa e, com isso, responder por agressão seguida de morte ou crime culposo, em que não há intenção de matar, o que, na origem, seria o caso. O que o terá levado a buscar um caminho tortuoso, pensando – como expôs o promotor – que, ao apagar vestígios de sangue e lançando a menina pela janela, encobriria a causa da morte? O casal não imaginou que, dispondo do mais avançado equipamento técnico do País, a pericia paulista não deixaria de esmiuçar os mínimos detalhes, como o fez, e a pena seria consideravelmente agravada?

Agora, uma curiosidade: o promotor Francisco Cembranelli é casado com uma brasiliense, Daniela Sollberger, formada em Direito em Brasília e também promotora de Justiça em São Paulo. Ela é filha de Deize e Paulo Sollberger, falecido subprocurador-geral da República junto ao STJ.

CEILÂNDIA: HOMENAGEM A OTOMAR


A cidade-satélite de Ceilândia comemorou, neste fim de semana, 39 anos de existência, aparentemente sem se lembrar de seus criadores. Seu idealizador, por sinal, Otomar Lopes Cardoso, faleceu há dois meses, em Natal, aos 74 anos de idade, sem que sobre ele aparecesse uma linha sequer nos jornais de Brasília.

Otomar veio do Rio Grande do Norte para Brasília, a convite do governador Hélio Prates da Silveira, para ocupar o cargo de Secretário de Serviços Sociais. Foi no exercício desse cargo que ele procurou solução para o então mais grave problema social da cidade: as favelas, chamadas de “invasões”, nas quais viviam mais de 70 mil pessoas. A “Invasão do IAPI” era a maior delas e tinha esse nome por situar-se nas proximidades do antigo hospital do IAPI (extinto Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários), em frente da entrada da Candangolândia.

A solução encontrada e aprovada pelo governador consistiu em urbanizar uma área, próxima de Taguatinga, dividi-la em lotes e para eles transferir os ocupantes das “invasões”. Os barracos seriam remontados nos fundos dos lotes, para permitir que, com o tempo, pudessem ser construídas, na frente, casas de alvenaria.

Otomar lançou a Campanha de Erradicação das Invasões, cuja sigla era CEI. Daí o nome Ceilândia. Era um trabalho gigantesco, visto até com certa reserva, por exemplo, por outro potiguar, o diretor-presidente do Correio Braziliense, Edilson Cid Varela, um dos primeiros a tomar conhecimento da Campanha. Ele deu, no jornal, porém, toda cobertura e apoio à iniciativa.

O que parecia quase impossível, tornou-se realidade pelas mãos competentes da assistente social da Fundação do Serviço Social Maria de Lourdes Abadia, a quem coube comandar a equipe encarregada de fazer o levantamento das famílias que tinham direito aos lotes e de promover a transferência dos barracos. O destaque por ela conseguido, com o bom trabalho realizado, abriu-lhe caminho para uma carreira política que a levou à Câmara dos Deputados e até ao Governo do Distrito Federal.

Otomar tinha a idéia de montar, nas entradas do Distrito Federal, postos de orientação para famílias de imigrantes, as quais seriam informadas sobre inexistência de local para morar e sobre as dificuldades de obter trabalho. Se quisessem, teriam ajuda para voltar ou para dirigir-se a outros destinos. Seria a forma de ao menos inibir a formação de novas favelas. A idéia, porém, não chegou a ser posta em prática. O governo de Hélio Prates estava se encerrando. E aí vieram governantes que até estimularam a vinda de imigrantes, acenando com a possibilidade de ganharem lotes aqui. O inchaço demográfico – que ocorreu em todos os grandes centros urbanos – foi aqui incentivado também graças à autonomia política e administrativa que alguns políticos conseguiram para o Distrito Federal, pois esses “assentados” poderiam ser convertidos em eleitores quase cativos. E deu no que deu.

A história da Ceilândia foi aqui lembrada não apenas pelo seu aniversário, mas também em homenagem póstuma a Otomar Lopes Cardoso.

* O autor é jornalista.

terça-feira, 23 de março de 2010

Coluna do Ary: A NOVIDADE SUCESSÓRIA

Ary Ribeiro* 22/03/2010


O noticiário do fim de semana trouxe uma novidade no quadro sucessório. Não, não foi a entrevista concedida pelo governador José Serra ao apresentador de TV José Luiz Datena, na qual admitiu sua candidatura, a ser formalmente anunciada logo depois da Semana Santa.

Embora divulgada como novidade, por ter sido a primeira vez em que o governador paulista a confirmou, na verdade isso era mais do que esperado. Já havia sido anunciado que a candidatura seria lançada no começo de abril – e para o PSDB e Serra não havia mais outra saída. O nome de Serra já havia passado do point of no return.

A novidade está na possibilidade de a senadora Kátia Abreu, do DEM, vir a ser a vice na chapa de Serra. A ideia, segundo a imprensa, começou a circular entre integrantes do DEM. O partido – antigo PFL –, fiel associado do PSDB e participante do governo Fernando Henrique com o vice Marco Maciel, conformara-se em aceitar uma chapa “puro sangue” do PSDB, com Serra e Aécio, mas com a reiterada recusa do governador mineiro, o DEM estaria propenso a pleitear o lugar – e o nome que alguns de seus integrantes sugerem é o da senadora.

Pode-se alegar que o DEM, depois dos episódios de Brasília, em que perdeu seu único governador (e o vice), estaria enfraquecido demais para pretender a indicação. Kátia Abreu, porém, é figura que transcende as fileiras do partido, tem carisma, e poderia dar mais substância à chapa. Os defensores de seu nome dizem que ela não é apenas uma senadora do DEM. É líder dos agricultores e pecuaristas, grandes e pequenos, de todo o País, o que não é pouca coisa. É presidente da poderosa Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), primeira mulher a assumir a sua direção, depois de brilhante carreira na política e no mundo empresarial. Viúva muito jovem, assumiu o comando das fazendas do marido, no Tocantins, fê-las prosperar e se tornou líder local, regional e nacional dos agricultores e pecuaristas. Elegeu-se deputada federal e depois senadora. Foi a relatora da pretendida prorrogação da CPMF e apresentou parecer demolidor, contribuindo para a sua derrubada. Tem total desenvoltura para defender seus pontos de vista nas comissões e na tribuna do plenário. Como mulher, funcionária como contraponto à candidata palaciana. Como se vê, argumentos não faltam.


CUBA: COISAS ESTRANHAS

Cuba e Venezuela seriam, hoje, os únicos países do Continente Americano a manter presos políticos, muitos dos quais simplesmente por discordarem do governo, por terem ousado fazer críticas. Em relação a Cuba, há fatos estranhos. O governo tem permitido que circulem fotos ao menos de alguns deles, inclusive de Guillermo Fariñas, esquálido em decorrência da greve de fome. Mais curioso é estar permitindo que deem entrevistas à imprensa estrangeira e falando o que querem. Há pouco, lemos em jornais brasileiros declarações do próprio Fariñas. E ontem, no jornal O Estado de S.Paulo, as do jornalista Pablo Pacheco, preso em 2003. E ficamos sabendo que ele está autorizado a fazer um telefonema de 20 minutos, a cada dois dias, para parentes e amigos – “um privilégio”, porque alguns presos “só podem ligar uma vez por semana”. Para uma ditadura, estranha liberalidade. Será que o regime está se abrandando?


HOLLYWOOD

Notícia de ontem da Folha Online: “Lula inaugura obras que voltam a ser canteiros – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto, viajam pelo país para inaugurações que, após a desmontagem do palanque oficial, voltam a ser canteiros de obras, informa reportagem de Simone Iglesias e Eduardo Scolese, publicada neste domingo. Levantamento em 22 obras entregues pelo presidente e pela ministra desde outubro mostra que 13 delas (60%) não funcionam efetivamente. Em um dos casos, barragem inaugurada pelos dois em Jenipapo de Minas (MG) não tem licença ambiental nem prazo para entrar em operação.”

GENI

Sem entrar no mérito dos episódios ou de quaisquer decisões, enquanto acusados de participação no escândalo do mensalão estão por aí, livres e fagueiros, promovendo grandes festanças ou até dando lições de ética para jovens formandos, José Roberto Arruda está sem partido, preso, teve negado o habeas corpus, negada autorização para ver DVD, seu mandato foi cassado pelo TRE e, na Câmara Distrital, instaurou-se o processo de impeachment.


LIÇÕES DE INGLÊS

Nem a má repercussão mundial do caso da morte, em greve de fome, do dissidente cubano Orlando Zapata, nem a recente viagem ao Oriente Médio – classificada de desastrosa por alguns dos principais jornais e revistas brasileiros – deixaram Lula abatido. O jornal The Times, de Londres, em sua edição de ontem (21), disse que ele considera candidatar-se a Secretário-Geral da ONU, cargo que estará vago em fins de 2011, com o término do mandato de Ban Ki Moon. Ele vai aprender inglês?

* O autor é jornalista.

terça-feira, 16 de março de 2010

Coluna do Ary: POR QUE A APROVAÇÃO?

Ary Ribeiro *


Um amigo não entende como podem as pesquisas indicar alto índice de aprovação do presidente Lula e seu governo, porque não encontra ninguém pró Lula entre as pessoas à sua volta, em Brasília, São Paulo, Curitiba ou Natal. Chega, por isso, a duvidar da correção das pesquisas.

Disse-lhe, não sem uma dose de humor, que ele só circula entre aqueles 15% ou 20% que insistem em ver o rei nu, contra a imensa maioria que não está nem aí para suas vestes. Para a grande maioria, pouco importa que o presidente diga disparates, entre em contradição, faça campanha eleitoral fora de hora, esteja rodeado de amigos ou colaboradores que, vira e mexe, são apontados como envolvidos em denúncias de corrupção, como os casos do mensalão, da Bancoop e de superfaturamentos. Menos ainda o que faz na área da política externa.

Ainda há pouco, o presidente Lula teve o azar de chegar a Cuba, para abraçar seus amigos Fidel e Raul Castro, justamente no dia em que “se deixou morrer”, em greve de fome, o pedreiro e prisioneiro político Orlando Zapata, fato que o obrigou a fazer alguma declaração. E então praticamente censurou a vítima e não o regime que prende e tortura dissidentes políticos.

Sua irritação era compreensível. Não podia e não queria condenar o regime cubano. Não por força do princípio da não-intervenção, que norteou a política externa brasileira até recentemente, porque no caso de Honduras o Brasil tomou clara posição em favor de um dos lados (o de Zelaya) numa questão interna do país. Mas por apreço ao governo cubano. Sabia, entretanto, que teria seriamente afetada sua até então boa imagem no exterior. Mario Vargas Llosa, em artigo, declarou-se decepcionado. Sindicalistas norte-americanos criticaram sua posição em relação a Cuba. E sua imagem está se corroendo também devido à relação estabelecida com o presidente iraniano Ahmadinejad. Lula acaba de ver, em Israel, o custo dessa aproximação. Por sinal, a sorte também não o acompanhou nessa viagem, pois sua chegada coincidiu com novos conflitos devido à decisão de Israel de construir casas em área povoada por palestinos, o chanceler israelense não quis vê-lo discursar e os setores mais radicais não se conformaram com sua recusa em visitar o túmulo do fundador do movimento sionista (que deu origem a Isarel), se estava prevista visita ao do palestino Yasser Arafat.

Nada disso abala os índices internos de aprovação. A explicação talvez possa ser buscada na situação vivida pelo País, que está bem, mesmo tendo apresentado, em 2009, o menor PIB desde 1992. As pessoas comuns não se guiam por estatísticas ou dados econômicos e sim pelo que sentem. E de modo geral se sentem bem. Parece ser alto o índice de felicidade. Não há desemprego exacerbado, há facilidade de consumo e até boa parte da população mais pobre pôde chegar ao mercado.

Isso se deve a Lula? Em parte, sim. Não, porém, pelo que fez, mas pelo que não fez. O temor geral que cercou sua primeira eleição, fazendo o dólar disparar e afetando a inflação, mostrou-se, felizmente, infundado. Lula, no governo, recolheu as velhas bandeiras do PT e, graças principalmente ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, manteve os rumos da política macroeconomia herdada do antecessor, Fernando Henrique. Encontrou a casa arrumada e não a desarrumou. Esse seu mérito.

A herança, por sinal, vinha de antes. Se se olhar mais para trás, se verá que o Brasil começou a mudar, para melhor, a partir da transferência da Capital, que permitiu a ocupação e exploração das vastas áreas de cultivo do Planalto Central. Esse foi o berço do agronegócio, que ganhou impulso com a criação da Embrapa, a abertura de estradas e a melhora da infraestrutura (já sob os governos militares). Adotaram-se medidas, nos governos Sarney e Collor, para conter a inflação, as quais fracassaram, mas criaram condições para a vitória do Plano Real, sob o governo Itamar Franco e o comando de Fernando Henrique. Este, no governo, privatizou empresas que viviam às custas do Estado ou que – casos da Vale, da Embraer e das telefônicas – não podiam desenvolver-se por estarem amarradas à legislação pública; saneou o sistema bancário; arrumou as dívidas dos Estados; impôs limites de gastos (Lei da Responsabilidade Fiscal); estabeleceu o câmbio flutuante e as metas de inflação etc. O governo Lula colheu os frutos de tudo isso, sem falar que passou os primeiros seis anos surfando nas ondas de um período sem crise econômica no mundo.

Não houve apenas isso. Os produtos eletroeletrônicos, pela produção em escala, sofreram natural queda nos preços. Um televisor de plasma de 42 polegadas que, há dez ou 15 anos custava R$ 20.000,00, hoje pode ser adquirido por menos de R$ 3.000,00. Sem falar que a China inundou o mercado com produtos e quinquilharias a preço de banana. Ora, se as pessoas estão podendo comprar carros, geladeiras, fogões, televisores, computadores, bugigangas – ainda que a prazo – acham que está tudo bem. Se lhes perguntam se estão satisfeitas com o presidente Lula e seu governo, a resposta, quase inconscientemente, é positiva.

Quem sabe se, nas próximas eleições, os eleitores acabem levando em conta também questões de ordem ética e de real capacidade de conduzir o Brasil a futuro melhor. Seria salutar, não a comparação sobre quem fez mais ou menos, quem é pai ou mãe disso ou daquilo, mas entre os candidatos, seus currículos, seu passado, suas realizações.

* O autor é jornalista.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Interveção não é solução

Comentários de Márcio Antônio Estrela sobre a questão da autonomia de Brasília

Acabar com autonomia do DF não é solução nenhuma. Aliás, está mais para demonstração de raiva de quem não sabe nem o que fazer nem para onde direcionar a frustração... (estilo aquele pessoal que reclama por reclamar e não busca solucionar o problema).
Acabar com a autonomia significa apenas tirar o poder da população local escolher o governante e transferí-la para os gabinetes do Governo Federal.
Ou seja, seria transformar Brasília em espécie de estatal com o gestor da Capital passando a ser só mais um cargo a ser distribuído entre os partidos da base aliada (dadas as obras que sempre são realizadas na cidade, será um cargo super-disputado...).
O problema parece ser a escolha do Governante...
Mas “basta o pessoal saber votar”.
Provavelmente muitos dos que pedem o fim da autonomia votaram no Arruda. Ou votariam no Roriz em troca da promessa de “legalização do terreno que compraram em um condomínio irregular que invadiu terra pública e de proteção ambiental” (engraçado que muitos destes são dos que pedem cadeia para o MST por ter invadido terras improdutivas...).
E se perguntar em quem votaram para deputado, não se lembrarão... (eu sei de todas os políticos em quem votei, acompanho como votam os projetos e digo que NUNCA me arrependi de 1 voto que dei!).
Assim é fácil tentar transferir a culpa e as responsabilidades para outros...
QUE TODO MUNDO VOTE MELHOR, ACOMPANHE COMO SE COMPORTA QUEM VOTOU ANTES DE VOTAR DE NOVO.
Ah, e principal, QUE NÃO COLOQUEM O CARGO DE GESTOR DE BRASÍLIA COMO MAIS UM A SER DISTRIBUÍDO ENTRE OS PARTIDOS DA “BASE ALIADA”.

terça-feira, 9 de março de 2010

Intervir ou não no DF?

No dia 8 de fevereiro o Jornalista Ary Ribeiro publicou artigo neste blog chamado “O Mal da Eleição no DF”, onde ele diz que Brasília, como Distrito Federal tinha um administrador, como tem a capital dos Estados Unidos, Washington D.C., sem representação no parlamento local, apenas com representação na Câmara dos Deputados.
Alzira Rosa, uma grande amiga teceu os seguintes comentários:
“Concordo com o articulista Ary Ribeiro. Brasília é a capital, sede do governo, e não precisa de uma representatividade típica de estado ou município. O surgimento da Câmara Legislativa e a eleição de governador disseminaram no GDF todo o tipo de clientelismo político que grassa impunemente em outras unidades do País. Brasília, tão jovem, agora tem uma estrutura política que favorece a troca de favores entre governantes e legisladores, em detrimento do interesse público, à custa do achaque de empresários locais. Tudo em nome de um arremedo de mecanismo de representatividade democrático. Como brasiliense, assisto desolada a ocupação desordenada e predatória das terras do DF, loteada entre compadres, enquanto os serviços de saúde e educação estão vilipendiados. Está na hora de iniciarmos a discussão que preveja o fim da Câmara Legislativa e o retorno à neutralidade da gestão administrativa do GDF”.
Em um primeiro momento e vendo a amplitude da corrupção política que assolava o Distrito Federal, e certo de que ela vêm de muito antes e não só do governo Arruda, eu imaginei que a melhor solução para o DF seria a intervenção, para limpar um pouco estes sistema corrompido.
O Senador Cristovam Buarque, a quem muito admiro, publicou artigo no Correio do dia 27 de fevereiro em que ele diz que embora não seja uma falência da democracia, pois a intervenção é uma medida prevista em nosso arcabouço institucional, seria uma falência da política. E eu concordo que hoje Brasília mostra uma falência da política. Mas Cristovam diz que pode ser nossa chance de mudar o panorama de Brasília, mandando um exemplo para o resto do país. Para ele devemos: 1. Repudiar candidatos que passem desconfiança, sem passado limpo e dar preferência aos candidatos novos; 2. Criar um conselho social de gestão, sem remuneração, integrado por representantes da sociedade civil para acompanhar e fiscalizar as ações dos futuros governos; 3. Criar um portal de transparência que dê acesso irrestrito às contas do GDF; 4. Exigir que cada candidato apresente informações sobre seu passado ético, especialmente sua ficha jurídica e policial; 5. Realizar auditorias externas independente em todas as contas da administração direta e indireta nos últimos 20 anos; 6. Limitar drasticamente o número de servidores de confiança com nomeação livre do governador; 7. Retomar o orçamento participativo; 8. Revisar integralmente o PDOT, para inibir a especulação imobiliária, conservando o meio ambiente; 9. Revisar as concessões de benefícios fiscais; 10 construir conjunto de metas para que Brasília seja referência nacional na [ética das prioridades pol[iticas, em especial na educação.
E você, o que acha? É a favor da intervenção? Ou acha que a agenda acima tem condições de se realizar? O que devemos fazer? Vote ao lado!
Abraço do Zé Ricardo

segunda-feira, 8 de março de 2010

José Ajuricaba: Aprendendo Violino aos 83 - Nunca desista de seus sonhos

Este é meu pai. Um ministro aposentado da Justiça do Trabalho vai completar 84 anos. Nunca deixou de ler, de querer aprender. Hoje, estudante de alemão e russo, gosta de viajar e conhecer a literatura do mundo. E depois dos 80 resolveu realizar um de seus sonhos de crianças: tocar violino.
Para mim, Zé Ricardo, um exemplo, e um estímulo para não desistir de meus sonhos e acreditar que nunca é tarde para participar da construção de nossas histórias coletivas, sem precisar perder a pureza de espírito e a fé na atitude correta perante o mundo. Pode-se parecer tolo, mas é mais inteiro que aqueles que querem tirar vantagem de tudo.

Obscenos, políticos, pornográficos e ecológicos

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Coluna do Ary: DA IMPORTÂNCIA DE SER ERNESTO


Ary Ribeiro *

Em recente entrevista concedida ao jornalista Marcone Formiga, da revista Brasília em Dia, o ex-senador, ex-ministro e ex-governador Jarbas Passarinho dá nota 10 ao presidente Costa e Silva, “para o seu lado humano”, diz que Figueiredo teve a má sorte de enfrentar forte turbulência na economia mundial e contesta que Médici tenha sido o vilão da História, como é tido, segundo ele, por grande parte da esquerda.

Médici governou no período mais duro da repressão, quando recrudesceram também as ações armadas do setor mais radical da esquerda, entre as quais a tentativa de dar início a movimento militar insurgente na região do Araguaia, de que resultaram tortura e morte de quase todos os guerrilheiros. Circulavam denúncias de tortura e morte de esquerdistas.

Jarbas Passarinho, que foi ministro de Médici – além de o ter sido também de Costa e Silva, Figueiredo e Fernando Collor – assegura que o presidente não concordava com torturas. “Sempre que levei a ele casos de tortura, ele reagiu imediatamente”, disse. Revelou o caso de uma bancária, estudante da Universidade de Brasília (UnB). Suas palavras: “Ela tinha um problema cerebral e acabou entrando em coma. (...) Fui imediatamente ao hospital, constatei o que tinha acontecido e me dirigi ao Palácio do Planalto para relatar o que tinha apurado. (...) (Disse) ao Médici: Presidente, ocorreu isso e eu não quero que o senhor entre para a História como um presidente torturador e o seu ministro também não. Ele puniu imediatamente o chefe, que era um major.”

Ficamos sem saber se faleceu ou não a estudante que havia entrado em coma e também qual a punição imposta ao major, se advertência, destituição do posto, transferência etc. Não se pode pôr em dúvida o depoimento de Jarbas Passarinho, reconhecidamente homem de bem, respeitado até pelos que, na época, combatiam os governos militares. O fato é que não se tem notícias de que as torturas acabaram ou diminuíram. Ao contrário do que ocorreu sob o governo do general Ernesto Geisel, sucessor de Médici, que, por sinal, confirma Passarinho, preferia o irmão dele, Orlando Geisel, então ministro do Exército. Quando morreram o jornalista Wladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho num quartel de São Paulo, o presidente Geisel demitiu o comandante do II Exército, general Ednardo d’Ávila Melo e, mais tarde, correndo riscos, o ministro do Exército, Sylvio Frota, que se preparava para ser o candidato da linha dura à sua sucessão.

Agora, quando se comemoram os 25 anos do retorno ao regime democrático, é justo, por sinal, reconhecer o importante papel desempenhado pelo presidente Ernesto Geisel. Não fosse ele ter enfrentado o porão do regime autoritário e seguido um plano até talvez necessariamente tortuoso – passando pela chamada “Constituinte do Torto”, que criou os “senadores biônicos”, e pela cassação de mandatos – a redemocratização teria demorado bem mais. Até a escolha do general João Batista Figueiredo para seu sucessor obedeceu a esse plano. Figueiredo não tinha o gosto do poder, vinha de família que sofrera sob um regime ditatorial – o do Estado Novo, de Getúlio Vargas – e, por isso, compromissada com valores democráticos, e vestia figurino perfeito para levar avante a abertura política. E foi fiel ao que dele se esperava.

Geisel pertencia ao setor militar – com Castelo Branco, Golbery, Eduardo Gomes e outros – que tinha realmente convicções democráticas e entendia que, afastado o governo Goulart e, com ele, o risco que via – sobretudo numa época de Guerra Fria – de implantação do que chamava de regime comuno-sindicalista, as Forças Armadas deveriam, o quanto antes, afastar-se do poder, pois, como se diz, “o poder corrompe”. Castelo não conseguiu, no entanto, frear o ímpeto da linha dura, e a permanência dos militares no poder estendeu-se por duas décadas. Foi preciso que seu grupo, com Geisel à frente, voltasse ao comando do País. Vale então a associação com a peça de Oscar Wilde, com o trocadilho: The Importance of Being Earnest.

* O autor é jornalista.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Coluna do Ary: CORAGEM E LIDERANÇA

Ary Ribeiro *


Pouco antes do carnaval, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, aproveitando-se de cochilo da base governista, aprovou requerimento de convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para prestar esclarecimentos sobre o controvertido decreto presidencial que estabeleceu o Plano Nacional de Direitos Humanos-3.

Na semana passada, a base governista compareceu em peso à Comissão e, numa ação de discutível juridicidade – porque os efeitos já se haviam concretizado, com envio de ofício à ministra – reverteu a decisão, substituindo a ministra Dilma pelo titular da Secretaria Especial de Direitos Humanos, ministro Paulo Vanuchi.

A justificativa para a troca não parece procedente. Se o ministro Vanuchi é o principal autor do PNDH-3, é inescusável a responsabilidade da ministra, pois todos esses atos passam pela Chefia da Casa Civil, à qual cabe examiná-los e compatibilizá-los com os programas e ações do governo.

Nada mais natural que o Senado, por meio de uma de suas Comissões, queira esclarecimentos sobre assunto que está causando tanta polêmica no País. O PNDH-3 é pela legalização do aborto, condena o uso de símbolos religiosos, defende a taxação de grandes fortunas, favorece a ocupação de terras, estabelece medidas para cercear a liberdade de imprensa e cria uma Comissão da Verdade, para investigar violações de direitos humanos ao tempo do regime militar. Ninguém mais adequado para falar sobre esses pontos que os dois ministros: Dilma e Vanuchi.

Pode-se alegar que a convocação teria mais motivação política. A Oposição teria a intenção de submeter a pré-candidata petista a uma prova de fogo. Não importa. Isso faz parte do jogo político. Se ela aspira assumir o comando do País não pode temer confronto com parlamentares. Nem ela nem sua base partidária nem seus marqueteiros. Um Presidente da República pode não reunir as qualidades de verdadeiro estadista, mas deve ter ao menos capacidade de liderança e coragem. Foi o que Nelson Mandela demonstrou, por exemplo, ao enfrentar a unanimidade do comando do seu partido, favorável ao revanchismo, e convencê-lo de que, para o bem do país, se devia trilhar o caminho da conciliação entre brancos e negros.

A excessiva “blindagem” da ministra estaria a revelar certa insegurança de seus apoiadores ou marqueteiros. Temem que ela não se saia bem? Mais cedo ou mais tarde, ela terá de passar pelo crivo dos debates. Podem impedir que ela compareça ao Congresso. Mas quando a campanha eleitoral começar para valer, as perguntas que os parlamentares não puderem fazer-lhe agora serão inevitavelmente feitas pelos seus adversários ou pela imprensa. Se ela supostamente não tem condições de respondê-las agora, as terá mais tarde? É aguardar para ver.

DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Como ex-aluno da UnB e sobretudo como cidadão não posso deixar de registrar meu inconformismo com a cota racial criada pela Universidade. E com um agravante: num País de tanta miscigenação, em que entre o branco e o preto há muita variedade de tons, cabe a uma comissão de professores definir quem é “negro”.

Confio em que essa distorção seja corrigida pelo Supremo Tribunal Federal, pois no Curso de Direito aprendi que ela contraria a Constituição, segundo a qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. A solução para reduzir ou eliminar diferenças étnicas, sociais e econômicas (não apenas de cor, portanto) é o da substancial melhoria do ensino secundário nas escolas públicas. Se o negro (pobre ou rico) tem acesso facilitado ao ensino superior está-se, além de tudo, discriminando o branco pobre.

* O autor é jornalista.

Geraldoinho Vieira: Quem não comunica...

Geraldinho Vieria Retirado do Blog do Noblat

O uso estratégico dos recursos digitais em organizações e empresas parece viver aquele curioso (e às vezes tenso) momento de transição onde o discurso das gerências enfatiza o quanto é essencial entrar no século 21, mas na prática elas próprias e outras estruturas apegam-se a velhos modelos.

Talvez você (sua empresa/organização) se identifique com este cenário:

- os empreendedores/lideranças sabem que mergulhar nas novas ferramentas de comunicação, informação e relacionamentos implica abertura para uma transformação organizacional que tende a ser profunda, radical... e têm medo;

- por não saber como fazer (uma questão geracional, muitas vezes), consciente ou inconscientemente lideranças e gerências resistem a investir em passos ousados;

- a organização fica então à meia boca: cria um departamento de tecnologia da informação, mas não formaliza políticas, não educa os demais setores, não define visão, não estabelece metas e muito menos investimentos;

- sem saber aonde a empresa quer chegar ninguém dentro dela jamais está satisfeito com o web site e outros fóruns digitais e então fica todo mundo dando palpite a partir do que vê acontecendo por aí;

- e, por fim, aquela sensação de que há dinheiro escoando pelo ralo em eternas atualizações e redesenhos de portais e intranets que caducam antes da estréia.

Para as duas centenas de pessoas que chegaram a Brasília de várias partes do mundo (além das milhares que acompanharam ao vivo pela internet - transmissão da TV Cultura), o seminário Web4Dev realizado pela Unesco na quinta e sexta passadas enfatizou a certeza de culturas organizacionais vão se modificando, comportamentos pessoais idem...mas tudo é de certa forma ainda lento.

Percebe-se que a maior parte das organizações anda com o pé no freio no que se refere a explorar as rotas abertas pelas novas tecnologias.

Assume-se que são (somos), todos, marinheiros de primeira viagem. Que “navegar” é obviamente um processo de aprendizado entre erros e acertos e por isso ninguém fala como expert, mas compartilha-se o que se vai observando mundo afora em empresas e organizações, o que se vai experimentando, descobrindo.

Mais uma vez veja se isso se parece com o que você (sua empresa ou organização) está vivendo:
- relutância de departamentos em dedicar tempo e atenção para prover informação para plataformas públicas, abertas;

- geração de conteúdo em linguagem inadequada (o pessoal do departamento de TI que se vire para editar);
- necessidade de redefinição sobre como realizar controle de qualidade sem centralizar a produção de informação;

- medo de dialogar com a audiência, com a clientela, e o risco duplo que isso implica: (I) não saber como a organização é percebida; (II) perda de oportunidades de negócios e de criação de novos serviços a partir da construção coletiva com o próprio cliente;

- ausência da empresa/organização nas redes sociais...

Por tudo isso, os participantes do seminário que vem rodando o mundo e que podemos traduzir como Web Para o Desenvolvimento (web4dev) apontaram para a necessidade de que as lideranças deixem o pudor em casa e busquem maior qualificação. Com um alerta: que não aprendam simplesmente a usar ferramentas com as quais nunca sonharam, mas que aprendam a pensar estrategicamente a partir delas.
Notas do mundo digital:

• Se você quiser ver as palestras e debates, o site da Unesco (www.unesco.org.br) certamente informará como fazer.

• Para quem quer conhecer centenas de experiências de todo o mundo em estratégias de comunicação para o desenvolvimento social, vale acessar www.comminit.com. Excelente portal!

• Se você anda preocupado com o que suas crianças andam vendo na internet, ou com
quem andam conversando, recomendo www.internetsegura.br.

• O Congresso Nacional está debatendo o que poderá ser nossa lei geral do acesso à informação pública (a regulamentação do inciso XXXIII, do artigo 5, da Constituição Federal). Olho neles!

• Em 2008, a Unesco criou uma série de indicadores que ajudam as nações a ampliar seu grau de democracia no que se refere ao direito à comunicação. Se você quiser conhecer os indicadores e tirar suas próprias conclusões sobre como anda o Brasil:http://unesdoc.unesco.org/images/0016/001631/163102S.pdf