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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Espírito de Natal: a harmonização entre o indivíduo e seu todo

O espírito do Natal de união, paz e amor também nos cobra participação. A mensagem do Cristo, ao passo que nos remete para nosso âmago, nos vincula ao coletivo: amai ao próximo como a si mesmo e o mundo de hoje em crise clama por uma reflexão: não há solução solitária.

Existe hoje uma percepção quase generalizada de que o coletivo se opõe ao individual. Que o mundo comunitário está cada vez mais distante de ser tocado pelo indivíduo. Esta percepção tem levado muitos a se decepcionar com o processo social e a se fechar em suas vidas particulares, como se o sucesso de suas ações dependessem apenas si próprio. No Brasil, o aumento do desrespeito no uso da coisa pública agrava este sentimento.

Mas esta aparente incompatibilidade entre indivíduo e coletividade camufla a compreensão do momento histórico que vivemos. Com a disseminação dos meios de comunicação a ação de um ser humano, ou de um grupo, pode ter efeito sobre toda a humanidade e o avanço tecnológico pode afetar positiva ou negativamente a todos, mesmo aqueles que se consideram imunes à ação coletiva. Os eventos de 2011 destacaram esta interação cada vez mais forte entre o individuo e seu entorno. A primavera árabe e tantos outros movimentos coletivos que se iniciaram com ações individuais ou de grupos por meio das redes sociais são exemplos fortes da nossa capacidade de afetar o todo. Por outro lado os efeitos do terremoto no Japão sobre as usinas nucleares ameaçaram e continuam a ameaçar vidas distantes e isoladas. Como diz o sociólogo Ulrich Beck: é o fim da sociedade dos outros. É a retomada da sociedade de todos nós. O desenrolar da crise financeira em 2011 acentua essas : por mais eficiente que seja, a Alemanha sofre os efeitos do descuido dos vizinhos. Não dá mais para viver só.

No entanto, mesmo submetidos ao coletivo, somos responsáveis pelo universo que nos cerca. Este é o espírito do Natal. O milagre é a ação individual compartilhada coletivamente.


Ao contrário do que temos feito, não devemos nos desesperar, não devemos perder tempo contabilizando derrotas, ministros, deputados, agentes públicos desonestos demitidos. Nosso foco deve ser na construção de um mundo novo mais translúcido em nosso entorno, sabendo que nossa ação individual reverberará no todo e o todo terá influência sobre nós.

Que esse Natal de 2011 nos traga a paz e a harmonia da integração da parte com o todo. Que em 2012 possamos unir esforços para superar as barreiras, dar passos mais largos e ampliar nossos horizontes.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Somos Um: o amanha depende do trabalho

O mundo está em constante transformação. A cada movimento de criação deixa-se um universo de conceitos e padrões para trás.
Não há dúvida que a ordem estabelecida e grande parte de seus valores até setembro de 2008 foi fulminada pela crise financeira que se iniciou na segunda metade de 2008. O que existe hoje é tentativa de se ajustar as relações humanas e econômicas com os conceitos antigos. Mas o caminho tem sido tenso e inconstante. Ao lado de grandes iniciativas coletivas, tanto no âmbito do G-20, quanto na Europa, vê-se um esgotamento das relações criadas nos princípios capitalistas que se adensaram a partir de 1973. Recentemente um parlamentar da esquerda grega pregando a moratória da dívida de seu país, dizia que a única saída era a guerra.
Houve um tempo em que ser de esquerda era ser contra a guerra, a favor dos direitos humanos e da união entre os povos desfavorecidos em todo o mundo. Hoje ser de esquerda é ser contra, é promover a libertação de quem viveu de dívidas e punição do irmão que trabalha e cuida de suas finanças. O outro que nos oprime é o culpado.
Este esgotamento nos leva a um movimento pró-divisão da Europa e dos grupos pré-estabelecidos. Não está claro aonde vamos. Com o conhecimento que temos, querer tirar muita vantagem, ou se achar muito mais que o outro pode nos levar a destruição. Podemos nos destruir muitas vezes e levar ao completo aniquilamento da vida em nosso planeta. A única coisa que nos salvará será a consciência de que somos todos responsáveis.
Se sobrevivermos às tensões que enfrentaremos nos próximos anos, teremos a chance de erigir uma nova ordem. Ela poderá continuar sendo a ordem que sempre tivemos, o país mais rico dará as cartas. Neste caso tudo indica que a China, com seu regime autoritário, ditará as regras do novo mundo. Melhor que cheguemos a um estado de consciência mais elevado.
Qualquer que seja o novo sistema, ele dependerá do trabalho e da criação de valor e da mais valia para sustentar a humanidade. Mais valia individual e capitalista, ou mais valia estatal e socialista. Sua origem será a mesma, expropriar parte do trabalho para acumulação e avanço na produtividade futura.
Pode ser que esta expropriação, dada com o consentimento consciente de cada um de nós em uma sociedade organizada de forma pacífica e fraterna, onde a liberdade e criatividade individual possam conviver em bases de cooperação e reciprocidade, como diz Baghavan, não se chame mais mais valia.
De toda forma só haverá amanha com trabalho e trabalho suficiente para garantir o hoje e proporcionar excelente para garantir um amanha ainda melhor. Seja materialmente, seja em relações humanas, seja na riqueza das artes.

Somos Um: O mundo chega à maioridade

Mensagem de Baghavan em Johanesburgo em 11.11.2011:
Se aproxima a maioridade da humanidade. O Caos de hoje, o colapto da ordem econômica estabelecida, a anarquia em muitos países, nos impulsiona para a desordem e a divisão. Mas o caminho é a unidade. Despertar para esta origem única é entrar na maioridade.

Namaste. A humanidade está entrando na fase mais crucial da sua existência. Os próximos tempos serão testemunha das mudanças mais novas e inimagináveis no decorrer da sua longa evolução. A raça humana como uma unidade distinta coerente passou por vários estágios evolutivos e agora está se aproximando a sua tão aguardada entrada na maioridade.

Com os avanços científicos e tecnológicos decorrentes da ingenuidade da humanidade, o homem tem progredido muito no mundo material. Suas invenções tornaram a vida mundana mais confortável. No entanto, ele é infeliz. Apesar de todos estes avanços e invenções, o homem ainda está perdido. Sua incapacidade de expulsar o fantasma da guerra, a ameaça de um colapso da ordem econômica internacional, o alastramento da anarquia e do terrorismo o colocou em uma terra de ninguém.

A agressão e os conflitos de hoje, caracterizam nossos sistemas sociais, econômicos e religiosos. Isso porque ele quase não progrediu no mundo interior. Em sua louca corrida pela felicidade material, ele perdeu de vista que a fonte de sua tristeza está no caos interior. Sem reconhecer o vazio interior, ele se entrega a várias buscas, que servem essencialmente para mantê-lo ocupado numa tentativa de fugir do vazio.

Isto pode ser visto observando suas tentativas constantes de definir novas metas a atingir e de sua busca incessante pelo reconhecimento da sociedade. A conseqüência desse escapismo é adicionar estresse mental no conflito dentro da família, da sociedade e finalmente no conflito global.

A vida é um movimento. Ele oscila entre ordem e desordem, surgindo e desaparecendo. No curso natural dos acontecimentos, à medida que a ordem muda para a desordem isso seria se afastar de Oneness para a divisão. Em uma família sempre que há mágoa e desconfiança este é um movimento de se afastar de Oneness (para longe da Unidade). A cura do coração, o florescimento do amor é uma forma de retornar à Unidade/ Oneness.

Como seres conscientes, vocês poderiam usar a energia para promover o retorno do fluxo da divisão para a Unidade; para erigir um sistema social progressivo e pacífico, dinâmico e harmonioso, um sistema que dê liberdade para a criatividade individual e iniciativa, mas com base na cooperação e reciprocidade.

Quando há desordem na família, na política de boa vizinhança e nas diversas formas de vida, o retorno à Unidade dentro é possível. É atingível através da aceitação da vida e do vivenciar a si mesmo sem resistência e há alguma oportunidade de levantar a vida ao nível da ordem e da Unidade/ Oneness.

Quando o fenômeno Oneness começou recebemos várias revelações. Essas revelações apontam para o despertar da África levando à mudança global. As revelações mostraram que haveria uma aceleração do despertar em todo o planeta começando em 2012. Tudo o que precisa é ser um buscador com paixão, aquele que está preocupado com a humanidade e o sofrimento de toda a vida.

Aqueles que têm a paixão dentro são os que rapidamente despertam. Uma vez transformados, sua própria presença, seus níveis de consciência aumentados, naturalmente ajudarão os outros a alcançar níveis mais elevados de consciência.

Caos é sempre um precursor de uma mudança na consciência e certamente estamos em um momento de caos. Lembre-se, portanto, que todos os desafios vem na forma de desordem e divisão. Eles estão apontando em direção a uma grande ordem e Unidade. Uma vez que psicologicamente somos inseparáveis do resto da humanidade, cada indivíduo que desperta para a Unidade automaticamente impacta vários milhares de seres, ajudando-os a crescer em direção a uma maior experiência de realidade e de descobrir novas maneiras de viver e amar. Você cria um planeta melhor para o presente e o futuro. Namaste.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Economia: crise financeira

O recrudescimento da crise financeira iniciada em 2007, agora refletindo-se no equilibrio fiscal de algumas nacoes desenvolvidas, traz a tona a fragilidade da economia mundial e sua repercucao no campo social e politico.
Muitos acreditavam no final de 2010 que os efeitos nocivos da crise estavam em seu final e que a economia se preparava para a recuperacao.

A literatura tem se esforcado em registrar que a recuperacao de crises de confianca que afetam o sistema financeiro demoram muito a se consolidar, co muitos altos e baixos no caminho. As bolsas so retomaram patamar pre crise de 1929 vinte anos depois, entremeados por uma guerra mundial.

As consequencias economicas da crise se fez sentir imediatamente por uma reducao no ritmo de crescimento das nacoes mais desenvolvidas, pelo empobrecimento de suas populacoes e pelo aumento do desemprego. No lado politico a perda de hegemonia da moeda americana cria incertezas que desequilibram o jogo de forcas e leva a uma contestacao da ordem estabelecida, sem necessariamente colocar outra em seu lugar, como vem ocorrendo nos paises do norte da Africa. Socialmente podemos ver as revoltas na inglarerra como resultante da fragilizacao do tecido social em decorrencia das acoes para lidar com o (pos?) crise.

O mundo pos 2007 nao e o mesmo. A ordem pre estabelecida esta em franca degradacao e um novo jogo de relacoes economicas, politicas e sociais esta sendo erguido. O ceu nao sera de brigadeiro.

Como todo mundo em transformacao, havera muita sombra e incerteza. Se darao bem os povos que tiverem acumulado conhecimento e forem sabios para aproveitar as oportunidades, sem direitos pre estabelecidos. O novo nao respeita patentes, nem conquistas pre estabelecidas. sera preciso desprendimento e presenca.

domingo, 14 de agosto de 2011

Poesia: SER PAI - Rosa Bugarin

Ser pai, é possuir
o dom da mutação.
Ser grande em sentimentos
e pequeno, delicado,
no lidar, com a vida que desponta...


Ser pai, é esquecer
idéias chavões que são impostas
ao menino de calças:
--homem não chora—
--homem é forte—
--homem não retrocede—
--homem não mostra fraqueza—


Ser homem é ser viril!


Mas, ser pai, é ser assombro,
espanto, receio,
frágeis certezas,
grandes fortes mãos,
do tamanho do bebê que amparam,
cuidam, protegem, amam.
Olhos molhados, do pranto que enaltece,
amolece o coração
e fertiliza o amor...



Ser pai, é buscar semelhanças,
encantar-se na perfeição que criou.
Abandonar velhos conceitos,
vestir-se do novo,
no renovar dos sonhos indormidos.


Ser pai, é ter a magia
da força na suavidade,
no trilhar caminhos-aberturas,
no dividir o ímpeto e a fraqueza,
no moldar em retidão,
o homem de amanhã...


Ser pai, é mergulhar nas questões dolorosas
que turvam a limpidez de céu
de alguns olhares.
É não fugir dos impasses do crescer
e sofrer, crescendo, as perdas da inocência...


Ser pai, é ombrear com nosso Deus,
divinizando nossa humanidade,
na perfeição da criação divina,
humanizada em nossa eternidade
É andar alerta, suportando os revezes,
na dupla dor de ver sofrer o filho,
na escalada da vida,ás vezes,
vezes tantas, tão árdua...
É erguer o olhar para um céu sem nuvens
e sentir-se etéreo, como o vento leve
que transporta sementes
e acalma calores,
germinando a vida que espera...
Ver-se azul, como a amplidão do espaço
e transformar-se em cantar de passaredo.
Ser sol e lua, estrelas, melodias,
em sonhos de beleza e inquietude
e esperanças infindas...


Ser pai,é viver o peso,
doce jugo,
de orientar a vida que começa,
de amar com o amor que só pais amam
e descobrir, um dia com assombro,
espanto, encanto,
que outro homem, caminha ao lado seu,
que fortes mãos, amparam as suas,
ora trêmulas.
Que passos jovens, regulam o caminhar
das pernas, ágeis, agora reticentes.
Que a voz de outrora, apenas balbucio,
fez-se forte e decidida, vencedora,
e faz-se doce, para seus ouvidos,
ora cansados, do muito que escutou...
Que aquele amor, imenso, delicado,
envolve o velho o velho pai,
em seda de doçura,
em arrimo de ternura
e atenção constantes...
Que a menina de ontem, faceira e carinhosa,
pela magia do bem, que tudo pode,
tem gestos de mãe, que acaricia
cabelos brancos que falam de um tempo
que passou , de repente, sem doer,
tão de mansinho.
E foi marcando os momentos de amor, de partilha,
de perdas e ganhos,
de presenças e saudades,
de vida bem vivida,
sem lamentos,
na gratidão do dom que nos foi dado...


Ser pai, é ser o hoje e o amanhã,
sendo sempre a luz que ilumina,
aclara e dá sentido,
farol e segurança...
Maestro de caminhos,
humilde e dedicado
que deu o tom,
o som,
o ritmo,
a harmonia,
a beleza,
a condução,
a força que perdura,
escrevendo a história, na mmúsica da vida!...


Rosa Maria
Brasília, Agosto, dia dos Pais

domingo, 20 de março de 2011

Somos Um: Japão e a nova sociedade

Não preciso dizer que tenho dificuldades de expressão diante da dor alheia. É mais fácil lidar com a minha. Ver toda a destruição pela qual o Japão e seu povo passou, ou está ainda passando com o terremoto, o maremoto e agora com a crise nuclear, me deixa atônito.

Mais uma vez vale as observações de Ulrich Beck. Até o século XIX éramos dependentes da natureza. Respeitávamos a ela. Sujeitávamo-nos às suas intempéries. Depois acreditamos, ou nos iludimos de que tínhamos conseguido controlá-la. O ser humano passou a olhar só para seu umbigo. Seu esforço para crescimento individual era só o que importava, uma vez que não mais precisava do coletivo para lidar com o imponderável da natureza. A sociedade dos outros, como descreve Beck é aquela em que a miséria era do outro. O desastre ocorria apenas por falta de cuidado do outro. Conosco não ocorria nada porque éramos virtuosos.

A sociedade que surge da energia nuclear vira de cabeça para o ar a questão do individualismo. Mesmo dominando a natureza, uma falha humana feita em uma usina nuclear pode contaminar a todos, ou muitos, mesmo aqueles que tiveram uma existência exemplar, como ocorreu com Chermobil. A crise financeira internacional e os tristes fatos que afetam o Japão agora devem afundar de vez o individualismo exacerbado. Falhas alheias podem desempregar multidões, destruir economias, abalar a saúde alheia e até matar milhões. Por cima disto fica evidente de que não dominamos a natureza, era só uma ilusão do século XX. E a natureza tem respondido com fúria a essa ilusão. Nos fazendo ver a duras penas o quão tolo fomos.

Que sociedade nascerá depois da crise de 2008 e do terremoto do Japão? Já não é mais a sociedade onde a “culpa” é dos outros. Provavelmente será uma sociedade mais consciente. Uma sociedade mais atenta a sua co-responsabilidade. Não uma sociedade mais forte, mas provavelmente uma sociedade mais consciente de sua própria fragilidade. Uma sociedade melhor a meu ver.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Somos Um: o Bom ou o Certo?

Eliana Cardozo traz-nos uma discussão muito interessante sobre que decisão tomar diante de alternativas e utiliza pensamento de Amartya Sem para guiar-nos nas escolhas. Devo confessar que sou um utilitarista, acho que as coisas fazem sentido pela função que têm em nossas vidas. Assim no caso da flautista, preferiria que ficasse com quem sabe tocar, pois geraria bem estar para todos ouvi-la. De que serve uma flauta, se não for para produzir música? Assim, embora entenda a importância da pluralidade, se tiver de decidir sozinho, escolherei o bom.

Artigo escrito por Eliana Cardozo no Valor Econômico de 25 de fevereiro de 2011.

Amartya Sen debate John Rawls e ilustra o papel de diferentes visões filosóficas no entendimento da justiça. E mais: se existe conflito entre"o bom" e "o certo", como escolher?

Imagine que você tenha de decidir para quem dar a flauta pela qual brigam três crianças - Ana, Bob e Carla. Ana argumenta que é a única das três que sabe tocar o instrumento. Bob afirma que é tão pobre que a flauta seria o seu primeiro brinquedo. Carla revela que trabalhou todos os dias durante o último mês para fabricar com as próprias mãos o instrumento musical. Para qual das três crianças você daria a flauta?
Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, na introdução de "The Idea of Justice" (Harvard University Press, 2009), afirma que você pode dar a flauta para qualquer uma das três crianças. Sua preferência encontraria justificativa em critério objetivo tão imparcial quanto a oferecida por alguém que, por possuir uma persuasão filosófica diferente da sua, escolhesse outra criança. A prova?

O teórico igualitário daria a flauta a Bob, porque quer reduzir as diferenças de renda. O libertário daria a flauta a Carla, porque ela teria direito ao fruto de seu esforço. O utilitarista daria a flauta a Ana, porque, sendo a única que pode tocar flauta, será a que pode extrair maior prazer de sua posse.

Qualquer uma das decisões tem a seu favor fortes argumentos, que se aplicam não apenas à disputa da flauta entre as três crianças, mas também à alocação de recursos na sociedade e aos princípios que norteiam arranjos sociais e escolhas institucionais. Assim sendo, talvez seja impossível um arranjo social a respeito do qual todos concordem, porque ninguém seria capaz de demonstrar que tal arranjo é o único a preencher os requisitos da imparcialidade objetiva.

Mas, se concordamos que existe amplo espaço para desacordo, como garantir que a sociedade prefira uma solução à outra? Existe uma forma de combinar as opiniões e valores individuais numa escolha coletiva que seja a melhor possível?

Sen argumenta que, assim como os consumidores podem ordenar suas preferências, dadas as restrições orçamentárias, nós deveríamos ser capazes de avaliar e ordenar situações sociais alternativas levando em consideração os valores sociais. Poderíamos então avaliar as consequências dessas situações sociais para o bem-estar comum e decidir qual a melhor alternativa.

Para chegar a essa conclusão, Sen parte da crítica da obra de John Rawls, autor de "A Theory of Justice" (Harvard University Press, 1971). Rawls demonstra que a justiça requer que a sociedade seja governada por princípios sobre os quais pessoas livres, racionais e em situação de igualdade estariam de acordo.

Considere o argumento de Rawls. Imagine a situação em que cada um de nós se encontra antes de nascer, ignorante de seus dotes pessoais e das particularidades da situação que ocupará na sociedade em que vai viver. Imagine que dessa "posição original" pudéssemos entrar em acordo sobre os princípios de justiça que deveriam reger a sociedade à qual iremos pertencer. Rawls demonstra que o acordo seria tal que preencheria três princípios. O primeiro garantiria a todos a liberdade de consciência, pensamento e expressão, a liberdade de associação e a igualdade política. O segundo princípio atribuiria a todos a igualdade de oportunidade para desenvolver os próprios talentos e competir por posições sociais. O terceiro princípio exigiria que a sociedade enfrentasse as desigualdades econômicas transferindo renda para os mais pobres.

A principal crítica que Sen faz da teoria de Rawls é que ela é "transcendentalista", isto é, usa princípios universais para criar a sociedade ideal que seria perfeitamente justa. Sen, que está interessado em tratar das injustiças observadas no mundo de hoje, considera que tal teoria é irrelevante.
Será? Sen parece se esquecer que a idealização da sociedade perfeita é um passo importante, porque permite o uso de um filtro, que deixa de lado considerações irrelevantes, para se concentrar nos fatores que de fato determinam a justiça social. Muitas questões de reformas e políticas sociais precisam dos fundamentos da teoria ideal de justiça para sua elucidação.

A contraproposta de análise comparativa que Sen oferece talvez possa ser usada nas deliberações legislativas em que os congressistas precisam fechar acordos. Mas mesmo a legislação que resulta desses acordos e compromissos é produto de propostas alternativas baseadas em justificações de princípio.

As discussões de políticas para a educação utilizam o princípio de igualdade de oportunidades de Rawls. E seu princípio de enfrentamento das desigualdades através da assistência aos grupos mais pobres é invocado com frequência para contrabalançar o utilitarismo: os governos não devem perseguir apenas a maximização da riqueza nacional, mas precisam tomar em consideração as consequências de suas políticas para os grupos mais pobres e cuidar para que seus benefícios cheguem a eles.
A divergência entre Sen e Rawls se encaixa na tradição que distingue "o bom" e "o certo". Os "consequencialistas" (preocupados com o que é bom para os homens) dizem que a justiça requer instituições que promovam o máximo de bem-estar para a maioria da população. Os "deontologistas" (preocupados com o que é certo) dizem que a justiça deve restringir os meios utilizados na conquista do bem-estar e impor o respeito aos direitos individuais e à distribuição equitativa. Rawls (como outros kantianos promotores do contrato social) são deontólogos. Sen (como os utilitaristas) pende para o consequencialismo.

Sen ilustra o dilema com o diálogo entre Arjuna - o grande guerreiro do épico "Mahabharata"- e seu amigo e conselheiro, Krishna, na véspera da batalha em Kurukshetra. A batalha será entre os Pandavas, de cuja virtuosa família real Arjuna é membro, e os Kauravas, seus primos, que usurparam o trono. Arjuna é o guerreiro invencível que deve liderar os Pandavas e Krishna - a encarnação em forma humana de um deus indiano - conduz o veículo de Arjuna.

Arjuna e Krishna observam os exércitos dos dois lados e refletem sobre a gigantesca batalha que terá lugar no dia seguinte. Arjuna então se pergunta se deve lutar. Ele não duvida de que está defendendo uma causa justa e que vencerá a batalha. Mas as mortes serão numerosas e ele terá que matar muitas pessoas que nada fizeram de errado, exceto divergir sobre quem deveria ocupar o trono e, muitas vezes, o fizeram por lealdade e laços de família. Sua ansiedade reflete não apenas a repugnância pela carnificina, mas um sentimento de horror pelas mortes de pessoas com quem tem ligação de parentesco ou amizade e pelas quais será pessoalmente responsável. Arjuna sugere que se sente disposto a desistir da batalha e deixar os Kauravas reinar.

Krishna se opõe. Seu argumento se concentra na prioridade do dever, sejam quais forem as consequências dos atos ditados por ele. Argumenta que Arjuna terá de cumpri-lo, aconteça o que acontecer. A causa é justa. Arjuna é o general do qual seu exército depende e, portanto, não pode fugir de suas obrigações.

O diálogo continua e cada um desfia seus argumentos até que Arjuna reconhece que Krishna tem razão. O discurso de Krishna se tornou tão influente que até Gandhi, o maior defensor da não-violência, se dizia inspirado pelas palavras de Krishna sobre o cumprimento do dever.

Sen, entretanto, pergunta se era Arjuna quem estava de fato errado. Será que a crença no cumprimento do dever de lutar por uma causa justa independe de suas consequências? Será que o dever pode dominar o desejo de não querer matar outras pessoas?

São perguntas difíceis. Mais difíceis do que encontrar a representação pictórica adequada à justiça. Em 1625, Rubens a pintou como uma mulher roliça, de espada na mão, a esmagar uma cobra com o pé. Um cordeiro se aconchega ao seu lado direito, enquanto, do outro lado, uma raposa se põe em fuga. Mas, na década de 1930, Ellsworth Kelly preferiu representá-la pelo equilíbrio entre painéis quadrados de cores diferentes na parede oval da corte de Boston. Dessa forma, o espectador poderia criar seus próprios significados.

www.elianacardoso.com

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Literatura e Vida: Uma homenagem a Saramago

SARAMAGO E PILAR DEL RIO

retirado do blog Recanto das Letras
http://recantodasletras.uol.com.br/homenagens/2328303


É Pilar del Rio, a jornalista, espanhola de Sevilha, agora viúva de José Saramago, a contar como o conheceu e como se identificaram tanto por serem marxistas e apaixonados pela literatura. Encontraram-se pela primeira vez em 1986 e o primeiro passeio que fizeram foi ao Cemitério dos Prazeres onde visitaram o túmulo de Fernando Pessoa.

Daí em diante, a literatura se encarregou de unir os dois, um senhor e uma jovem mulher em meio à casa dos cinquenta anos de idade.

A literatura parece primar por histórias assim, aos olhos do mundo incompreensíveis, mas que a todos encantam por realizarem o mito das almas gêmeas. Casaram-se e passaram a morar, inicialmente, em Lisboa onde Pilar se sentia em casa, cumprindo a passagem bíblica de “o teu povo será o meu povo, a tua casa será a minha casa”.

O escritor e, frise-se, também poeta, José de Souza Saramago, nascido em Azinhaga, no Ribatejo/Portugal, em 16 de novembro de 1922 e falecido em 16 de junho de 2010, em Lanzarote, _ uma ilha espanhola, nas Ilhas Canárias, onde vivia com a mulher e musa. Nobel de Literatura e Prêmio Camões, sofreu perseguições da igreja católica pelas suas declarações e posições políticas. Não negou seu ateísmo.

Casaram-se Saramago e Pilar duas vezes, uma em Lisboa, 1988, e outra em Granada, Espanha, em 2007. Viveram 22 anos em harmonia. A única filha de Saramago, do primeiro casamento, Violante, está aos 63 anos de idade, portanto à frente de Pilar.

Sobre o que mais apreciava no marido, a segura e inteligente jornalista e tradutora de sua obra, María del Pilar del Rio Sánchez, disse em entrevista:

“La coherencia que tiene. Es que no hay posibilidad de distinción entre la persona y el escritor. Es un hombre de una sola pieza y es coherente de la mañana a la noche y de la noche al día.”

Saramago não acreditava na vida eterna, mas sim, no amor e sobre este disse: "Nossa única defesa contra a morte é o amor". Segundo Anabela Mota Ribeiro, afirmou sobre Pilar o escritor: “mais do que um anjo, uma mulher. Podia ser qualquer outra, dirá você. Pois, mas é esta. A diferença está aí. De anjo tem muito pouco. É de carácter demasiado forte”. E foi por ela que o escritor se tornou “el hombre que paró todos sus relojes a la misma hora solo por amor”, a hora em que conheceu Pilar.

Nota-se nas leituras sobre este tema que não era um amor espetacular, no sentido de show, mas um amor grandioso, moderno. Saramago, como vimos, frisou do caráter firme da sua mulher e não a compararia a um anjo, mas a uma mulher mesmo.

Era um homem sério, passado por duras experiências, especialmente na infância e juventude. Desassombrado, referiu-se ao fim da vida dessa forma: "No me hablen de la muerte porque ya la conozco".

Para finalizar esta pobre homenagem, acrescento um pensamento e um poema de Saramago:

“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos.”


Espaço curvo e finito


Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.



Tânia Meneses_1
Publicado no Recanto das Letras em 19/06/2010
Código do texto: T2328303

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Somos Um: Lixo EXTRAORDINÁRIO

Há tempo que não vou ao cinema. A vida corre, a noite depois de vários expedientes, sucessos e frustrações, falta ânimo para sair de casa, a vida cotidiana nos mata mais que a morte, como diz Miguel de Ortyz.

Ontem vi Lixo Extraordinário. EXTRAORDINÁRIO.

http://www.lixoextraordinario.net/

Passa-se no aterro onde se coloca lixo do Rio de Janeiro e onde uma série de seres humanos passa dias e noites catando itens reciclados. No Jardim Gramacho.

O filme retrata o outro lado do luxo, o outro lado da mesma moeda, o lixo. Consumimos muito - criamos muitos dejetos. Neste universo, onde o luxo vira lixo, onde são piores as condições de saúde e higiene, trabalham seres humanos em busca do sustento digno de suas famílias. Homens, mulheres, velhos e crianças, todos a postos, dia e noite, para catar garrafas pets, latinhas de alumínios e outros itens recicláveis, no meio de todo tipo de sujeira e restos. No meio de tudo isto aparece e resplandece a força humana, a dignidade, a vontade de viver, a coragem de enfrentar a descriminação, a perfeição: 99 não é 100, a alegria e a solidariedade. No meio de tudo isto aparece a união dos catadores, sua associação e sua luta por melhores condições de vida.

É um filme real, filmado como documentário, cujos artistas são os protagonistas da vida real dos catadores, de carne e osso. Expondo com coração aberto suas mazelas, suas misérias, seus medos, seus amores, suas paixões, seus motivos, seus desejos e suas vontades de mudar. Nele não há vivos mortos, embora haja mortos cuja dignidade e esperança marca a vida de todos.

O filme mostra o que nenhum doutorado pode nos ensinar: a arte de viver e crescer.

Somos Um: uma homenagem a Clovis Sena

Lido por um amigo em sua despedida.

No
de Miguel de Ortyz y Ortustre

No son los muertos los que en Dulce calma
la paz desfrutan en una tumba fría.
Muertos son los que tienen muerta el alma
y están vivos, todavía.

No son los muertos, no, los que reciben
rayos de luz en sus despojos yertos.
Los que han muerto, con gloria, son los vivos.
Los que sin ella viven son los muertos.

La vida no es la vida que vivimos.
La vida es el honor, es el recuerdo.
Por eso hay muertos que en el mundo viven.
Y hombres que viven por el mundo, muertos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Política - Um ditador a menos

Trinta anos no poder, governando em estado de emergência. Que o povo Egípcio tenha sabedoria na construção dos novos dias, que a democracia se estabeleça e que tenham mais sorte com políticos honestos que temos tido! Viva a Democracia!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Política - Fora Mubarak

Ficha Limpa em 2010, Tunisia em 2011 e agora o Egito.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Somos Um: O que você tem a dizer para o mundo?

Há coisas que escrita por outros enchem nossas almas. Acredito nisto que o Nizan descreve, por isto publicarei na íntegra. Pode até parecer longo, na verdade é completo.

NIZAN GUANAES na Folha de São Paulo dia 8/2/2011

Não é o dinheiro, estúpido

SOU, COM FREQUÊNCIA, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais. Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores da coluna.

Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio.

Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado.
É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração.

Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência.

Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.
E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.

A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.

Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos.

A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho. (com todos seus defeitos e robalheiras a democracia ajudou a criar o país de nossos sonhos, há muito que fazer, serão conquistas futuras, comentário do Zé)

Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.

É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).

Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.

Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés.

Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa.

Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.

Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso". Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.

Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.

Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Somos Um e Política: Mercado, Estado e Distribuição de Renda

Por muito tempo neste país e no mundo, a questão da distribuição de renda era vista como uma bandeira do “comunismo” ou dos padres de “esquerda”.
A guerra fria criada entre soviéticos e americanos traduzia o espírito de guerra de idéias entre aqueles que acreditavam que o mercado era a melhor forma de alocação dos recursos e aqueles que viam o mercado como coisa a ser abolida em nome do bem comum.

Lado a lado esta divisão crescia na Europa a opção social-democrática, baseada na dissidência do marxismo do início do século e na teoria econômica keynesiana, a social-democracia ganha o aspecto de estado do bem-estar. Nele, o mercado é visto como forma legítima de expressão das relações econômicas da sociedade civil, mas se aceita suas limitações na criação de uma sociedade mais justa e autônoma. Também se reconhece a dificuldade de se encontrar o equilíbrio apenas pelas soluções de mercado.

Este modelo político econômico entrou em crise em 1973 com o aumento no preço do petróleo, a falência do sistema de pagamentos internacionais criado em Bretton Woods e o esgotamento da capacidade do estado do bem-estar em lidar com estas restrições.
De lá para 2008 o mundo viveu o apogeu do liberalismo, qual seja da opção por soluções de mercado para todas as questões econômicas e até políticas.

A queda do muro de Berlin e a enorme sofisticação do sistema financeiro internacional foram fruto disto. A economia mundial viveu também um período de ouro. Todos os problemas poderiam ser resolvidos com as soluções de mercado. O estado mínimo voltou a se tornar solução.

Não vou falar aqui das falhas de mercado que levaram à provavelmente maior crise financeira que este mundo que conhecemos já viveu e da qual apesar da reação correta dos governos, ainda não nos livramos e que trouxe a tona mais uma vez a necessidade da intervenção do estado na economia para sanar falhas de mercado.

Mas vou falar da questão da distribuição de renda. Se quisermos criar uma sociedade mais justa, melhor olharmos para esta questão. A julgar pelos que acreditam que o mercado resolveria todas as questões, estudos divulgados pela Veja da semana passada mostram que dos anos 90 aos anos 2000, piorou a distribuição de renda.

Instituições como o Fundo Monetário Internacional, que antes não se preocupavam com o assunto agora vêem esta questão como importante de se tratar para o equilíbrio dos mercados. Estudos mostram que sociedades com melhores distribuições de renda apresentam mais baixos índices de criminalidade e de violência urbana. Parece que agora, sem mais vestígios da guerra fria, sem mais a divisão ferrenha entre liberais e comunistas, estamos mais livres de nos posicionarmos a favor uma questão tão importante para a humanidade, uma sociedade menos desigual econômica e socialmente. Não é criar um caminhão cheio de robôs iguais, mas é permitir que o talento de cada um possa se dar, é dar condições para que todos tenham oportunidades de desenvolver sua potencialidade e que a riqueza seja também reconhecida como um bem coletivo.

Os programas de distribuição de renda são um começo para reduzir a desigualdade. Mas podem ser muito pouco se não estimular o interesse de quem o recebe de buscar se desenvolver para participar do processo criativo. Se não na geração que o recebe, pelo menos nas gerações seguintes. O mercado não resolve tudo, mas ele é a expressão da criatividade e da participação da coletividade individual. Se não for criado mecanismos que estimulem que as pessoas que recebem estes aportes financeiros participarem dos mercados, podem produzir efeito reverso ao que se intenciona. Em vez de criar uma sociedade autônoma, pode criar uma sociedade dependente.

Como um mosaico, o mercado reflete o todo construído de partes e das belezas individuais, mas também como um mosaico, se colocado de forma aleatória as partes individuais podem gerar um mosaico caótico e esteticamente desequilibrado. Assim mercados e estado devem se complementar para criar uma sociedade mais justa, menos desigual, com mais oportunidades para todos os seus participantes.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Somos Um: sem palavras para Tragédia Serrana

Quem lê o blog do Zé Ricardo deve perceber que ele demora a reagir a notícias de tragédias, como a do ano que passou no Rio, e esta que assistimos nos meios de comunicação.

Todos os tipos de comentários são feitos, culpados são encontrados, medidas são tomadas, visitas são feitas. Para mim, o primeiro impacto é calar meu coração. Não há o que dizer que alivie a dor de quem está vivendo na região serrana.

Costumávamos dizer que Deus era brasileiro, que nada de mal a natureza nos causava. Parece que isto está mudando. Não, não é que Deus deixou de ser brasileiro, para mim ele é brasileiro, americano, africano, árabe, judeu, coreano e nunca privilegiou o Brasil diante de seus outros filhos.

Mas a natureza está mostrando sua fúria em todos os lugares. Nós nos sentíamos isolados de sua força. Desprezávamo-la como submetida a vontade do homem, do Homem Deus Brasileiro. Agora ela mostra que não é bem assim. Ela chegou com força e encontrou um povo despreparado para lidar com ela. Bem que ela deu alguns avisos, vários, em várias cidades brasileiras. Mas nós, não só os governantes corruptos e não corruptos, nós não demos atenção. Foi com o vizinho. Aliais, fazemos isto com muitas coisas. A dor do vizinho não nos afeta e por isto não é problema nosso.

A natureza bateu e desta vez bateu indiscriminadamente, em ricos e em pobres, com a mesma fúria e intensidade. Talvez agora, que alguns sobrenomes famosos e contas bancárias fortes, sejamos mais atentos aos gritos da natureza.

Mortes e sofrimentos não têm lado bom. Principalmente quando nós estamos envolvidos. Mas se pelo menos começarmos a ouvir a natureza, a nos preocuparmos com ela, nos prepararmos para sua fúria. Se pelo menos começarmos a perceber que a vida humana vale não pelo sobrenome que carrega,ou pelo tamanho da conta bancária, mas pela beleza de Ser Humano, independente de sexo, de religião, de crença, de opção de vida, de cor. Se talvez se a Dor Serrana abrir nossos olhos para o nosso próximo e para a necessidade de nos cuidarmos e nos ajudarmos coletivamente a prever e a socorrer na hora de dificuldade, os mártires da Serra terão feito algo para a Humanidade Brasileira. Ai Deus deixa de ser brasileiro, protetor dos ricos, e passa a ser a origem de Todos Nós.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Política: Brasil optou pelos direitos humanos

O Irã não está satisfeito, pois autoridades do governo Dilma se opõem ao apedrejamento de Sakineh Ashtiani.

A começar pela própria presidente Dilma que, em entrevista em NY há algumas semanas, criticou o posicionamento do Brasil na ONU ao abster-se em relação à condenação e às práticas contras as mulheres.

O chanceler Antonio Patriota confirmou, dizendo que a questão do apedrejamento vai contra o que o governo eleito representa.

A ministra da cultura Ana Holanda afirmou ser abominável o apedrejamento.

Estamos no rumo certo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Somos Um: Despertar para Ammabaghavan

Adaptação feita pelo blog a partir de tradução de http://www.onenessuniversity.org/

Vale refletir

"A mudança acelerada, em que se encontra o mundo, levou a um aumento da incerteza em todas as esferas da vida. A nível individual há crescente insegurança no que diz respeito às relações de trabalho, saúde e a nível global há ansiedade sobre a economia de mercado flutuantes, ecologia precária e conflitos. E esta experiência da humanidade como um todo está afetando o indivíduo o tempo todo. Assim como a pressão de todo o oceano é exercida em cada gota, do mesmo modo todo o universo impacta cada indivíduo.

A afirmação da separação do homem com o todo tem destruído a nossa capacidade de trabalhar em conjunto. No entanto, está se tornando cada vez mais essencial, se quisermos sobreviver, que haja um espírito de cooperação com o universo. Porém, fica difícil para cada indivíduo cooperar com o outro, a menos que dentro de si haja harmonia, que ele não esteja dividido ou em conflito. Mas enquanto a mente dominar todas as nossas ações, não poderá haver cooperação.

Despertar é o florescimento do coração, pelo qual é vista a causa de um problema e o surgimento do sofrimento. O sofrimento pessoal deve ser uma coisa do passado. Todos os sentimentos devem surgir e desaparecer sem resistência. Feridas emocionais são difíceis de sustentar. Uma delas é em casa, mesmo em meio a estranhos, o mundo é o lar. Sente-se um maior senso de conexão com todos os povos e todas as coisas.

Isto é possível apenas quando se estabelece uma conexão poderosa com Deus. Só então é que a responsabilidade do homem sofrerá uma mudança radical. Despertar é uma viagem a ser feita não é um destino a ser alcançado. O despertar é um processo em que você acorda do sonho à realidade. A vida desta maneira é tão comum que é extraordinário. Sente-se que, é assim que sempre temos sido."

Que 2011 seja um ano de Despertar para muitos.

Economia: Desafios dentro e fora

Enquanto nosso ministro da fazenda acusa o mundo desenvolvido de promover guerra cambial, os países ricos enchem os mercados de liquidez para tentar levantar suas economias da grave crise financeira instalada desde 2007/8. O excesso de liquidez destes países tem criado dificuldades para os países emergentes (Brasil entre eles), pois provoca forte entrada de capital, apreciando a moeda local, barateando os produtos importados e tornando mais caros nossos produtos no exterior. Ou seja, a forte entrada de capitais cria dificuldades para os produtores e exportadores nacionais, provocando queda na indústria e piorando o nosso balanço de pagamentos.

Eu tenho dito que não existe guerra cambial. Se algum país manipula diretamente sua taxa de câmbio este país é a China. O aumento de sua produtividade, o forte superávit em seu balanço comercial com o resto do mundo e seu crescimento exacerbado deveria ser acompanhado de apreciação cambial em relação ao dólar. Ao manter sua moeda fixa, toda vez que o dólar cai no mercado internacional, sua moeda cai junto e estimula suas exportações e sua indústria. A China sim, com sua política de cambio fixo está agindo como guerreiro comercial. Em compensação está vendo seus preços domésticos subindo, é natural.

Os EUA e a Europa estão tentando soerguer suas economias utilizando medidas de política monetária e fiscal de alguma forma consensual, embora não unanime.

Junte-se a este excesso de liquidez externa e a política cambial chinesa a política de expansão de gastos públicos adotada pelo governo brasileiro nos últimos dois anos de aumentar os gastos correntes em detrimento de infra-estrutura e encontra-se uma economia aquecida, com preços e juros em alta, o que só estimula a uma maior entrada de capitais no país.

Crescimento e apreciação câmbio é um pacote, não andam separadamente no longo prazo. O que precisamos é criar mecanismos e incentivos para as empresas nacionais reduzirem seus custos, aumentar a produtividade dos fatores de produção e investirem em pesquisa e desenvolvimento. Assim poderemos, apesar da apreciação cambial, continuar a ser competitivos no comércio internacional e manter os preços domésticos mais baixos.

O governo tem que fazer sua parte, investindo em infra-estrutura para reduzir custos de transporte das mercadorias, reduzir impostos, especialmente aqueles que ainda incidem sobre produtos exportáveis, reduzir burocracia para facilitar iniciativas criativas por parte dos brasileiros, facilitando os empreendimentos e criando possibilidade de maior ganhos por parte de pessoas que ainda não utilizam seu potencial.

Educação, não reprodução de conhecimento, mais que isto, educação criativa, que pensa e desenvolve é uma das prioridades nacionais.

Se governo e iniciativa privada (a sociedade civil) fizerem sua parte, o bônus demográfico (ver artigo mais abaixo neste blog sobre envelhecimento populacional) poderá nos levar ao primeiro mundo mais rápido que esperávamos. Mas se não fizermos nada, deixaremos de ser emergentes e voltaremos a ser BelÍndia.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Poesia: Amor e Amizade

Enviado por uma amiga

Perguntei a um sábio, a diferença que havia entre amor e amizade.
Ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível, a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas, a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho, na Amizade compreensão.
O Amor é plantado e com carinho cultivado,
A Amizade vem faceira e com troca de alegria e tristeza, torna-se uma grande e querida companheira.
Mas quando o Amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a Amizade é concreta, ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo ou uma grande paixão, ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

William Shakespeare

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Política e Ecologia: Alckimin transfere recursos de propaganda para Tietê

PARABÉNS GOVERNADOR ALCKMIN a transferência dos recursos da comunicação para o Tietê beneficiará muito mais pessoas. Que sua atitude sirva de exemplo para outros.

do http://sosriosdobrasil.blogspot.com/
Roberto Almeida - O Estado de S.Paulo

Após extinguir a Secretaria de Comunicação do governo paulista, o governador Geraldo Alckmin decidiu ontem remanejar R$ 24 milhões da verba que estava prevista para a pasta. O destino do montante foi o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), que a usará para desassorear a calha do Rio Tietê.

A ação de Alckmin vai na contramão dos investimentos que o seu antecessor, José Serra, fez na extinta secretaria. Serra gastou R$ 448 milhões com a Comunicação em seus quatro anos de governo. "Autorizamos hoje o Daee para fazer a suplementação e retirar um milhão de metros cúbicos (de material assoreado da calha do rio)", afirmou Alckmin, que pretende realizar a limpeza completa da calha em dois anos.
Durante a transição paulista, o tucano anotou diversas vezes que manter a área da Comunicação como uma secretaria não fazia sentido para sua gestão. Ela será transformada em uma coordenadoria, mas o nome do gestor ainda não foi definido.
Economia. Enquanto isso, o governador continua em obstinada marcha por cortar gastos do governo. Ontem, durante a primeira reunião com o secretariado, no Palácio dos Bandeirantes, disse aos titulares que manterá rédeas curtas na gestão. "Secretário alugar avião e helicóptero, só para caso de enfarte do miocárdio", afirmou, segundo relato de um dos secretários presentes.
Alckmin pediu também à sua equipe que procure os recém-empossados ministros para abrir canais de interlocução com o governo federal. Ele quer decisão rápida sobre investimentos para os aeroportos de Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas. Fonte Jornal O Estado de S. Paulo

Política: Esperança em Dilma

Minha esperança, um governo mais eficiente na gestão da coisa pública, menos populista e menos personalista.


do blog do Noblat

Um porta-voz de si mesmo 01 de janeiro de 2011 | 2h 49
João Bosco Rabello

O presidente Lula entrará para a história como o que mais falou para o País. Compareceu diariamente aos telejornais, para manifestar-se sobre tudo e sobre nada. Não há exagero em dizer que governou literalmente do alto dos palanques. Foi o porta-voz da República e de si mesmo.

Essa circunstância, mais que qualquer outra, dá consistência ao bordão que usou exaustivamente, do "nunca antes neste país". Lula fez nada menos que 2.519 pronunciamentos nos seus oito anos de mandato, o que equivale a um discurso diário.
Não entram nessa conta as declarações avulsas e de improviso nos chamados "quebra-queixo" (as entrevistas não programadas, dadas em pé) nem o programa Café com o Presidente.

Longe da casualidade, a performance é estratégica: permitiu que impusesse, pela insistência, suas versões, a despeito, não poucas vezes, dos fatos. De quebra, deixou a impressão de ter feito muito mais do que fez. E de ter acertado bem mais do que acertou. E era exatamente essa a ideia. Nesses termos, foi bem-sucedido.
O duelo das versões com os fatos começou pela difusão da ideia de "herança maldita", mencionada já no dia seguinte à posse.

Estabelecida, usurpou de seu antecessor a autoria do programa que lhe permitiu êxitos na economia: fim da inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal, câmbio flutuante autonomia operacional do Banco Central.

Lula manteve o modelo econômico que herdou (e combateu), inclusive nomeando como autoridade monetária máxima um quadro do PSDB, Henrique Meirelles, cuja performance técnica lhe permitiu ousar nos programas sociais, obtendo tal popularidade que o blindou dos constantes desvios éticos de seu governo.

O mérito de preservar (sem confessar) o modelo, associado à ampliação da política assistencialista (também inspirada no antecessor), produziu efetivamente transferência de renda. A ousadia na administração da crise externa incluiu de vez as classes C e D no mercado consumidor, com a expansão do crédito.

Transferência de renda, expansão do crédito e do consumo deram-lhe a vitória eleitoral - e um lugar mitológico na história política nacional -, mas configuram uma camada bruta de maquiagem na falta de gestão que permeou seu governo e no retrocesso político que significou o exercício de uma democracia direta viabilizada por um Legislativo acocorado.

A sucessora que elegeu assume o comando pressionada por um ajuste fiscal sempre sofismado e herda os efeitos da ausência de gestão de seu padrinho político: um País sem infraestrutura para o crescimento que se anuncia; um ensino sem qualidade, administrado por estatísticas; saúde e segurança em estado falimentar.
Além disso, Dilma Rousseff terá de administrar uma aliança fisiológica tão heterogênea que Lula não a quis para si próprio.

No plano político, à falta de qualquer sinal mínimo de reforma, a memória que fica é a do presidente que violou todas as regras e princípios que regem a conduta de um chefe de nação, sobretudo no período eleitoral, que antecipou ilegalmente em quase dois anos. Permitiu-se até o deboche, sem que a Justiça Eleitoral reagisse.

Na política externa, saiu pior do que entrou. Chegou ao destempero de comemorar a crise econômica dos Estados Unidos - de resto, mola propulsora do declínio da Europa e responsável pela crise internacional, que infelicita milhões de pessoas. Passou um sentimento juvenil de vingança contra o "imperialismo do Tio Sam".

O seu legado é positivo pelo que exibiu de sensibilidade social, mas amplamente negativo pela conduta populista extremada, que costuma apresentar a conta de seus efeitos bem depois. Sua despedida do poder - a mais ruidosa de que se tem notícia - impõe ao País uma overdose de personalismo.

Tudo sugere - essa a esperança dos cientistas políticos que ele tanto ironiza - que sua sucessora se defina por um perfil mais gestor que político, até porque o primeiro ela o tem; o segundo terá de aprender na prática.

A expectativa, em suma, é de que haverá sensível redução personalista da instituição Presidência da República em favor de uma gestão voltada para reformas inadiáveis, como as da Previdência, do trabalho e política, com mais eficiência e menos marketing. Isso, claro, se Lula, que não dá sinais de que sairá de cena, o permitir.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/Default.asp?a=111&cod_blog=129&ch=n&palavra=&pagAtual=3

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Somos Um: uma triste estatística

O direito à vida e à diversidade - uma herança maldita

Tanta bravata de nosso ex-presidente mas pouco esforço para garantir o direito à vida daqueles que optaram por uma vida diferente. O ódio preconceituoso deve ser combatido por todos os governantes, sejam este ódio contra homossexuais, contra pessoas de coloração diferente, contra pessoas com posicionamento político distinto, contra pessoas com crenças religiosas não tradicionais e tantas outras diferenças. Não construiremos uma sociedade justa, irmã e harmônica se não garantirmos a todos o direito à vida e de expressar-se com liberdade e respeito


Em artigo para O Globo, antropólogo Luiz Mott afirma que Lula foi irresponsável no combate ao HIV entre homossexuais

Mott também defende que faltou vontade política para acabar com a homofobia. Leia o texto a seguir.

Uma cruel liderança

Recentemente, o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, ao receber no Palácio do Planalto o prêmio de direitos humanos, provocou riso nos governistas presentes ao intitular Lula "Papai Noel dos Gays". Anos passados, ao receber idêntica premiação de FHC, abri uma faixa "Gays querem justiça!", protestando contra a homofobia reinante em nosso país: matava-se então no Brasil um homossexual a cada três dias, uma média de 100 a 150 por ano.

Ao tomar posse, Lula recebeu a incumbência de cumprir o Programa Nacional de Direitos Humanos II, onde, num total de 402 ações afirmativas, constavam 11 dirigidas à população LGBT.

Lastimavelmente, Lula deixou de cumprir sua obrigação constitucional, pois, apesar de muita bravata, realizando uma conferência nacional, instituindo o Programa Brasil sem Homofobia, criando no último mês de governo o Conselho Nacional LGBT, como acertadamente declarou a senadora Marta Suplicy, "a situação piorou para os homossexuais no Brasil. Os crimes aumentaram e nenhuma lei foi aprovada no Congresso. Os países vizinhos avançaram mais. Apesar da festa, temos um cenário cada vez mais difícil!" Faltou vontade política de Lula para enfrentar a homofobia institucional. Cristina Kirchner foi muito mais ousada.

Triunfalismos a parte, em vez de Papai Noel dos Gays, desgraçadamente, Lula ficará na historia como "Vampiro dos Gays". Nunca antes na história deste país tanto sangue gay foi derramado ou contaminado pelo HIV, devido à irresponsabilidade do atual governo. Em 2009 foram documentados 198 assassinatos de homossexuais brasileiros, crimes de ódio cometidos com requintes de crueldade. Até início de dezembro de 2010, 235 gays, travestis e lésbicas foram cruelmente trucidados, aproximadamente uma morte a cada dia e meio, o dobro de quando Lula começou a governar.

O país da futura Copa ostenta cruel liderança: é o campeão mundial de assassinato de homossexuais! Aqui matam-se muitíssimo mais gays do que todas as execuções homofóbicas de Irã, Arábia, Sudão, Nigéria e demais sete países onde há pena de morte contra os amantes do mesmo sexo. Nos Estados Unidos, com cem milhões a mais de habitantes, matam-se em média 25 gays por ano; aqui, 250!

Todo esse sangue derramado poderia ter sido evitado se Lula tivesse cumprido ao menos duas ações afirmativas do PNDH-II, aprovado meses antes de sua posse:

* Nº 231. "Promover a coleta e a divulgação de informações estatísticas sobre a situação sociodemográfica dos LGBT, assim como pesquisas que tenham como objeto as situações de violência e discriminação praticadas em razão de orientação sexual."

* Nº 232. "Implementar programas de prevenção e combate à violência contra os LGBT, incluindo campanhas de esclarecimento e divulgação de informações relativas à legislação que garantam seus direitos."

A mortandade de gays vítimas da aids é outra face criminosa do vampirismo do "Papai Noel dos Gays": enquanto são 0,8% os homens heterossexuais infectados pelo HIV, entre os gays 11% são soropositivos. As raras campanhas de prevenção destinadas ao principal "grupo de risco" da epidemia, além de tímidas, não causaram o efeito necessário. De quem é a culpa?

Lula deixa para sua sucessora essa cruel herança maldita para os homossexuais e transexuais: se ficar a aids pega, se correr a homofobia mata.

Luiz Mott é antropólogo da Universidade Federal da Bahia.

Somos Um: o amor segundo Gilbran

"Quando o amor vos chamar;
Siga-o...
Embora seus caminhos sejam agrestes, escarpados;
E quando ele vos envolver em suas asas;
Cedei-lhe...
Embora a espada oculta em sua plumagem possa ferir-te;
E quando o amor vos falar;
Acreditai nele...
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos,
Como o vento devasta um jardim...
e da mesma maneira que o amor vos coroa;
assim também ele vos sacrifica...
E da mesma forma que ele sobe até a vossa altura e acaricia
seus ramos mais tenros que se embalam ao sol...
Assim também ele desse até vossas raízes,
e as sacode do seu apego a terra..."

Gibran Khalil Gibran

domingo, 2 de janeiro de 2011

Economia: Envelhecimento populacional - Perspectivas e Desafios

Durante a maior parte da história da humanidade, a população mundial se manteve praticamente estável, crescendo a taxas próximas a 0,1% ao ano. A partir do século 18 esta taxa de crescimento da humanidade passou a aumentar constantemente, atingindo 2,2% por volta dos anos 60, quando passa a declinar e retorna ao nível de 1,2% em 2010. O aumento da taxa de crescimento populacional deve-se a redução na taxa de mortalidade, principalmente por melhorias nas áreas de saúde, não acompanhada de queda imediata na taxa de fecundidade. O tempo em que a natalidade esta bem acima da mortalidade gera grande aumento populacional, fenômeno conhecido como transição demográfica.

O impacto desta transição demográfica sobre a economia é muito intenso, mas não linear. De início o aumento do crescimento populacional gera forte ampliação da população jovem, não trabalhadora, gerando elevação da razão de dependência (número de pessoas em idade de não trabalhar sobre o número em idade de trabalhar), tornando mais oneroso para quem trabalha manter crescente número de pessoas sem trabalhar.

Este período é associado a baixo crescimento econômico. O segundo momento é considerado janela de oportunidade ou bônus demográfico, caracterizado pela chegada ao mercado de trabalho do aumento populacional. Nesta época a razão de dependência diminui com o aumentando o número de pessoas em idade de trabalho. Este período está associado a altas taxas de crescimento econômico. Pesquisadores de Harvard comprovaram que parte substancial do crescimento dos tigres asiáticos está associada a este bônus demográfica. O terceiro momento é quando este aumento populacional chega à idade fora do mercado de trabalho e não é reposto pelo mesmo impulso populacional. Nesta hora aumenta a razão de dependência, fomentando baixas taxas de crescimento econômico. É onde a maior parte das nações européias se encontra hoje, com seus desafios nos sistemas de previdência.

O Brasil, ainda que tardiamente, também está passando pela mesma transição. Segundo dados do IBGE, a mortalidade caiu entre 1950 e 1970, enquanto as taxa de natalidade passou a recuar a partir de 1970. A defasagem na redução da natalidade gerou forte aumento populacional nos anos 60, 70 e 80, levando a razão de dependência a 90% (quase uma pessoa em idade de trabalho para uma pessoa fora da idade de trabalhar), dificultando o desenvolvimento do país. Desde então a razão de dependência tem caído continuamente, atingindo cerca de 50% em 2010, devendo chegar a 40% em meados de 2025, quando a população com mais de 65 anos vai começa a aumentar de forma mais substancial, piorando a razão de dependência. Embora haja alguma divergência entre pesquisadores sobre a data de início e final do bônus demográfica para o Brasil, a parte mais intensa deste bônus inicia-se por volta de 2010 e deve estender-se até meados de 2025. Isto dá ao Brasil uma oportunidade de outro para o crescimento econômico, para enriquecer sua população e viabilizar um envelhecimento com menos restrições no futuro. Para isto será necessário reduzir custos produtivos, simplificar abertura e fechamento de empresas, aumentar a produtividade, investir em educação, tudo para maximizar o potencial transformador desta janela de bonança demográfica, como fizeram os tigres asiáticos e a China. O crescimento econômico vai aumentar nos próximos anos por causa da transição demográfica, mas a ação do governo vai definir quanto e quão perene será esse crescimento. Os setores que mais deverão se beneficiar desta nova etapa da economia brasileira, onde a população está amadurecendo e ficando mais rica e exigente, serão aqueles que gerem bens e serviços de melhor qualidade. Investimentos em educação, cosméticos, carros de luxo, alimentação saudável, saúde, academias de ginásticas, serviços de boa qualidade, terão retornos mais fáceis neste futuro que começa agora. O que ocorrerá depois 2040 - quando a janela de oportunidade demográfica começar a se fechar - vai depender das ações tanto do setor público quanto do setor privado entre 2011 e 2025.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Política: Sinceridade e Insensatez

“Foi gostoso passar pela Presidência da República e terminar o mandato vendo os Estados Unidos em crise, vendo a Europa em crise, vendo o Japão em crise, quando eles sabiam tudo para resolver os problemas da crise brasileira, da crise da Bolívia, da crise da Rússia, da crise do México"

Será que é bom ver nossos "adversários" afundados no mar de lamas, ainda que isto envolva o sofrimento de milhôes e milhôes de pessoas? A declaração de nosso ex-presidente é sincera, o sentimento por trás dela é insensato, por trazer mágoa e ressentimento contra povos que antes dominaram o mundo.

Eu não quero construir um país que domine os outros, e sorria diante do sofrimento de ex-poderosos. Eu quero um país irmão.