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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Somos Um: o Bom ou o Certo?

Eliana Cardozo traz-nos uma discussão muito interessante sobre que decisão tomar diante de alternativas e utiliza pensamento de Amartya Sem para guiar-nos nas escolhas. Devo confessar que sou um utilitarista, acho que as coisas fazem sentido pela função que têm em nossas vidas. Assim no caso da flautista, preferiria que ficasse com quem sabe tocar, pois geraria bem estar para todos ouvi-la. De que serve uma flauta, se não for para produzir música? Assim, embora entenda a importância da pluralidade, se tiver de decidir sozinho, escolherei o bom.

Artigo escrito por Eliana Cardozo no Valor Econômico de 25 de fevereiro de 2011.

Amartya Sen debate John Rawls e ilustra o papel de diferentes visões filosóficas no entendimento da justiça. E mais: se existe conflito entre"o bom" e "o certo", como escolher?

Imagine que você tenha de decidir para quem dar a flauta pela qual brigam três crianças - Ana, Bob e Carla. Ana argumenta que é a única das três que sabe tocar o instrumento. Bob afirma que é tão pobre que a flauta seria o seu primeiro brinquedo. Carla revela que trabalhou todos os dias durante o último mês para fabricar com as próprias mãos o instrumento musical. Para qual das três crianças você daria a flauta?
Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, na introdução de "The Idea of Justice" (Harvard University Press, 2009), afirma que você pode dar a flauta para qualquer uma das três crianças. Sua preferência encontraria justificativa em critério objetivo tão imparcial quanto a oferecida por alguém que, por possuir uma persuasão filosófica diferente da sua, escolhesse outra criança. A prova?

O teórico igualitário daria a flauta a Bob, porque quer reduzir as diferenças de renda. O libertário daria a flauta a Carla, porque ela teria direito ao fruto de seu esforço. O utilitarista daria a flauta a Ana, porque, sendo a única que pode tocar flauta, será a que pode extrair maior prazer de sua posse.

Qualquer uma das decisões tem a seu favor fortes argumentos, que se aplicam não apenas à disputa da flauta entre as três crianças, mas também à alocação de recursos na sociedade e aos princípios que norteiam arranjos sociais e escolhas institucionais. Assim sendo, talvez seja impossível um arranjo social a respeito do qual todos concordem, porque ninguém seria capaz de demonstrar que tal arranjo é o único a preencher os requisitos da imparcialidade objetiva.

Mas, se concordamos que existe amplo espaço para desacordo, como garantir que a sociedade prefira uma solução à outra? Existe uma forma de combinar as opiniões e valores individuais numa escolha coletiva que seja a melhor possível?

Sen argumenta que, assim como os consumidores podem ordenar suas preferências, dadas as restrições orçamentárias, nós deveríamos ser capazes de avaliar e ordenar situações sociais alternativas levando em consideração os valores sociais. Poderíamos então avaliar as consequências dessas situações sociais para o bem-estar comum e decidir qual a melhor alternativa.

Para chegar a essa conclusão, Sen parte da crítica da obra de John Rawls, autor de "A Theory of Justice" (Harvard University Press, 1971). Rawls demonstra que a justiça requer que a sociedade seja governada por princípios sobre os quais pessoas livres, racionais e em situação de igualdade estariam de acordo.

Considere o argumento de Rawls. Imagine a situação em que cada um de nós se encontra antes de nascer, ignorante de seus dotes pessoais e das particularidades da situação que ocupará na sociedade em que vai viver. Imagine que dessa "posição original" pudéssemos entrar em acordo sobre os princípios de justiça que deveriam reger a sociedade à qual iremos pertencer. Rawls demonstra que o acordo seria tal que preencheria três princípios. O primeiro garantiria a todos a liberdade de consciência, pensamento e expressão, a liberdade de associação e a igualdade política. O segundo princípio atribuiria a todos a igualdade de oportunidade para desenvolver os próprios talentos e competir por posições sociais. O terceiro princípio exigiria que a sociedade enfrentasse as desigualdades econômicas transferindo renda para os mais pobres.

A principal crítica que Sen faz da teoria de Rawls é que ela é "transcendentalista", isto é, usa princípios universais para criar a sociedade ideal que seria perfeitamente justa. Sen, que está interessado em tratar das injustiças observadas no mundo de hoje, considera que tal teoria é irrelevante.
Será? Sen parece se esquecer que a idealização da sociedade perfeita é um passo importante, porque permite o uso de um filtro, que deixa de lado considerações irrelevantes, para se concentrar nos fatores que de fato determinam a justiça social. Muitas questões de reformas e políticas sociais precisam dos fundamentos da teoria ideal de justiça para sua elucidação.

A contraproposta de análise comparativa que Sen oferece talvez possa ser usada nas deliberações legislativas em que os congressistas precisam fechar acordos. Mas mesmo a legislação que resulta desses acordos e compromissos é produto de propostas alternativas baseadas em justificações de princípio.

As discussões de políticas para a educação utilizam o princípio de igualdade de oportunidades de Rawls. E seu princípio de enfrentamento das desigualdades através da assistência aos grupos mais pobres é invocado com frequência para contrabalançar o utilitarismo: os governos não devem perseguir apenas a maximização da riqueza nacional, mas precisam tomar em consideração as consequências de suas políticas para os grupos mais pobres e cuidar para que seus benefícios cheguem a eles.
A divergência entre Sen e Rawls se encaixa na tradição que distingue "o bom" e "o certo". Os "consequencialistas" (preocupados com o que é bom para os homens) dizem que a justiça requer instituições que promovam o máximo de bem-estar para a maioria da população. Os "deontologistas" (preocupados com o que é certo) dizem que a justiça deve restringir os meios utilizados na conquista do bem-estar e impor o respeito aos direitos individuais e à distribuição equitativa. Rawls (como outros kantianos promotores do contrato social) são deontólogos. Sen (como os utilitaristas) pende para o consequencialismo.

Sen ilustra o dilema com o diálogo entre Arjuna - o grande guerreiro do épico "Mahabharata"- e seu amigo e conselheiro, Krishna, na véspera da batalha em Kurukshetra. A batalha será entre os Pandavas, de cuja virtuosa família real Arjuna é membro, e os Kauravas, seus primos, que usurparam o trono. Arjuna é o guerreiro invencível que deve liderar os Pandavas e Krishna - a encarnação em forma humana de um deus indiano - conduz o veículo de Arjuna.

Arjuna e Krishna observam os exércitos dos dois lados e refletem sobre a gigantesca batalha que terá lugar no dia seguinte. Arjuna então se pergunta se deve lutar. Ele não duvida de que está defendendo uma causa justa e que vencerá a batalha. Mas as mortes serão numerosas e ele terá que matar muitas pessoas que nada fizeram de errado, exceto divergir sobre quem deveria ocupar o trono e, muitas vezes, o fizeram por lealdade e laços de família. Sua ansiedade reflete não apenas a repugnância pela carnificina, mas um sentimento de horror pelas mortes de pessoas com quem tem ligação de parentesco ou amizade e pelas quais será pessoalmente responsável. Arjuna sugere que se sente disposto a desistir da batalha e deixar os Kauravas reinar.

Krishna se opõe. Seu argumento se concentra na prioridade do dever, sejam quais forem as consequências dos atos ditados por ele. Argumenta que Arjuna terá de cumpri-lo, aconteça o que acontecer. A causa é justa. Arjuna é o general do qual seu exército depende e, portanto, não pode fugir de suas obrigações.

O diálogo continua e cada um desfia seus argumentos até que Arjuna reconhece que Krishna tem razão. O discurso de Krishna se tornou tão influente que até Gandhi, o maior defensor da não-violência, se dizia inspirado pelas palavras de Krishna sobre o cumprimento do dever.

Sen, entretanto, pergunta se era Arjuna quem estava de fato errado. Será que a crença no cumprimento do dever de lutar por uma causa justa independe de suas consequências? Será que o dever pode dominar o desejo de não querer matar outras pessoas?

São perguntas difíceis. Mais difíceis do que encontrar a representação pictórica adequada à justiça. Em 1625, Rubens a pintou como uma mulher roliça, de espada na mão, a esmagar uma cobra com o pé. Um cordeiro se aconchega ao seu lado direito, enquanto, do outro lado, uma raposa se põe em fuga. Mas, na década de 1930, Ellsworth Kelly preferiu representá-la pelo equilíbrio entre painéis quadrados de cores diferentes na parede oval da corte de Boston. Dessa forma, o espectador poderia criar seus próprios significados.

www.elianacardoso.com

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Literatura e Vida: Uma homenagem a Saramago

SARAMAGO E PILAR DEL RIO

retirado do blog Recanto das Letras
http://recantodasletras.uol.com.br/homenagens/2328303


É Pilar del Rio, a jornalista, espanhola de Sevilha, agora viúva de José Saramago, a contar como o conheceu e como se identificaram tanto por serem marxistas e apaixonados pela literatura. Encontraram-se pela primeira vez em 1986 e o primeiro passeio que fizeram foi ao Cemitério dos Prazeres onde visitaram o túmulo de Fernando Pessoa.

Daí em diante, a literatura se encarregou de unir os dois, um senhor e uma jovem mulher em meio à casa dos cinquenta anos de idade.

A literatura parece primar por histórias assim, aos olhos do mundo incompreensíveis, mas que a todos encantam por realizarem o mito das almas gêmeas. Casaram-se e passaram a morar, inicialmente, em Lisboa onde Pilar se sentia em casa, cumprindo a passagem bíblica de “o teu povo será o meu povo, a tua casa será a minha casa”.

O escritor e, frise-se, também poeta, José de Souza Saramago, nascido em Azinhaga, no Ribatejo/Portugal, em 16 de novembro de 1922 e falecido em 16 de junho de 2010, em Lanzarote, _ uma ilha espanhola, nas Ilhas Canárias, onde vivia com a mulher e musa. Nobel de Literatura e Prêmio Camões, sofreu perseguições da igreja católica pelas suas declarações e posições políticas. Não negou seu ateísmo.

Casaram-se Saramago e Pilar duas vezes, uma em Lisboa, 1988, e outra em Granada, Espanha, em 2007. Viveram 22 anos em harmonia. A única filha de Saramago, do primeiro casamento, Violante, está aos 63 anos de idade, portanto à frente de Pilar.

Sobre o que mais apreciava no marido, a segura e inteligente jornalista e tradutora de sua obra, María del Pilar del Rio Sánchez, disse em entrevista:

“La coherencia que tiene. Es que no hay posibilidad de distinción entre la persona y el escritor. Es un hombre de una sola pieza y es coherente de la mañana a la noche y de la noche al día.”

Saramago não acreditava na vida eterna, mas sim, no amor e sobre este disse: "Nossa única defesa contra a morte é o amor". Segundo Anabela Mota Ribeiro, afirmou sobre Pilar o escritor: “mais do que um anjo, uma mulher. Podia ser qualquer outra, dirá você. Pois, mas é esta. A diferença está aí. De anjo tem muito pouco. É de carácter demasiado forte”. E foi por ela que o escritor se tornou “el hombre que paró todos sus relojes a la misma hora solo por amor”, a hora em que conheceu Pilar.

Nota-se nas leituras sobre este tema que não era um amor espetacular, no sentido de show, mas um amor grandioso, moderno. Saramago, como vimos, frisou do caráter firme da sua mulher e não a compararia a um anjo, mas a uma mulher mesmo.

Era um homem sério, passado por duras experiências, especialmente na infância e juventude. Desassombrado, referiu-se ao fim da vida dessa forma: "No me hablen de la muerte porque ya la conozco".

Para finalizar esta pobre homenagem, acrescento um pensamento e um poema de Saramago:

“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos.”


Espaço curvo e finito


Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.



Tânia Meneses_1
Publicado no Recanto das Letras em 19/06/2010
Código do texto: T2328303

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Somos Um: Lixo EXTRAORDINÁRIO

Há tempo que não vou ao cinema. A vida corre, a noite depois de vários expedientes, sucessos e frustrações, falta ânimo para sair de casa, a vida cotidiana nos mata mais que a morte, como diz Miguel de Ortyz.

Ontem vi Lixo Extraordinário. EXTRAORDINÁRIO.

http://www.lixoextraordinario.net/

Passa-se no aterro onde se coloca lixo do Rio de Janeiro e onde uma série de seres humanos passa dias e noites catando itens reciclados. No Jardim Gramacho.

O filme retrata o outro lado do luxo, o outro lado da mesma moeda, o lixo. Consumimos muito - criamos muitos dejetos. Neste universo, onde o luxo vira lixo, onde são piores as condições de saúde e higiene, trabalham seres humanos em busca do sustento digno de suas famílias. Homens, mulheres, velhos e crianças, todos a postos, dia e noite, para catar garrafas pets, latinhas de alumínios e outros itens recicláveis, no meio de todo tipo de sujeira e restos. No meio de tudo isto aparece e resplandece a força humana, a dignidade, a vontade de viver, a coragem de enfrentar a descriminação, a perfeição: 99 não é 100, a alegria e a solidariedade. No meio de tudo isto aparece a união dos catadores, sua associação e sua luta por melhores condições de vida.

É um filme real, filmado como documentário, cujos artistas são os protagonistas da vida real dos catadores, de carne e osso. Expondo com coração aberto suas mazelas, suas misérias, seus medos, seus amores, suas paixões, seus motivos, seus desejos e suas vontades de mudar. Nele não há vivos mortos, embora haja mortos cuja dignidade e esperança marca a vida de todos.

O filme mostra o que nenhum doutorado pode nos ensinar: a arte de viver e crescer.

Somos Um: uma homenagem a Clovis Sena

Lido por um amigo em sua despedida.

No
de Miguel de Ortyz y Ortustre

No son los muertos los que en Dulce calma
la paz desfrutan en una tumba fría.
Muertos son los que tienen muerta el alma
y están vivos, todavía.

No son los muertos, no, los que reciben
rayos de luz en sus despojos yertos.
Los que han muerto, con gloria, son los vivos.
Los que sin ella viven son los muertos.

La vida no es la vida que vivimos.
La vida es el honor, es el recuerdo.
Por eso hay muertos que en el mundo viven.
Y hombres que viven por el mundo, muertos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Política - Um ditador a menos

Trinta anos no poder, governando em estado de emergência. Que o povo Egípcio tenha sabedoria na construção dos novos dias, que a democracia se estabeleça e que tenham mais sorte com políticos honestos que temos tido! Viva a Democracia!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Política - Fora Mubarak

Ficha Limpa em 2010, Tunisia em 2011 e agora o Egito.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Somos Um: O que você tem a dizer para o mundo?

Há coisas que escrita por outros enchem nossas almas. Acredito nisto que o Nizan descreve, por isto publicarei na íntegra. Pode até parecer longo, na verdade é completo.

NIZAN GUANAES na Folha de São Paulo dia 8/2/2011

Não é o dinheiro, estúpido

SOU, COM FREQUÊNCIA, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais. Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores da coluna.

Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio.

Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado.
É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração.

Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência.

Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.
E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.

A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.

Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos.

A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho. (com todos seus defeitos e robalheiras a democracia ajudou a criar o país de nossos sonhos, há muito que fazer, serão conquistas futuras, comentário do Zé)

Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.

É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).

Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.

Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés.

Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa.

Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.

Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso". Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.

Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.

Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Somos Um e Política: Mercado, Estado e Distribuição de Renda

Por muito tempo neste país e no mundo, a questão da distribuição de renda era vista como uma bandeira do “comunismo” ou dos padres de “esquerda”.
A guerra fria criada entre soviéticos e americanos traduzia o espírito de guerra de idéias entre aqueles que acreditavam que o mercado era a melhor forma de alocação dos recursos e aqueles que viam o mercado como coisa a ser abolida em nome do bem comum.

Lado a lado esta divisão crescia na Europa a opção social-democrática, baseada na dissidência do marxismo do início do século e na teoria econômica keynesiana, a social-democracia ganha o aspecto de estado do bem-estar. Nele, o mercado é visto como forma legítima de expressão das relações econômicas da sociedade civil, mas se aceita suas limitações na criação de uma sociedade mais justa e autônoma. Também se reconhece a dificuldade de se encontrar o equilíbrio apenas pelas soluções de mercado.

Este modelo político econômico entrou em crise em 1973 com o aumento no preço do petróleo, a falência do sistema de pagamentos internacionais criado em Bretton Woods e o esgotamento da capacidade do estado do bem-estar em lidar com estas restrições.
De lá para 2008 o mundo viveu o apogeu do liberalismo, qual seja da opção por soluções de mercado para todas as questões econômicas e até políticas.

A queda do muro de Berlin e a enorme sofisticação do sistema financeiro internacional foram fruto disto. A economia mundial viveu também um período de ouro. Todos os problemas poderiam ser resolvidos com as soluções de mercado. O estado mínimo voltou a se tornar solução.

Não vou falar aqui das falhas de mercado que levaram à provavelmente maior crise financeira que este mundo que conhecemos já viveu e da qual apesar da reação correta dos governos, ainda não nos livramos e que trouxe a tona mais uma vez a necessidade da intervenção do estado na economia para sanar falhas de mercado.

Mas vou falar da questão da distribuição de renda. Se quisermos criar uma sociedade mais justa, melhor olharmos para esta questão. A julgar pelos que acreditam que o mercado resolveria todas as questões, estudos divulgados pela Veja da semana passada mostram que dos anos 90 aos anos 2000, piorou a distribuição de renda.

Instituições como o Fundo Monetário Internacional, que antes não se preocupavam com o assunto agora vêem esta questão como importante de se tratar para o equilíbrio dos mercados. Estudos mostram que sociedades com melhores distribuições de renda apresentam mais baixos índices de criminalidade e de violência urbana. Parece que agora, sem mais vestígios da guerra fria, sem mais a divisão ferrenha entre liberais e comunistas, estamos mais livres de nos posicionarmos a favor uma questão tão importante para a humanidade, uma sociedade menos desigual econômica e socialmente. Não é criar um caminhão cheio de robôs iguais, mas é permitir que o talento de cada um possa se dar, é dar condições para que todos tenham oportunidades de desenvolver sua potencialidade e que a riqueza seja também reconhecida como um bem coletivo.

Os programas de distribuição de renda são um começo para reduzir a desigualdade. Mas podem ser muito pouco se não estimular o interesse de quem o recebe de buscar se desenvolver para participar do processo criativo. Se não na geração que o recebe, pelo menos nas gerações seguintes. O mercado não resolve tudo, mas ele é a expressão da criatividade e da participação da coletividade individual. Se não for criado mecanismos que estimulem que as pessoas que recebem estes aportes financeiros participarem dos mercados, podem produzir efeito reverso ao que se intenciona. Em vez de criar uma sociedade autônoma, pode criar uma sociedade dependente.

Como um mosaico, o mercado reflete o todo construído de partes e das belezas individuais, mas também como um mosaico, se colocado de forma aleatória as partes individuais podem gerar um mosaico caótico e esteticamente desequilibrado. Assim mercados e estado devem se complementar para criar uma sociedade mais justa, menos desigual, com mais oportunidades para todos os seus participantes.