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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Poesia - Uma carta para papai Noel

Mais um presente de Rosa,

de Rosa Maria, um presente de Natal para mim e para ti que tens o coração aberto para a poesia e para o sonhar.

Uma carta para papai Noel

Cansado este ano, o meu Noel papai...
Tantas andanças.
Tanto espalhar esperanças,
dispersando sonhos,
prolongando esperas,
coletando pedaços, esparsos, de sorrisos...

Tantas desavenças.
devaneios vãos.
Contradições.
E meu Noel, vestido de papai,
a ´promover o movimento
dos desejos que perduram
tentando assegurar a permanência da alegria...
Desejos,
que duram, tão pouco, instantes apenas,
consumidos depois,
pelo real das impossibilidades.

Papai Noel,
tenho ainda, ai de mim!,
um coração criança
que não define o impossível
e abre bem grande os braços,
para a ilusão das quimeras.
Renegando a tristeza,
relegando ao plano da distancia,
o vazio do olhar
e a aridez do coração,
permitindo enfim,
a realidade do sonho.
Estendendo o desejo do sorriso
aos que nem sonhar
podem,
sabem,
querem.
E assim, papai Noel,
de verde e vermelho vestido,
harmonizando a esperança com o rubro da vida
a renovar-se em preces de amanhã,
chego ao fim de minha carta.
Lançando a idéia como lei,
que possamos ser crianças outra vez,
pois a criança é o sentido do existir,
o sorriso de Deus, feito presença,
a ternura que dissipa inquietudes,

como o Infante Jesus, a desdobrar-se no amor
de Sua vinda,
acreditando na paz de um mundo novo,
onde todos iguais, sejamos irmãos,
dando as mãos e unindo os corações,
perdoando ofensas,
apagando mágoas,
crescendo nas dores do viver
e renascendo na luz da fé
que nos confere a grandeza
de aceitar o inapreciável das alternancias
e põe certezas de eterno em nossas almas

Rosa Maria
Natal de 2010 em Brasília

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Somos Um: a Música e o Sonho

Domingo fui a um show idealizado por Pecê Souza, com vários cantores famosos de Brasília: Célia Rabelo, Janette Dornellas, Nilson Lima, Salomão Di Pádua, Sandra Duailibi e participação especial de Antenor Borgea. O show foi com as canções que fizeram a história dos grandes festivais da TV entre 1965 e 1972.

Tempos negros de liberdade, onde a música era o caminho do sonhar coletivo. Músicas do Chico, Vandré, Edu Lobo, Nara, Gil, Tom Jobim, Caetano, Elis, entre outros, que marcaram a vontade de se expressar em um ambiente de repressão política. Neste período a música nos trouxe uma identidade nacional. Talvez mais que o futebol, a música criou uma identidade nacional.

"Caminhando contra o tempo sem lenço e sem documento, num sol de quase dezembro, eu vou...

Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor, a minha gente sofrida, despediu-se da dor....

Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, nas escolas, nas ruas, campos, construções,....

Prepare o seu coração, para as coisas que eu vou contar, eu venho lá do sertão...

O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo (tomara que volte a ser, que seja resgatado em sua doçura), o Rio de janeiro, fevereiro e março, alô, alô realengo, aquele abraço...

Eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer..."

Sonhar com o futuro é importante e, como dizia o poeta, sonhar só é só um sonho, sonhar coletivamente é transformar a realidade. A música nos deu o elo do sonho coletivo nos anos de autoritarismo.

Agora vivemos um período de liberdades democráticas. Já não há o inimigo comum dos militares armados que nos silenciava por contra eles nos levantavar. Agora o inimigo é dentro de nós, da própria sociedade, de nossos valores. Vivemos em liberdade, mas não acreditamos no sistema que garante estas liberdades. Vivemos em liberdade, mas não acreditamos que os que nos representam possam atuar com lisura. Vivemos em liberdade, mas já não nos revoltamos com políticos corruptos. Vivemos em liberdade, mas já não participamos dos movimentos que garantem esta liberdade. Vivemos em liberdade, mas estamos presos olhando para nossos próprios umbigos, enquanto os que não gostam de liberdade agem livremente para reduzi-la.

Será que ainda somos capazes de sonhar? Será que a música poderá nos resgatar de nós mesmos? Em Brasília, Célia, Janette, Nilson, Salomão, PC, Sandra, Antenor, Cássia Portugal, estão trabalhando para isto.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Somos Um e Política: Estamos vivendo o período mais democrático da história do Brasil.

Uma amiga me mandou uma mensagem do Sai Baba dizendo que Estamos vivendo a melhor época da humanidade desde todos os tempos. Ele diz que muitos o perguntam por que ele afirma isto, pois no mundo existe cada vez mais maldade. Sai Baba então responde que não é que há mais maldade no mundo, o que há é mais Luz. Ele cita o exemplo de uma despensa onde se guarda as coisas, iluminada por uma lâmpada de 40w. quando se coloca uma lâmpada de 100w se verá muito mais desordem e lixo do que se via antes. Uma mentira, uma maldade se evidencia mais rapidamente hoje que no passado. Mas também a compreensão do bem chega mais rápido.

Eu acredito que o mesmo se dê em relação à política, por isto trouxe o tema aqui.
Os atos de corrupção, as arbitrariedades contra os opositores, a tentativa de se perpetuar no poder, a manipulação das informações, tudo isto sempre existiu. O que antes nem era considerado corrupção hoje condena pessoas, como uso de verbas públicas para favorecer a imagem de um governante. O uso do nome do prefeito/governador/presidente estava em todas as placas no passado, hoje é proibido. A contratação de parentes não era considerado um problema, hoje escandaliza.

Assim o que vejo é que, embora os que estão no poder hoje pareçam autoritários, manipuladores, ou corruptos, mais que os de tempos atrás, na essência são iguais, mas agora estão mais expostos.

Acredito que o acesso a informação, a educação da população, a internet, o aumento de meios de comunicação e de mídia, aliados ao aumento do nível de renda dos brasileiros, levem a um maior controle do Estado por seus cidadãos, que se hoje parecem mais vulneráveis a campanhas publicitárias, vai com o tempo saber distinguir o joio do trigo na política. Temos apenas que não nos ausentar, participar e termos paciência, pois o tempo da história é mais lento que o dos nossos corações.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Somos Um: Solidão Feminina

Recebi de minha amiga. Achei que vale disseminar.
Talvez nós homens possamos aprender a estar só e ficar em casa.
No meu caso talvez consiga em uma próxima encarnação, se isto existir.

por IVAN MARTINS
Editor-executivo de ÉPOCA

Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.

Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.

Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha.

Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.

“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.

Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.

Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.

A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.

Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?

A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade.

Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda.

Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.

Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer.

Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.

Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.

Política: Omissão

"O castigo dos homens honestos que se omitem da vida pública é serem governados pelos desonestos"

Platão

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Economia e Política: INCLUSÃO FINANCEIRA

O Banco Central do Brasil promoveu na última semana o II Fórum de Inclusão Financeira. Além do Presidente da República e Ministros, o Fórum reuniu participantes das comunidades carentes, dos bancos comunitários, da academia, do sistema financeiro e técnicos do próprio Banco Central, envolvidos nesta tarefa de permitir a expansão do crédito e das atividades financeiras para emancipação e autonomia econômica de parcela significativa da população brasileira.



Este blogueiro ficou encarregado de falar sobre os desafios da Inclusão Financeira para o desenvolvimento territorial. O tema é muito importante, pois o acesso a atividades financeiras, que permite a transferência de poupança de poupadores para empreendedores explicando o sucesso do desenvolvimento econômico, enquanto o não acesso ao crédito explica parte importante dos bolsões de pobreza, miséria e desolação social. Um melhor funcionamento da intermediação financeira aumenta a produção, reduz pobreza e permite o aproveitamento do potencial de cada ser humano.

Embora ninguém seja dono completo de sua vida, a pobreza limita muito a capacidade do ser humano se libertar e influir na sua história. O acesso ao crédito ajuda a cada ser humano realizar seus sonhos, se inserir na sociedade de forma autônoma e criativa, ser dono de sua própria história e gestor de seu próprio destino
O problema maior é que o poupador é prudente, pensa no futuro, mas não empreende, e o empreendedor é arriscado, viabiliza o futuro, mas não conta com a confiança do poupador.
Porém, sem emprestar não há inovações, nem novas atividades e assim não adianta poupar. Então soluções que melhorem a confiança do poupador nos investimentos ajudam ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social.

Em uma sociedade rica, os empreendedores podem dar garantias para tomar emprestado, mas em comunidades carentes estas garantias não existem, pois nestas não há emprego formal, endereço certo, garantias matérias. E isto dificulta a transferência de poupança para empreendimento em comunidades carentes. O não financiamento de idéias e projetos dificulta geração de renda pelos membros da comunidade, dificultando a melhora na qualidade de vida das comunidades carentes e a criação de garantias necessárias para o poupador externo ficar seguro do retorno de sua poupança. Acaba virando um circulo vicioso de pobreza.

Para sair deste círculo, a solução é criar garantias dentro da própria comunidade, para assegurar o retorno do dinheiro emprestado ao poupador. Para isto é preciso a redução das incertezas do poupador em emprestar para a comunidade e o uso auto-sustentável dos instrumentos financeiros, para que estes possam dar suporte de longo prazo a estas comunidades.

Como não tem garantias materiais, o crédito precisa ser garantido de outras formas, baseado nos laços de solidariedade, na proximidade física, na identificação de valores comuns, no aval e compromisso coletivo e solidário tanto para selecionar projetos e empreendimentos de interesse da comunidade, como para monitorar aplicação, usando a pressão social intra-comunitária para forçar os tomadores de crédito a aplicarem-no nos projetos que se comprometeram e a pagar o empréstimo para que o recurso possa voltar a ser emprestado a outros projetos. Quanto mais forte for laço solidário e de autogestão menor será taxa de default e assim menores os riscos da ação de empréstimo com conseqüente redução de juros. Quanto mais bem sucedidos forem estas operações financeiras e empreendimentos mais livre estará a comunidade do círculo vicioso da pobreza e mais apta estará ela de conceder a seus membros o direito de realizar seus sonhos e gerir suas histórias de forma autônoma.

Política: Brasil - apedrejamento de mulher é menos importante que amizade com Irã

O Irã condenou a morte por apedrejamento uma viúva que se envolveu com outro homem.
Mulheres viúvas deve ser lixo para a cultura Iraniana. Respeito as culturas e valores distintos, mas não acredito que devamos aceitar atrocidades em nome deste respeito.

Anos e anos atrás a humanidade se valeu do triste mecanismo da escravidão humana, da desculpa da cor da pele para submeter e explorar o outro. A humanidade também cometeu o mesmo erro de explorar e subordinar as mulheres. Mas o mundo mudou e sua pecepção humanista também. A história da humanidade desde o iluminismo é uma luta pela libertação do homem da exploração do homem e de sua exaltação do ser humano como co-criador.

Assim acredito que devemos condenar qualquer tentativa de trazer a escravidão de volta ou de subjugar a mulher como um ser humano inferior ao homem.

Mas o governo Brasileiro não acha isto. Em nome de uma diplomacia esquisita, o Brasil de Lula prefere se posicionar contra a maior parte dos países do mundo e ficar do lado de uma ditadura que condena mulheres a apedrejamento e morte lenta para punir uma mulher cujo crime foi amar um homem.

A organização das Nações Unidas condenou as amputações, as chibatadas e o apedrejamento como forma de punição no Irã. 80 países votaram contra estas formas de punição, o governo Brasileiro, em nosso nome, preferiu se abster.
Como um país que elege uma mulher presidente, não condena estas violências contra a mulher no Irã?

Somos Um

Quando criei o Blog tinha a intenção de criar um meio de comunicação com amigos e conhecidos.

A idéia era escrever algumas coisas sobre política – minha paixão, sobre economia - minha formação profissional e sobre humanismo – herança de meu pai Ajuricaba e meu tio-pai Egídio, e personagens como Romain Rolland, Victor Hugor, Dom Helder e tantos outros.

Mas veio a campanha de 2010 e o blog tomou um rumo mais partidário. Como social-democrata os artigos se identificaram mais com a candidatura do PSDB. Mas procurei nunca deixar uma visão mais ampla. Publiquei dias atrás um texto falando que os partidos vêm a realidade com um filtro ideológico, que os impede de ver o todo. Que se quisermos conhecer a realidade temos que ver os fatos por vários ângulos, usando vários filtros. Não é tarefa fácil, mas acredito ser o caminho.

Somos um é uma proposta humanista, uma proposta de ver o ser humano na sua similitude, respeitando suas diferenças. É reconhecer que temos diferenças de cor, de percepção, de sexo, de opções, de formação, de valores, mas na essência, somos muito parecidos. Somos um. Um corpo – o corpo humano, uma mente – a mente humana, uma necessidade comum - amar e ser amado, de fazer parte, de ser útil, de estar integrado e de ser pleno.

Por isto no texto do somos um digo que sofremos quando os outros sofrem e nos alegramos quando os outros estão alegres. Isto não significa que existam momentos distintos entre o eu e o coletivo. Dom Helder costumava dizer que “quando há contraste entre nossa alegria e um céu cinzento, entre a nossa tristeza e um céu sem nuvens, devemos bendizer o desencontro, pois é aviso divino de que o mundo não começa nem acaba em nós”, mas eu diria que é formado por nós.

Eu costumo ver as pessoas condenando e reclamando do outro sobre uma perspectiva deles. Estou cumprindo meu papel, dizem. Mas pergunto e se estivesse cumprindo o papel do outro, como agiria e a resposta é: igual ao outro. Assim não adianta condenar o outro, colocar a culpa no outro, responsabilizar o outro por tudo de ruim que acontece, uma vez que os outros somos nós com outra formação, outros valores, outra educação, outras oportunidades. Michelle Bachelet em uma entrevista antes de deixar a presidência do Chile chamava-no a atenção para a importância de se “colocar a sandália dos outros” para compreender a dor e a percepção alheia e assim poder aceitá-la de forma mais humana.

Por isto gosto de repetir, ninguém nasce bandido. Ninguém escolhe ser pobre, nem viver na rua e só compreendendo como o outro sente e pensa é possível a PAZ, com o outro e consigo mesmo. Isto é sermos Um

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Economia - Desindustrialização e Câmbio

O tema desindustrialização está na ponta da língua dos jornais e comentaristas. A apreciação cambial dos últimos anos, fruto, em parte da política de juros baixos e o conseqüente excesso de liquidez nas nações desenvolvidas tem sido apontada como uma das principais causas deste processo. Com a moeda nacional apreciada nosso produtos se tornam caros quando comparados internacionalmente e assim fica difícil vendê-los lá fora e fácil comprar importados aqui dentro.

Se a culpa é do câmbio, não é a apreciação recente que responde pela dificuldade de nossas importações. Mas um processo que vem desde a posse do presidente Lula, quando o câmbio beirava os R$ 4,00 por dólar e vem caindo desde então, atingindo valores inferiores a R$ 1,70 nos meses recentes. A crise internacional deu um fôlego de mais de uma no neste processo, pois em agosto de 2008 o câmbio estava na faixa de R$ 1,65 por dólar.

Mas a culpa não é do câmbio, um país que está se tornando mais rico e se inserindo em outro patamar de desenvolvimento terá uma apreciação cambial como conseqüência. A solução é aprender a produzir a custos mais baixos. Os empresários têm muita responsabilidade individual neste processo, buscando novas tecnologias, investindo em processos mais produtivos, investindo em tecnologia e pesquisa em suas áreas. Coletivamente estes empresários devem fazer nosso país entender que sem investimento em educação, em pesquisa, não vamos assumir papel de liderança no processo produtivo mundial. Vamos sim voltar às antigas restrições de balanço de pagamento ao crescimento e vamos estagnar.

Coletivamente, empresários e cidadãos têm que forçar o governo a gastar menos e melhor. Enquanto gasta aumentando salários e mordomias e esquecendo-se de importantes investimentos em infra-estrutura, o governo contribui para deixar as coisas como estão e levar-nos ao estrangulamento.

No processo de redução de custo de produção e de barateamento do escoamento da produção o governo federal tem papel preponderante. Seja via investimentos em infra-estrutura de malha viária, e principalmente ferroviária, seja no fortalecimento de portos e aeroportos, muito poder tem o governo central para corrigir as distorções de preços relativos e baratear nossos produtos em relação ao exterior. Reformas no sistema tributário que reduzam a carga tributária do setor produtivo pode fazer muito pelo Brasil e aqueles que vivem nele.

Quem quer voltar aos anos 80, quando era proibido importar? Ao invés de voltarmos às antigas restrições às importações, devemos olhar para frente e ver como podemos produzir a custos mais baixos.

Reduzir gastos públicos também ajuda, pois abre espaço para redução das taxas de juros domésticas, barateando o financiamento da produção doméstica e diminuindo o incentivo à apreciação cambial pela atração do capital externo.

É o desafio do governo que vai, e do que entra, para os quais a maior parte dos brasileiros depositou suas esperanças.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Política - Vencedores e perdedores

Tirando os comentários mais preconceituosos, a análise é muito interessante e nos mostra que os resultados da eleição é vitória de Lula e derrota do PSDB que não soube lidar democraticamente com suas divisões internas. Apesar disto o futuro próximo é uma grande icógnita. Tomara que seja um sucesso e que a presidenta eleita seja mais o que prometeu, do que o que ela se apresentou nos anos anteriores.

De Carlos Newton publicado na Tribuna da Imprensa de 31/10/2010

Vencedores e Perdedores

Os grandes vencedores desta eleição foram o presidente Lula e o ex-governador mineiro Aécio Neves, ao provarem que são capazes de transferir votos a candidatos sem a menor chance, como Dilma Rousseff ou Antonio Anastasia. Sem apoio de Lula e Aécio, respectivamente, nem Dilma nem Anastasia jamais ganhariam eleição.

E os maiores perdedores, quem são? Além de Artur Virgilio, Jereissati, Marco Maciel, Roriz, Mão Santa, Helio Costa, Jarbas Vasconcellos, Gabeira, Fogaça, Serra etc., não há dúvida que são Ciro Gomes, Aloizio Mercadante e o especialmente oPSDB, que sequer aceitou discutir a proposta de Aécio Neves de realizar prévias eleitorais para escolher o candidato à Presidência.

Se o PSDB tivesse aceitado, mesmo se Aécio perdesse a eleição interna e a candidatura Serra fosse a preferida, a própria realização das prévias teria impacto positivo junto ao eleitorado do PSDB, mobilizando antecipadamente as bases do partido. Além do mais, Aécio poderia ser vice de Serra e as prévias soariam bem, principalmente porque no PT não houve nem discussão. Lula simplesmente impôs a candidatura Dilma, e estamos conversados.

Ciro Gomes também saiu perdendo, e muito, porque foi enganado por Lula e ficou fora da disputa presidencial. Com Ciro concorrendo, o quadro seria outro, os debates ganhariam entusiasmo e os votos no primeiro turno se dividiram pelas quatro candidaturas, (Dilma, Serra, Marina e Ciro), trazendo muito mais emoção.

Ciro foi inacreditavelmente ingênuo. Acreditou quando Lula lhe disse que o PT poderia até apoiar a candidatura dele. Depois, acreditou de novo, quando Lula lançou Dilma e prometeu a Ciro que, se ela não decolasse, o candidato seria ele. Acreditou tanto, que mudou seu endereço eleitoral para São Paulo. Quando descobriu que tinha sido ludibriado, já era tarde, seu partido (PSB) já tinha feito acordo com Lula para apoiar Dilma e ele só podia disputar eleição em São Paulo. Mas ser candidato a quê?

Mesmo enganado e humilhado por Lula, Ciro Gomes ainda aceitou ser um dos coordenadores da campanha de Dilma no segundo turno, sem lembrar que no primeiro turno deu várias declarações à imprensa defendendo a eleição de Serra, por ser “mais experiente do que a Dilma”. Agora, Ciro é cotado para voltar ao Ministério. Mudou Ciro? Mudou Dilma? Ou mudou a dignidade humana? Escolha a sua resposta.

Já Mercadante saiu perdendo porque desde 1994 tem sido uma marionete nas mãos de Lula. Foi eleito deputado federal em 1990, seria facilmente reeleito em 1994, mas aceitou ser vice de Lula na disputa presidencial, foi para o sacrifício e ficou sem mandato por quatro anos. Até que, em 1998, voltou à Câmara Federal. Em 2202, foi um dos coordenadores da vitoriosa campanha presidencial de Lula e se elegeu senador. Estava em alta politicamente.

Todos pensavam que Lula o nomearia ministro da Fazenda, por ser o melhor e mais respeitado economista do PT, mas o presidente jogou-o para escanteio e preferiu o médico sanitarista Antonio Palocci. Justificativa: “Preciso de você no Senado”. Mercadante acreditou.

Palocci saiu, expulso pelo caseiro, e Lula, que tudo fazia para que Mercadante não se projetasse no cenário nacional, preferiu Guido Mantega. Depois, na hora de escolher o candidato à sucessão, preferiu Dilma. E sua justificativa para alijar Mercadante foi a seguinte: “Preciso de você em São Paulo“. Mercadante acreditou de novo, partiu para uma disputa altamente desfavorável contra Alckmin, com pouca chance de vitória. Até hoje Mercadante não entendeu que Lula quer o PT só para ele, no partido ninguém mais pode se projetar.

Assim, Mercadante – que, sem dúvida é o melhor quadro do PT – vai ficar mais quatro anos na chuva, sem mandato. A não ser que Dilma o convide para algum ministério. Mas será que Lula permitirá que isso aconteça? Claro que não. Só se for um Ministério bem mixuruca. Mercadante vai ficar em posição subalterna. Podem apostar.

E Dilma? Será que vai arrancar a máscara carnavalesca e recuperar a carranca de antes, ou seguirá eternamente na linha “paz e amor”, que adotou na campanha presidencial? O mais provável é que ressurja o perfil da verdadeira Dama de Ferro. E se isso acontecer (e vai acontecer, mais cedo ou mais tarde), como ficará Lula? Dilma permitirá que Lula continue mandando no Planalto, como ele acha que acontecerá? Claro que não.

Quem conhece Dilma Rousseff e já esteve com ela em reunião de trabalho, fora da campanha, sabe que a nova presidente tem um temperamento fortíssimo. Assim que colocar a faixa e sentar naquela cadeira, vai rodar a baiana e não aceitará ordens de ninguém. Lula não perde por esperar. Se ele pensa que vai ser uma espécie de Rasputin no Planalto (ou uma versão de Garotinho no governo da mulher Rosinha), pode desistir. Dilma não é Rosinha. Traído e abandonado pela nova presidente, a decepção e a conseqüente depressão de Lula serão arrasadoras. Ninguém sabe o que ele fará.

Temperamentos à parte, na verdade Dilma Rousseff é uma incógnita na Presidência e vai surpreender, positiva ou negativamente. Com a experiência que acumulou nos últimos oito anos, pode se sair bem, caso escolha um bom ministério, mais isso será muito dificil, pois tem de agradar aos partidos coligados, que estão com as bocarras escancaradas, famélicos por prestígio, cargos e poder, não necessariamente nessa ordem.

A partir de hoje, está oficialmente aberta a temporada de caça aos ministérios. Por trás de tudo, a figura sinistra de Michel Temer, que há alguns anos Antonio Carlos Magalhães apelidou de “Cocheiro de Vampiro”. Realmente o novo vice-presidente mais parece personagem do escritor irlandês Bram Stoker, criador do Drácula.

É Temer quem trama nos bastidores a distribuição dos cargos, à revelia de Dilma e com apoio integra do PMDB. Como advertiu o líder Henrique Eduardo Alves, no mais recente encontro nacional do partido: “Não aceitamos essa história de uma eleição para um partido só ganhar. O PT é um grande partido, mas ou ganhamos juntos ou não ganha ninguém”.

Assim, Temer procura desesperadamente abrir espaço e se fixar como coordenador da base aliada. É como se Dilma estivesse dormindo com o inimigo. Os próximos capítulos serão eletrizantes. Você não pode perder

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Economia - A armadilha da liquidez em 1929 e em 2010

A armadilha da liquidez é um conceito keynesiano, traduzido para o modelo IS-LM da interpretação de Hicks, onde a curva LM é horizontal, ou seja a política monetária não tem efeito para estimular a economia.

Em épocas normais, juros baixos estimulam a tomada de empréstimos para investimento, o que ativa a atividade econômica e o emprego e pelo lado do consumidor estimula o consumo. Em épocas de crise de confiança muito grande, mesmo baixando os juros a níveis próximo de zero, fica difícil estimular o investimento e o consumo com mais dinheiro e menos juros. Não adianta imprimir dinheiro, ou baixar juros que a economia não reage. Este é o fenômeno da armadilha da liquidez.

Mesmo com muita liquidez, mesmo com taxas de juros muito baixas, os investidores estão receosos de se endividar para criar capacidade produtiva, os consumidores têm medo de se endividarem ou de queimarem suas poupanças para antecipar seu consumo. É a falta de confiança e de segurança em relação ao futuro que provocam este fenômeno e isto ocorre na intensidade que vemos agora nos EUA só de temos em tempos, como com a crise de 29 e a atual.

O gráfico abaixo mostra a evolução da quantidade de dinheiro na economia americana. Para enfrentar a crise o Banco Central americano quase triplicou a quantidade de dinheiro, de US$ 800 bilhões para mais de US$ 2 trilhões. Esta claro que não tivesse feito isto e os EUA, e conseqüentemente a economia mundial, estariam vivendo uma crise de proporções inimagináveis.


fonte: Fed Saint Louis

Mas também está claro que colocar mais liquidez não vai resolver o problema da insegurança do investidor, nem do consumidor quanto ao processo de endividamento. Este aumento na quantidade de base monetária não gerou inflação, mas também não foi suficiente para tirar a economia americana da terreno pantanoso em que está. Agora o Fed está providenciando a injeção de mais US$ 600 bilhões, o mesmo tanto usado para girar a economia na primeira metade desta década, mas o mercado acha pouco.

Alguns economistas mais fundamentados no pensamento keynesiano dizem que é hora de aumentar os gastos públicos por parte do governo americano (não o nosso) para estimular a economia. Mais do que já aumentou.

Mas o que se tem visto no tratamento dado pelas economias desenvolvidas é que o instrumental keynesiano tem deixado a desejar como ferramentas para tirar as economias desenvolvidas do imbróglio que se meteu.

Assim como nas relações pessoais, no sistema capitalista de produção a confiança quebrada leva tempo para se reconstruída. Keynes sugeriu política de gastos públicos para engrenar a produção e fazer voltar a confiança dos participes. Mas o que se tem visto no tratamento dado à esta crise nas nações desenvolvidas é que o buraco é mais embaixo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Política - Entre emergentes, o Brasil é o país onde a experiência democrática é mais viva

Democracia em construção Por Carla Rodrigues | Para o Valor Econômico 29/10/2010 entrevista longa, mas vale a pena

Rosanvallon: "A democracia é sempre experimental, por isso não há como distinguir entre antigas democracias estabilizadas e novas ainda em busca de uma boa fórmula"
Embora tenha seus 14 livros publicados em 22 idiomas, apenas dois títulos do historiador e cientista político francês Pierre Rosanvallon estão traduzidos no Brasil. Nesta semana, ele está pela terceira vez no país, para o lançamento de "Por uma História do Político" (Alameda Casa Editorial, com tradução de Christian Edward Cyril Lynch), em que reflete sobre a democracia examinando as contradições e as tensões organizadoras da vida democrática.


Observador dos regimes democráticos nos países emergentes, Rosanvallon refere-se ao Brasil como o país onde "incontestavelmente a democracia é mais viva". E rebate a percepção de que se esteja experimentando um surto populista no país ou na América Latina. O autor considera uma tensão dos regimes democráticos as diferenças entre o momento eleitoral - de sedução - e a hora de governar. "As qualidades de um bom candidato não são as mesmas de um bom governante, o que está na raiz do desencantamento democrático. Mas é possível ter uma boa democracia com políticos medíocres."
Valor: O Brasil é uma jovem democracia em processo de consolidação. Existe um caminho político adequado para a consolidação democrática?
Pierre Rosanvallon: A democracia não é um modelo que está perfeitamente definido, mas sempre uma experiência, um ideal que considera a contradição de saber como melhor representar a sociedade por meio do voto, da representação social, da opinião. A democracia é sempre experimental, por isso não há como distinguir entre antigas democracias estabilizadas e novas democracias ainda em busca de uma boa fórmula. Nos países europeus as democracias também são experimentais, não existe uma democracia já alcançada. Por definição, as democracias são inalcançáveis. A democracia brasileira tem seus problemas, assim como as democracias europeias. A democracia é um regime da vontade de todos, mas é um problema definir o que é a vontade de todos. Por fim, a democracia não é apenas um regime político, mas também uma forma de sociedade que organiza a vida comum, a partir da definição de quais são as desigualdades inadmissíveis e quais são as diferenças justificáveis. Em todas as sociedades há um debate permanente entre a relação.
Valor: São legítimas as ações governamentais que têm como objetivo obter bons resultados eleitorais? Essa seria uma característica inevitável de uma democracia popular? Refiro-me, no contexto brasileiro, às críticas aos programas de distribuição de renda que teriam uso eleitoral.
Rosanvallon: Em todas as democracias, e cada vez mais, há uma contradição entre o momento eleitoral e o momento de governar. O momento eleitoral enfatiza o possível e a proximidade entre o candidato e o eleitor. Esse é um momento marcado, sobretudo, pela sedução. E a demagogia participa desse jogo de sedução. Já o governo é fundado não pelo possível, mas pelas restrições, pelos limites, pela necessidade de fazer escolhas. Um dos problemas da democracia é que as qualidades necessárias para ser um bom candidato não são as mesmas para ser um bom governante, o que está na raiz do desencantamento democrático, presente em todas as sociedades. Os cidadãos que estavam satisfeitos no momento eleitoral ficam decepcionados no momento em que seus candidatos chegam ao governo. A grande questão é saber qual é a relação entre as proposições da campanha eleitoral e as políticas que serão adotadas. A democracia é um exercício de reflexão sobre a tensão entre o momento eleitoral e o governamental.
Valor: Existe uma boa democracia?
Rosanvallon: Uma política democrática é a que busca superar as desigualdades, de tal forma que não haja uma separação entre o mundo onde vivem os ricos e aquele onde vivem os pobres. Em São Paulo, tive a impressão de que existe a sociedade aérea, que vive e se movimenta nos helicópteros, e a sociedade terrestre, que circula de ônibus. A democracia não é o igualitarismo, mas a possibilidade de viver juntos. Sei que o Brasil é conhecido por combinar as desigualdades com a cordialidade, o que me levaria a dizer que o Brasil é o país da desigualdade cordial, melhor que uma desigualdade não cordial, claro.
Valor: No Brasil, as eleições presidenciais têm sido marcadas por propostas eleitorais conceituadas de centro-esquerda e de centro-direita, e os vitoriosos têm dependido das forças de centro. O senhor acredita que as experiências de consolidação democrática dependem do conservadorismo?
Rosanvallon: Não chamaria de conservadorismo, mas de racionalidade. A democracia é sempre a tensão entre a opinião e a razão, e é uma ilusão pensar que há a possibilidade de uma sociedade perfeitamente racional, ilusão que a França e o Brasil herdaram do positivismo. Acredito que haja mais uma tensão entre razão e opinião do que entre conservadores e progressistas. Poderíamos definir os conservadores como aqueles que enfatizam os limites, as restrições, e os progressistas como os que enfatizam as possibilidades. Valor: A consolidação da democracia brasileira é relevante para o fortalecimento de experiências democráticas na América Latina e para a consolidação de uma comunidade latino-americana?
Rosanvallon: A consolidação da democracia brasileira é fundamental para a consolidação internacional da democracia, porque entre os países emergentes o Brasil é incontestavelmente o país onde a democracia é mais viva. Que ela apresente muitas dificuldades, é razoável, já que é uma das maiores democracias do mundo. A situação brasileira é importante porque a América Latina foi o lugar onde o populismo criou a ilusão de que haveria uma relação possível entre um chefe e o conjunto da sociedade. O populismo é ao mesmo tempo uma ilusão sociológica, a de que há "o povo", e a ilusão democrática de que há uma pessoa ou um grupo capaz de encarnar a sociedade. A democracia nasce da resistência a essa dupla ilusão - de encarnação e de unidade -, ao dizer que ninguém é proprietário da representação política, que está sempre em disputa.
Valor: Existe algo que chame a atenção nas eleições brasileiras deste ano?
Rosanvallon: O peculiar nas eleições presidenciais brasileiras deste ano é que, em relação às precedentes, não há mais candidatos dotados de um carisma excepcional. São eleições disputadas por candidatos comuns. E pode-se considerar que a democracia vive normalmente com candidatos comuns e políticos medíocres. Pode-se dizer que a democracia vive excepcionalmente com grandes líderes e normalmente com políticos comuns, ordinários. É o que se vê também na Europa. Para ser um grande democrata é preciso considerar que a democracia pode ser feita com pessoas muito comuns.
Valor: O senhor acredita que o Estado laico seja uma das condições para a democracia?
Rosanvallon: Sim, se a laicidade é definida como a possibilidade de fazer coexistir filosofias e religiões diferentes. A laicidade deve definir as condições de vida em comum, possíveis para além das diferenças, para além das ideologias e das religiões. A laicidade é mais ampla do que a questão da religião, é uma questão do conjunto de diferenças fundamentais. A laicidade foi em sua época uma resposta às guerras religiosas. Não se pode compreender a história dos Estados na Europa sem reconhecer o papel das guerras religiosas. Atualmente se pode dizer que houve a ameaça de uma nova guerra religiosa, e portanto é preciso refazer o caminho pelo qual se possa superar essa ameaça, com a definição das instituições públicas que estão fora da esfera religiosa e devem organizar a coexistência entre Estado e religião. Organizar essa coexistência é sempre difícil porque a definição do que é público e do que é privado não é a mesma para todos. Pode-se defender o direito à diferença no campo privado e a redução da diferença no espaço público, mas não há uma mesma percepção do que é público e do que é priv

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Política - Parabéns aos Eleitos

Eu acho que toda eleição é um ato cívico. Influenciamos a vida de nosso pais com nosso trabalho, com nossos valores, com nossa atuação social, mas principalmente com nossa participação na seleção daqueles que administrarão nosso país. Muitos países pedem aos seus cidadãos sacrifícios imensos, como ir à guerra para defendê-lo, nem sempre por motivos justos aos olhos dos que fazem o país. O Brasil é um país pacífico e por isto nossa participação na vida cívica é muito menos sacrificada. Votar é muito mais que um dever, é um DIREITO.
0 trabalho dos partidos foi feito. A sociedade participou. A democracia foi fortalecida pela participação das forças políticas diferentes. A vitória nas urnas mostra que o país não caiu na unanimidade burra do Nelson Rodrigues.
Aos vencedores não as batatas, mas a missão de unir o país em um projeto de nação justa e democrática e honesta.
No meu caso e de 45% que votou em Serra, é hora de torcermos para que dê tudo certo no governo que se inicia. Desejar sucesso aos eleitos. Que nossas pre-ocupações em relação à Dilma e à extensão do governo Lula estejam erradas, para nosso bem e de nosso povo. Que Dilma faça o que prometeu, que o PT use o dinheiro público em benefício de todos. Que respeite a imprensa e os que pensam diferente. Que o Brasil de 2014 seja melhor que o Brasil de 2010.