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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

27/09/2010



RETA FINAL

Ary Ribeiro


A corrida presidencial entra esta semana na reta final, com Dilma Rousseff bem à frente, segundo as pesquisas, podendo a disputa encerrar-se no próprio domingo.

A esperança dos oposicionistas repousa quase que em algum possível milagre, uma súbida falta de combustível ou um furo de pneu, como às vezes ocorre em corridas de automóveis, fazendo com que o carro perca a velocidade e não chegue muito à frente dos outros.

Em outras palavras: a esperança é de que Dilma, nesta semana, tenha algum tropeço, perca alguns pontos e Serra e Marina subam um pouco, levando, assim, a decisão para segundo turno.

A esperança soa remota. Para Dilma, resta apenas o obstáculo final, que é o debate na TV Globo, marcado para quinta-feira. Foi num debate na mesma emissora que Collor arrasou com a candidatura Lula. Mas eram apenas os dois, num confronto direto.

Há quem acredite que Serra guarda na manga do paletó alguma carta decisiva, capaz de virar o jogo, pois sua campanha, até aqui, não fez jus à experiência política de quem já foi presidente da UNE, deputado federal, ministro duas vezes (com brilhantismo), candidato à Presidência da República, prefeito da capital paulista e governador do mais importante Estado da Federação.

Dadas, porém, as rígidas regras estabelecidas pelas televisões – que não permitem verdadeiros debates – e sobretudo a insistência de Serra em apresentar-se como uma segunda situação, sempre preservando Lula, parece pouco provável que o debate altere as tendências até aqui observadas.

Parece incrível que a campanha de Serra não tenha explorado a denúncia de tráfico de influência na Casa Civil da Presidência da República, envolvendo Erenice Guerra, braço direito de Dilma.

Vale reproduzir trecho de artigo de hoje de Denis Lerrer Rosenfield, publicado no Estadão: “A oposição não agiu enquanto tal, salvo, agora, de forma atabalhoada, quando a derrota se vislumbra no horizonte imediato. Uma oposição digna desse nome deveria ter apresentado propostas, mostrado o seu contraste com o governo, expondo o que fez no passado e sugerindo medidas alternativas. Não deveria ter-se escondido enquanto oposição, fingindo ser uma outra forma da situação.
A oposição tucana alçou Lula a um pedestal, como se ele estivesse acima do bem e do mal. Colocou-se, numa espécie de servidão voluntária, na posição de continuação do atual governo, interditando-se qualquer crítica ao atual mandatário. A chiadeira atual de que ele está ameaçando as instituições nada mais é do que o resultado de sua incompetência, o fruto desse reconhecimento preliminar de que a condenação do atual governo não deveria fazer parte de sua agenda política. É o estertor de uma política que não deu certo!”
O venezuelano Hugo Chávez está, por isso, otimista quanto ao resultado das eleições no Brasil. Não tem dúvida de que seu “irmão Lula” sairá vitorioso. Segundo a imprensa, há duas semanas, em entrevista à TV estatal, ele recomendou aos venezuelanos aprender a pronunciar o nome de Dilma Rousseff, a quem qualificou de "uma grande mulher, uma revolucionária".
A perspectiva de vitória de Dilma, acrescida dos constantes ataques de Lula à imprensa e de nova ação de juízes contra a liberdade de expressão – desta vez, juízes do Tocantins – tem deixado apreensivos setores democráticos do País. Na semana passada, personalidade do mundo intelectual, jurídico, artístico e religioso lançaram manifesto, em São Paulo, em defesa da Democracia.
Segue trecho do principal editorial da edição de ontem, domingo, do jornal O Estado de S.Paulo: “A acusação do presidente da República de que a Imprensa ‘se comporta como um partido político’ é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre ‘se comportar como um partido político’ e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente, não bastasse o embuste do ‘nunca antes’, agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.”

FICHA LIMPA
O resultado do julgamento da Lei da Ficha Limpa, no Supremo Tribunal Federal, era esperado. Sabia-se que o Tribunal estava dividido, meio a meio. A surpresa foi não ter havido conclusão. Esperava-se que o presidente, com o Voto de Minerva, desempatasse o julgamento ou que, com base em outro dispositivo regimental, se declarasse rejeitado o recurso e, portanto, válida a Lei.
Como havia observado em comentário anterior, havia e há fundamentados argumentos jurídicos para sustentar a posição num sentido ou noutro. Mas o fato é que um lado – a validade e a imediata aplicação da Lei – vai ao encontro do que as pessoas mais bem informadas esperam da vida pública brasileira, e o outro mantém por mais tempo os maus costumes de hoje.
Com todo o respeito pelos que votaram de forma diferente, não se tratava de sujeitar o julgamento ao que “o povo quer”, pelo fato de a Lei da Ficha Limpa ter-se originado de iniciativa popular. Estava em jogo o princípio da moralidade na administração pública, consagrado pela Constituição.
De qualquer modo, o resultado foi positivo porque, não tendo havido decisão, a Lei da Ficha Limpa continua em vigor. E mais: foi considerada constitucional. Ficou afastada a objeção quanto à alteração verbal feita pelo Senado. Só falta decidir se a Lei se aplica já ao pleito deste ano ou se é aplicável apenas aos que venham a realizar-se um ano após a vigência da Lei, e se pode retroagir a fatos passados.
Houve, de qualquer modo, um avanço.

ESTILO LULA

O estilo mitingueiro do presidente Lula já contagiou a maioria das agências de publicidade e vai se espraindo por outros setores. Quase não há mais anúncios na televisão em que não apareça um sujeito gritando as excelências de algum produto, desde fogão e geladeira até automóvel. O anunciante parece estar num palanque, falando das obras do PAC: quer, pelo artificial entusiasmo tonitruante, convencer o público de que o produto e os preços são os melhores possíveis.
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