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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Zilda Arns e o PSDB

Paula Sholl
Brasília (15/01/2010) - A colaboração entre Zilda Arns e o PSDB começou em 1998, com apoio do Ministério da Saúde à Pastoral da Criança. Naquela época, Zilda Arns, tragicamente morta na última terça-feira no Haiti, já assistia 1,5 milhão de crianças com menos de 6 anos e salvava a vida de milhares de bebês com medidas simples, como a visita domiciliar de agentes de saúde, orientação alimentar, ensino do uso de soro caseiro e a pesagem mensal das crianças.Isso permitiu, à época, que a mortalidade infantil nas áreas atendidas pela Pastoral ficasse entre 12 e 18 mortes por mil bebês nascidos. Nas regiões fora do alcance do trabalho de Zilda, esse índice saltava para 35 mortes.Por iniciativa do então ministro da Saúde José Serra, Zilda foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Representando o governo Fernando Henrique Cardoso, Serra seguiu para a Noruega, no início de 2001, com a missão de formalizar a indicação perante o Comitê do Prêmio Nobel.Naquela época, em entrevista à revista Isto é, Zilda Arns contou: "Sem nenhum conteúdo político, digo que o ministro da Saúde, José Serra, foi o primeiro ministro a dar atenção à Pastoral. Quando fui a Brasília pedir recursos, ele não quis olhar nada, simplesmente disse: "quero dobrar a nossa participação".Fiel à verdade, Zilda não hesitou em defender os programas sociais do PSDB diante das críticas furiosas do PT depois da vitória de Lula. O primeiro que ela defendeu foi o Bolsa Escola, criado pelo Ministério da Educação, e que entregava R$ 15,00 a cada criança de família carente que estivesse na sala de aula e com os atestados de vacinação em dia: " Os R$ 15 parecem pouco, mas promovem desenvolvimento local sustentável ", dizia. Feminista e conhecedora dos hábitos familiares brasileiros, elogiou a decisão do governo tucano de entregar a titularidade dos cartões do Bolsa Escola às mães: "É o possível no momento e os resultados mostram a promoção da mulher em sua cidadania."Logo após as eleições de 2002, quando Lula e o PT se achavam os inventores da história brasileira na formulação de programas sociais, a criadora da Pastoral defendeu a manutenção, não só do Bolsa Escola, como também do Bolsa Alimentação, que entregava R$ 15 a crianças até 6 anos de idade e mães em período de amamentação pelo prazo de seis meses. "É preciso – disse - valorizar os caminhos abertos pelos programas sociais que começaram a ser implantados nos últimos anos, como o Bolsa Escola, o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), o Bolsa Alimentação e o benefício para idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais. Um grande passo seria avaliar essas experiências, reconhecer seus méritos e suas falhas e, a partir disso, aperfeiçoá-las e ampliá-las."Zilda Arns ainda combateria a criação do "cupom de alimentação" com o qual os excluídos comprariam alimentos com nota fiscal. Com isso, o PT revelava um surpreendente ranço elitista: os cupons e as notas fiscais deveriam ser necessários para impedir que os pobres comprassem cachaça ou gastassem o dinheiro em farras, como alegavam as oligarquias mais reacionárias dos anos 60.Zilda venceu: os cupons foram esquecidos e o novo governo manteve o sistema de cartões magnéticos criados pelo governo "neoliberal" e que permitiam o saque em dinheiro.Em outubro de 2005, ela continuava viajando por todo o Brasil, colhendo experiências e conhecimento. " Temos é que desenvolver programas de geração de emprego e renda para que as pessoas se insiram socialmente."Em 2006, cansada, anunciou seu afastamento da coordenação da Pastoral, que já atuava em 14 países da América Latina, Ásia e África. O próximo país na lista de espera pela Pastoral da Criança, que Zilda Arns Neumann tanto amava, era o Haiti.

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