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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

16/08/2010 Ary Ribeiro é Jornalista e Publica sempre às segundas neste Blog


SERRA E A ENCRUZILHADA

Os dados da última pesquisa do DataFolha, divulgados no fim da semana, mostraram Dilma Rousseff pela primeira vez à frente de Serra: 41% contra 33%. Em comparação com a pesquisa anterior, de fins de julho, ela subiu 5 pontos e Serra caiu 4. Como o instituto ouviu os eleitores entre os dias 9 e 12, é pouco provável que a pesquisa tenha refletido o resultado da entrevista de Serra ao Jornal Nacional, da TV Globo, realizada na noite anterior, dia 11. Dilma fora ouvida no dia 9.

Parece fora de dúvida, de qualquer maneira, que ela subiu e que Serra caiu. Por que? De um lado porque Lula mobilizou o governo para impulsionar a candidatura de Dilma, de outro porque a estratégia de Serra não estaria dando o resultado esperado. Não tem feito críticas diretas a Lula porque – justifica – ele não é candidato. Daqui a quatro meses e pouco deixará o governo e irá para casa. Candidata a governar o País é Dilma – e é com ela que se deve travar o combate. O eleitor deve comparar Dilma com ele, Serra, e ver qual dos dois está mais preparado para gerir os destinos da Nação nos próximos quatro anos.

A estratégia, aparentemente correta, pretende desvincular Dilma de um presidente com tão alta aprovação popular. Acontece que isso não estaria ocorrendo. Serra não está conseguindo dissociar Dilma de Lula e então ficam ele e Dilma falando mais ou menos a mesma coisa. Um diz que vai fazer não sei quantos hospitais e quantas escolas, que fez isso e aquilo, outro diz que vai fazer o trem-bala (que por enquanto não passa de fantasia de campanha eleitoral, pois não há nem levantamento de trajeto, de possíveis e complicadas desapropriações etc.) e não sei quantos quilômetros de ferrovias e que também fez isso e aquilo. Ou seja, como diria Plínio de Arruda Sampaio, são candidatos iguais. E se são iguais, imagina o eleitor – que, de modo geral, não está insatisfeito com a situação do País – por que mudar?

Serra aproxima-se, pois, de uma encruzilhada. Vai continuar com essa mesma estratégia nos programas de propaganda eleitoral que começarão amanhã, na televisão, ou a mudará drasticamente? Se persistir nesse caminho e, depois dos primeiros programas não obtiver o resultado esperado, seria melhor lançar fora a pele de cordeiro e agir como leão, atacando firmemente os desmandos administrativos, os desvios de conduta, a partidarização da máquina governamental, enfim, tudo de errado que há no governo. Tem de deixar claro para o eleitor de que lado está o trigo e de que lado está o joio. Talvez só assim se tire o eleitorado da letargia em que está mergulhado.


REVELAÇÕES DO PORÃO

Muito esclarecedora a entrevista do sindicalista Wagner Cinchetto à revista Veja. Ele revela, como ex-integrante de um grupo sindical-petista, como se preparam dossiês contra adversários. Uma de suas informações é de que esse grupo esteve por trás do caso Lunus.

Para quem não se lembra, Roseana Sarney, então do PFL, começava a subir como pré-candidata à Presidência da República nas eleições de 2002, em que concorriam também Lula e Serra. Sua candidatura, porém, desabou quando a Polícia Federal, com mandado judicial, vasculhou o escritório da empresa Lunus, no Maranhão, descobriu suas ligações com a candidata, irregularidades com a Sudam e R$ 1,34 milhão em dinheiro. A família Sarney atribuiu o fato ao então candidato José Serra – agora se sabe que tudo teria sido engendrado pelo porão sindical – bandeou-se para o lado de Lula e o PFL, agastado, distanciou-se de Serra e do PSDB.

Pergunta da revista: O então candidato Lula sabia alguma coisa sobre a atividade de vocês? Resposta: Lula sabia de tudo e deu autorização para o trabalho.


DILMA E AS PROVAS

Indagada sobre a matéria de O Estado de S.Paulo, segundo a qual, em julho de 2004, a governadora Roseana Sarney, sua aliada, teria simulado empréstimo de R$ 4,5 milhões com o Banco Santos, para repatriar dinheiro do exterior, Dilma Rousseff disse que só se manifestará depois de ver os documentos do Banco – que está sob intervenção judicial, decretada em novembro de 2004. Se ela for esperar que os documentos sejam examinados pela justiça – com decisão transitada em julgado – talvez não se manifeste antes das eleições de 2014.


O PASSADO DE DILMA

Na extensa matéria que a revista Época publica sobre as atividades de Dilma Rousseff na luta armada contra o regime militar, não há nada indicando ter ela participado diretamente de ações armadas, como assalto a bancos (para “expropriações”, segundo a terminologia dos grupos da luta armada) ou assassinatos. Mas consta dos arquivos policiais que ela ocupava cargos de direção nacional nesses movimentos, denominados de Colina, VAR e VAR-Palmares.


AGÊNCIAS ESVAZIADAS

Lula nunca escondeu seu desapreço pelas Agências Reguladoras, criadas pelo governo Fernando Henrique para assegurar o cumprimento de contratos e defender os interesses de usuários de serviços públicos. Ao tomar posse, em 2003, disse que elas eram uma forma de “terceirizar o governo”. Desde então as vem debilitando. Primeiro, loteando os cargos de direção entre partidos políticos aliados, quando a ideia era de que, para atuarem com independência, as agências deveriam ser dirigidas por técnicos desvinculados até mesmo do governo. Depois, criando órgãos para assumir papeis das agências, como é o caso da recriação da Telebrás e da Petro Sal. Agora se revela que o governo as está deixando também à míngua de verbas. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o contingenciamento médio das verbas, entre 1998 e 2009, foi o seguinte em cada Agência: ANP (combustíveis), 88,9%; Aneel (energia), 51,7%; Anatel (telecomunicações), 84,7%; Ana (águas), 53,6%; ANTT (transportes terrestres), 46,9%; Antaq (transportes aquaviários), 34%; e Anac (aviação), 35,9%.

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