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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

09/08/2010 Ary Ribeiro Jornalista, publica às segundas coluna neste blog.



HAVIA UM IRÃ NO MEIO DO CAMINHO...




Como a lembrar o conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, havia um Irã no meio do caminho das pretensões de Lula de se tornar líder internacional, quem sabe podendo vir a ser eleito secretário-geral da ONU.

O presidente brasileiro desfrutava de aura de simpatia no mundo, principalmente entre as esquerdas europeias. Era “o cara”, como disse Obama (talvez com certa ironia). Afinal, era um operário, um sindicalista que ascendera ao posto máximo de uma nação cada vez mais expressiva no concerto das nações.

Começaram, porém, os tropeços. Primeiro foi Cuba. Lula teve o azar de chegar àquele país – para mais uma visita ao querido amigo Fidel – e posar para foto ao seu lado, sorridente, justamente no dia em que um prisioneiro político morria em greve de fome. Não bastasse a foto, ainda comparou prisioneiros políticos a criminosos comuns. Foi péssima a repercussão internacional. Seu prestígio ficou abalado.

Depois, outro tropeço no Oriente Médio. Aparentemente, julgou que só estava faltando um cara como ele para promover o diálogo e a paz entre judeus e palestinos, inutilmente tentado pelas grandes potenciais ocidentais, inclusive com todo o pelo dos EUA. Mas ele era o homem talhado para ter êxito. Foi a Israel e à ao território palestino e saiu de lá de mãos abanando.

Finalmente, vieram os tropeços do Irã. O presidente brasileiro deu crédito à história de seu amigo Mahmoud Ahmadinejad de que o país só queria enriquecer um pouco de urânio para fins pacíficos e não para fazer artefato nuclear e lançá-lo contra Israel. Lula levou o Brasil, assim, a votar, ao lado somente da Turquia, contra as sanções impostas ao Irã pelo Conselho de Segurança da ONU. Foram 12 votos a favor, 2 contra e uma abstenção, a do Líbano.

Mas o Irã reservava ainda mais um tropeço ao presidente brasileiro. Quando o mundo inteiro (civilizado) se indignou com a iminência da barbárie de se enterrar até o busto uma mulher de 43 anos, mãe de dois filhos, e matá-la lentamente a pedradas, depois de já recebido 99 chibatadas, sob a insólita acusação de, viúva, ter cometido “adultério”, e pediram a Lula que usasse de sua estreita amizade com o tirano iraniano para salvá-la, eis o que ele declarou: “É preciso ter cuidado, porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras. Se começam a desobedecer às leis deles para atender aos pedidos de presidentes, vira avacalhação.”

Tentar evitar uma barbárie, uma selvageria própria da Idade Média, agir em defesa de direitos humanos universais, para o presidente brasileiro seria “avacalhar” leis e costumes de outros países...


Parece que advertido de que sua declaração não soara bem, nem aqui nem no mundo, mudou de posição. Mas foi novamente infeliz. Num comício em Curitiba, disse que iria telefonar para Ahmadinejad e dizer-lhe: “Se essa mulher está causando incômodo, nós a receberemos de bom grado no Brasil.” Quer dizer então que ela, a ser apedrejada, é que estaria a incomodar o tirano? Só se pelo fato de sua desdita ter-se tornado pública..
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O Ministério iraniano do Exterior considerou Lula “muito humano e emotivo”, mas não bem inteirado a respeito do caso. Curioso. Sobre esse horripilante caso, ele não está bem informado. Mas está sobre as intenções do programa nuclear iraniano.

O presidente brasileiro foi mais adiante: deu toque de humor (negro) ao caso, ao cantarolar uma estrofe do samba de Ataulfo Alves: “atire a primeira pedra, ai, ai, ai, aquele que não traiu”.

Não se pode ser ingênuo e imaginar que um país vá romper relações ou ameaçar com retaliações outro país só porque este tem costumes bárbaros, comete crimes contra a humanidade, mas se espera que ao menos os tiranos não sejam tratados como amigos, abraçados e recebidos com banquetes. Business is business, mas há limites.

A propósito de costumes bárbaros, não é apenas Sakineh Mohammadi Ashtiani que aguarda o apedrejamento (por “humanidade”, poderá vir a ser enforcada...). Nos corredores da morte, no Irã, há outros 25 condenados à mesma morte lenta e cruel. No Afganistão, talibãs acabam de matar dez médicos europeus que ali estavam para voluntariamente ajudar a infeliz população. Mas eram acusados de também distribuir Bíblias...

São crimes praticados em nome de religiões. O cristianismo também teve sua cota de insanidades, ao torturar barbaramente e queimar “bruxas” e “hereges”. Mas isso foi lá pela Idade Média e um pouco depois. Causa-nos indignação que correntes do islamismo, em pleno século XXI, exerçam práticas semelhantes. Os dirigentes desses países e juízes que proferem essas sentenças deveriam ser julgados pela Corte Penal Internacional por crimes contra a humanidade.


DEBATE FRUSTRANTE

Foi frustrante o primeiro debate entre os candidatos presidenciais promovido pela TV Band. Além de ter sido transmitido tarde da noite (para a imensa maioria da população, que no dia seguinte tem de sair cedo para o trabalho), coincidiu com importante partida de futebol e teve formato que não permitia maior discussão de ideias. Não bastasse isso, os próprios candidatos evitaram terrenos espinhosos. Salvo o candidato do PSol, Plínio de Arruda Sampaio, que sem nada a perder, defendeu suas (antiquadas) ideias e lançou farpas sobre os outros candidatos.

Um debate para valer deveria partir de perguntas feitas, na hora, por jornalistas, advogados e membros de outros setores representativos da sociedade, a partir das quais os candidatos poderiam dirigir-se uns aos outros.


FICHA LIMPA EM RISCO

Há uma porção de juízes eleitorais, País a fora, empenhados em pôr no cesto de lixo a moralizante Lei da Ficha Limpa. O argumento que usam é o mesmo do ex-ministro do STF Eros Grau (ainda bem que não está mais lá), o de que a Lei feriria dois dispositivos constitucionais: o da aplicabilidade nas eleições deste ano e o da irretroatividade da lei penal.

Ambos os argumentos já foram derrubados pelo TSE. Quanto à aplicabilidade, não houve alterações nas regras eleitorais, caso em que, pela Constituição, a lei só poderia entrar em vigor faltando no mínimo um ano para as eleições. Quanto à retroatividade, a vedação é para a lei penal. Uma lei penal só pode retroagir se for para beneficiar o reu. No caso, porém, não se trata de questão penal (com todo respeito pela opinião contrária de juízes e procuradores eleitorais do Maranhão...), mas de critérios para registro de candidaturas. A Lei da Ficha Limpa não está condenando ninguém. Só está impedindo o acesso à vida pública a quem sofreu condenação imposta por um colegiado. O condenado poderá vir a ser inocentado em instância superior. Até lá, porém, pairam fundadas dúvidas sobre sua conduta. Então, in dúbio pro societate.


HERANÇA MALDITA

Segundo notícia publicada domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo, o governo Lula legará ao sucessor saldo a pagar de R$ 90 bilhões, conforme estimativas da área técnica. Novo recorde, superando os R$ 72 bilhões, que passaram de 2009 para 2010. Em 2002, Fernando Henrique deixou para Lula saldo a pagar de R$ 22,6 bilhões.

Para Dilma, o crescimento dos pagamentos pendentes resulta de “investimentos feitos nos últimos anos”. Opinião de candidata à herança...


A VACA LEITEIRA DA TELEFONIA


Quando estava na oposição, o PT combateu fortemente as privatizações feitas pelo governo Fernando Henrique. Não as desfez, porém, quando chegou ao governo. E o jornalista Ethevaldo Siqueira, especializado em informática, indica uma das razões. Na área da telefonia fixa e móvel, o governo recolheu, nos últimos dez anos (quase oito na gestão Lula) nada menos que R$ 330 bilhões só de impostos. “O governo arrecada, nesse setor, o correspondente a 10 vezes o lucro líquido de todas as operadores de telefonia fixa e celular juntas”, diz o jornalista. É por isso, ainda segundo ele, que nós, brasileiros, pagamos uma das tarifas mais altas do mundo. As alíquotas de tributação sobre serviços de telefonia (43% ) são as mais altas do mundo. E o pior é que “em lugar de investir nesse setor vital, o Estado brasileiro prefere usar as telecomunicações como uma vaca leiteira, uma mina de ouro, da qual retira e confisca o máximo”. O sistema de banda larga no País, por exemplo, é uma lástima.

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