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terça-feira, 30 de março de 2010

Educação de Civilidade, eis o que nos falta

O Custo Brasil de um aeroporto
Retirado do Blog do Noblat em 30/03/2010
Joaquim Falcão


A experiência é com o aeroporto do Galeão, o quarto do Brasil, logo atrás de Guarulhos, Congonhas e Brasília, que estão em obras para a Copa e as Olimpíadas. Mas é provavelmente a mesma para todos os grandes aeroportos.

Quase cinqüenta banheiros já foram reformados. Mas todo fim de semana a Infraero tem que repor cerca de 100 peças novas. Torneiras roubadas, vasos quebrados e até espelhos desaparecidos.

Cada criança e adolescente pedinte, que consegue entrar no saguão ou ficar na calçada, faz cerca de 70 reais por quatro horas de trabalho. Ganha provavelmente mais e trabalha provavelmente menos do que seus pais se forem trabalhadores de carteira assinada.

Os taxistas, em vez de irem ao banheiro, pela pressa e comodidade não raramente usam as paredes e cantos. Esses são pequenos exemplos, mas somem todos, multipliquem e terão uma idéia dos aumentados custos de limpeza, segurança e manutenção de um aeroporto.

É um dos aspectos do que se denomina Custo Brasil.

Custo Brasil é uma expressão tipo slogan que inventaram para significar o custo adicional que o Brasil tem no cenário da competição global, e que não deveria ter.

Daí o custo Brasil como lentidão da justiça. O custo Brasil como burocratização. O custo Brasil como sobrecarga na folha de pagamento. E por aí vamos.

O que está por detrás desse custo Brasil dos aeroportos? E como evitá-lo?

Trata-se de um custo de falta de educação popular do exercício da cidadania. Não é um custo de falta de educação para o exercício de uma profissão ou de uma qualificação técnica. É outro custo de educação, que não se aprende na escola. Mas que poderia aprender.

Como se comportar diante do patrimônio público? Como se responsabilizar, como ser controlado? Como conviver na coletividade?

Não se nasce sabendo. Mais do que educação é um processo positivo de socialização. Mas isto se aprende também. Basta lembrar que na China, antes da Olimpíada, o governo fez campanha para mudar o hábito milenar das pessoas de cuspirem no chão. Lá, hábito. Cá, falta de educação.

Administrar um aeroporto, segundo Willer Furtado, superintendente da Infraero, é administrar não apenas, no Galeão, por exemplo, cerca de mil funcionários, mas sim uma comunidade de cerca de 26 mil pessoas.

E como em toda a comunidade, problemas de educação surgem também. Em geral só se fala dos milhões necessários para completar obras.

As obras vão estar prontas, ao que tudo indica. Já a educação, não sei.

O Brasil é um país curioso. É capaz de ter sofisticadas disciplinas obrigatórias para o primeiro grau e ensino médio como arte e sociologia, mas na escola não se ensina, ou se ensina apenas excepcionalmente, cidadania, direitos, deveres, comportamento.

Acresça ainda outro fator lembrado pelo superintendente.

Nos últimos anos uma nova classe social, de menor rendimento, teve felizmente acesso ao transporte aéreo. O que é muito positivo. Mas não tem a menor idéia do que seja check-in ou gate.

A maioria dos avisos de um aeroporto é em inglês. E será mais ainda nas Olimpíadas. Não é por menos que na Coréia os operários são alfabetizados nas duas línguas há décadas: inglês e coreano. Não é questão de desnacionalização. É questão de nacionalização no global.

Esse descomportamento perceptível na comunidade de um aeroporto não é um comportamento mal educado, nem é natural do brasileiro, nem destino inevitável.

É típico de um país onde a ascensão social está acelerada. A família de ontem tem menos renda e menos educação do que a família de amanhã. Não pode transmitir o que não tem.

Quem tem que fazê-lo e rápido são o governo e a sociedade civil organizada, no caso, as cooperativas de taxi, as companhias aéreas, os proprietários de lojas, a prefeitura, pois nem só de segurança vive um aeroporto ou um país.



Comentário do Zé - como levar nossa gente a compreender o valor do patrimônio coletivo se nossos políticos estão sempre misturando os bens coletivos com os seus, vide a bandeira do PT no jardim do Palácio da Alvorada e os mensalões do PT no Brasil e do Dem em Brasília! Precisamos pensar em algo e agir para mudar esta realidade patrimonialista.

2 comentários:

Tomás Vasconcelos disse...

É engraçado, porque existem sim esforços para o incentivo à cidadania, como propagandas de TV,mas eu concordo plenamente que essa questão tem que ser resolvida nas escolas , porque cidadania é um valor cultural, e por mais que se tente ensinar isso às pessoas, o cenário só será positivo quando este for um dos pilares da educação, parte do nosso senso comum mesmo,uma daquelas coisas que só veremos no futuro das crianças de hoje, pena que soluções no longo prazo nunca foram um dos fortes da política brasileira.

Jose Ricardo da Costa e Silva disse...

Antes a gente tinha dificuldade de ver o longo prazo por causa da inflação, acho que o Plano Real e a estabilização da economia brasileira foram um passo muito importante nesta direção. Depois veio o governo do PT - tão temido pelos investidores (os mais dependentes do longo prazo) – que acabou respeitando os contratos e aceitando as regras democráticas e assim consolidando a estabilidade da economia brasileira. Agora precisamos dar este passo que você se refere, precisamos de políticos preocupados com o longo prazo.
Abraço do Zé Ricardo