Ary Ribeiro * Em 29/03/2010
Os últimos dias foram só de alegria na área da Oposição, principalmente no PSDB. Saiu o resultado de pesquisa DataFolha apontando seu candidato – a pré-candidatura será formalmente anunciada dentro de mais alguns dias – com 36% e Dilma com 27%. Nada menos do que 9 pontos de diferença!
O governo Lula continua com boa aprovação (76%), pelas razões que já aventei neste Blog e que no momento não vêm ao caso. O importante, para os oposicionistas, é que, nesse segmento, Dilma caiu de 35% para 33% e Serra foi de 27% para 32%, numa demonstração de que a transferência de votos não é tão simples assim e que há muita gente que gosta do governo, mas gosta também do governador de São Paulo.
Aliás, outra pesquisa, hoje divulgada , comprova isso. O governo Serra tem 55% de aprovação e apenas 11% o acham ruim. Como se acredita que o PT conta com aproximadamente 30% do eleitorado, isso significaria que mesmo parcela ponderável de petistas aprova seu governo.
Outro dado relevante da pesquisa anterior é que entre os que julgam o governo Lula regular, Serra pulou de 46% para 51%. Dilma tem apenas 9%.
Para o governo de São Paulo, o resultado da pesquisa DataFolha, hoje divulgado, indica que o tucano Geraldo Alckmin pode vencer no primeiro turno. Tem 53% contra 13% de Aloizio Mercadante (PT), 10% de Celso Russomano (PP), 3% de Fábio Feldmann (PV) e 1% de Ivan Valente (PSOL).
POUCO PAC, MAIS PAC
Notícia, de hoje: “Dilma é anunciada com destaque em evento do PAC 2 - LEONARDO GOY, FABIO GRANER E TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado - A chegada da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para lançamento da segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) já deu o tom político-eleitoral do evento. Pré-candidata à Presidência da República, (o) nome de Dilma só foi anunciado depois que ministros, governadores e prefeitos já estavam presentes e perfilados no palco ou próximo dele. Dilma foi a única a ser aplaudida ao ter o seu nome anunciado por duas vezes. Na segunda vez foi aplaudida de pé pela maioria dos participantes do evento.”
A notícia dispensaria comentários. Mas que outro sentido teria toda essa encenação para lançar um PAC 2 quando, segundo a ONG Contas Abertas, após três anos, o PAC 1 só conseguiu concluir 11,3% das obras e 54% delas não chegaram sequer a sair do papel?
Diz também o Estadão de hoje: “Um relatório reservado que chegou no início do ano às mãos da ministra, intitulado Sinais de Alerta do PAC, constatava que a ‘implementação’ do programa estava ‘problemática’ porque sobravam ‘recursos disponibilizados’ para o plano. Gerente do governo, Dilma distribuiu broncas na equipe e cobrou empenho na execução das ações de infraestrutura logística, energética, social e urbana.”
Não seria mais razoável concluir as obras do PAC 1?
CASO ISABELLA
Muito já se falou e escreveu sobre o trágico caso da menina Isabella, mas vale ainda alguma reflexão. O promotor Francisco Cambranelli, com base em trabalho meticuloso feito pela perícia técnica e por ele próprio, provou que o casal Nardoni estava dentro do apartamento quando Isabella foi lançada pela janela, sepultando de vez a inverossímel versão de que uma terceira pessoa, sem nenhum propósito e em exíguos minutos, teria entrado no apartamento e cometido o crime.
Imaginemos que, num acesso de fúria, o casal tenha agredido a menina e a estrangulado, pensando tê-la matado. Caindo em si, o casal poderia chamar um pronto-socorro ou a polícia, assumir a culpa e, com isso, responder por agressão seguida de morte ou crime culposo, em que não há intenção de matar, o que, na origem, seria o caso. O que o terá levado a buscar um caminho tortuoso, pensando – como expôs o promotor – que, ao apagar vestígios de sangue e lançando a menina pela janela, encobriria a causa da morte? O casal não imaginou que, dispondo do mais avançado equipamento técnico do País, a pericia paulista não deixaria de esmiuçar os mínimos detalhes, como o fez, e a pena seria consideravelmente agravada?
Agora, uma curiosidade: o promotor Francisco Cembranelli é casado com uma brasiliense, Daniela Sollberger, formada em Direito em Brasília e também promotora de Justiça em São Paulo. Ela é filha de Deize e Paulo Sollberger, falecido subprocurador-geral da República junto ao STJ.
CEILÂNDIA: HOMENAGEM A OTOMAR
A cidade-satélite de Ceilândia comemorou, neste fim de semana, 39 anos de existência, aparentemente sem se lembrar de seus criadores. Seu idealizador, por sinal, Otomar Lopes Cardoso, faleceu há dois meses, em Natal, aos 74 anos de idade, sem que sobre ele aparecesse uma linha sequer nos jornais de Brasília.
Otomar veio do Rio Grande do Norte para Brasília, a convite do governador Hélio Prates da Silveira, para ocupar o cargo de Secretário de Serviços Sociais. Foi no exercício desse cargo que ele procurou solução para o então mais grave problema social da cidade: as favelas, chamadas de “invasões”, nas quais viviam mais de 70 mil pessoas. A “Invasão do IAPI” era a maior delas e tinha esse nome por situar-se nas proximidades do antigo hospital do IAPI (extinto Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários), em frente da entrada da Candangolândia.
A solução encontrada e aprovada pelo governador consistiu em urbanizar uma área, próxima de Taguatinga, dividi-la em lotes e para eles transferir os ocupantes das “invasões”. Os barracos seriam remontados nos fundos dos lotes, para permitir que, com o tempo, pudessem ser construídas, na frente, casas de alvenaria.
Otomar lançou a Campanha de Erradicação das Invasões, cuja sigla era CEI. Daí o nome Ceilândia. Era um trabalho gigantesco, visto até com certa reserva, por exemplo, por outro potiguar, o diretor-presidente do Correio Braziliense, Edilson Cid Varela, um dos primeiros a tomar conhecimento da Campanha. Ele deu, no jornal, porém, toda cobertura e apoio à iniciativa.
O que parecia quase impossível, tornou-se realidade pelas mãos competentes da assistente social da Fundação do Serviço Social Maria de Lourdes Abadia, a quem coube comandar a equipe encarregada de fazer o levantamento das famílias que tinham direito aos lotes e de promover a transferência dos barracos. O destaque por ela conseguido, com o bom trabalho realizado, abriu-lhe caminho para uma carreira política que a levou à Câmara dos Deputados e até ao Governo do Distrito Federal.
Otomar tinha a idéia de montar, nas entradas do Distrito Federal, postos de orientação para famílias de imigrantes, as quais seriam informadas sobre inexistência de local para morar e sobre as dificuldades de obter trabalho. Se quisessem, teriam ajuda para voltar ou para dirigir-se a outros destinos. Seria a forma de ao menos inibir a formação de novas favelas. A idéia, porém, não chegou a ser posta em prática. O governo de Hélio Prates estava se encerrando. E aí vieram governantes que até estimularam a vinda de imigrantes, acenando com a possibilidade de ganharem lotes aqui. O inchaço demográfico – que ocorreu em todos os grandes centros urbanos – foi aqui incentivado também graças à autonomia política e administrativa que alguns políticos conseguiram para o Distrito Federal, pois esses “assentados” poderiam ser convertidos em eleitores quase cativos. E deu no que deu.
A história da Ceilândia foi aqui lembrada não apenas pelo seu aniversário, mas também em homenagem póstuma a Otomar Lopes Cardoso.
* O autor é jornalista.
segunda-feira, 29 de março de 2010
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