Seguidores

terça-feira, 16 de março de 2010

Coluna do Ary: POR QUE A APROVAÇÃO?

Ary Ribeiro *


Um amigo não entende como podem as pesquisas indicar alto índice de aprovação do presidente Lula e seu governo, porque não encontra ninguém pró Lula entre as pessoas à sua volta, em Brasília, São Paulo, Curitiba ou Natal. Chega, por isso, a duvidar da correção das pesquisas.

Disse-lhe, não sem uma dose de humor, que ele só circula entre aqueles 15% ou 20% que insistem em ver o rei nu, contra a imensa maioria que não está nem aí para suas vestes. Para a grande maioria, pouco importa que o presidente diga disparates, entre em contradição, faça campanha eleitoral fora de hora, esteja rodeado de amigos ou colaboradores que, vira e mexe, são apontados como envolvidos em denúncias de corrupção, como os casos do mensalão, da Bancoop e de superfaturamentos. Menos ainda o que faz na área da política externa.

Ainda há pouco, o presidente Lula teve o azar de chegar a Cuba, para abraçar seus amigos Fidel e Raul Castro, justamente no dia em que “se deixou morrer”, em greve de fome, o pedreiro e prisioneiro político Orlando Zapata, fato que o obrigou a fazer alguma declaração. E então praticamente censurou a vítima e não o regime que prende e tortura dissidentes políticos.

Sua irritação era compreensível. Não podia e não queria condenar o regime cubano. Não por força do princípio da não-intervenção, que norteou a política externa brasileira até recentemente, porque no caso de Honduras o Brasil tomou clara posição em favor de um dos lados (o de Zelaya) numa questão interna do país. Mas por apreço ao governo cubano. Sabia, entretanto, que teria seriamente afetada sua até então boa imagem no exterior. Mario Vargas Llosa, em artigo, declarou-se decepcionado. Sindicalistas norte-americanos criticaram sua posição em relação a Cuba. E sua imagem está se corroendo também devido à relação estabelecida com o presidente iraniano Ahmadinejad. Lula acaba de ver, em Israel, o custo dessa aproximação. Por sinal, a sorte também não o acompanhou nessa viagem, pois sua chegada coincidiu com novos conflitos devido à decisão de Israel de construir casas em área povoada por palestinos, o chanceler israelense não quis vê-lo discursar e os setores mais radicais não se conformaram com sua recusa em visitar o túmulo do fundador do movimento sionista (que deu origem a Isarel), se estava prevista visita ao do palestino Yasser Arafat.

Nada disso abala os índices internos de aprovação. A explicação talvez possa ser buscada na situação vivida pelo País, que está bem, mesmo tendo apresentado, em 2009, o menor PIB desde 1992. As pessoas comuns não se guiam por estatísticas ou dados econômicos e sim pelo que sentem. E de modo geral se sentem bem. Parece ser alto o índice de felicidade. Não há desemprego exacerbado, há facilidade de consumo e até boa parte da população mais pobre pôde chegar ao mercado.

Isso se deve a Lula? Em parte, sim. Não, porém, pelo que fez, mas pelo que não fez. O temor geral que cercou sua primeira eleição, fazendo o dólar disparar e afetando a inflação, mostrou-se, felizmente, infundado. Lula, no governo, recolheu as velhas bandeiras do PT e, graças principalmente ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, manteve os rumos da política macroeconomia herdada do antecessor, Fernando Henrique. Encontrou a casa arrumada e não a desarrumou. Esse seu mérito.

A herança, por sinal, vinha de antes. Se se olhar mais para trás, se verá que o Brasil começou a mudar, para melhor, a partir da transferência da Capital, que permitiu a ocupação e exploração das vastas áreas de cultivo do Planalto Central. Esse foi o berço do agronegócio, que ganhou impulso com a criação da Embrapa, a abertura de estradas e a melhora da infraestrutura (já sob os governos militares). Adotaram-se medidas, nos governos Sarney e Collor, para conter a inflação, as quais fracassaram, mas criaram condições para a vitória do Plano Real, sob o governo Itamar Franco e o comando de Fernando Henrique. Este, no governo, privatizou empresas que viviam às custas do Estado ou que – casos da Vale, da Embraer e das telefônicas – não podiam desenvolver-se por estarem amarradas à legislação pública; saneou o sistema bancário; arrumou as dívidas dos Estados; impôs limites de gastos (Lei da Responsabilidade Fiscal); estabeleceu o câmbio flutuante e as metas de inflação etc. O governo Lula colheu os frutos de tudo isso, sem falar que passou os primeiros seis anos surfando nas ondas de um período sem crise econômica no mundo.

Não houve apenas isso. Os produtos eletroeletrônicos, pela produção em escala, sofreram natural queda nos preços. Um televisor de plasma de 42 polegadas que, há dez ou 15 anos custava R$ 20.000,00, hoje pode ser adquirido por menos de R$ 3.000,00. Sem falar que a China inundou o mercado com produtos e quinquilharias a preço de banana. Ora, se as pessoas estão podendo comprar carros, geladeiras, fogões, televisores, computadores, bugigangas – ainda que a prazo – acham que está tudo bem. Se lhes perguntam se estão satisfeitas com o presidente Lula e seu governo, a resposta, quase inconscientemente, é positiva.

Quem sabe se, nas próximas eleições, os eleitores acabem levando em conta também questões de ordem ética e de real capacidade de conduzir o Brasil a futuro melhor. Seria salutar, não a comparação sobre quem fez mais ou menos, quem é pai ou mãe disso ou daquilo, mas entre os candidatos, seus currículos, seu passado, suas realizações.

* O autor é jornalista.

Nenhum comentário: