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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

18/10/2010

OPÇÃO PELA DEMOCRACIA

Ary Ribeiro

Aproxima-se a hora da decisão. No dia 31 não se optará apenas por quem vai fazer mais isto ou aquilo, quem vai fazer mais escolas técnicas, creches, policlínicas, estradas.

Não estará em causa somente escolher quem é melhor administrador, se Dilma Rousseff ou José Serra. Nesse quesito, por sinal, o último ganha de longe. Tem experiência comprovada e aprovada por sucessivas votações.

O que estará em jogo, no meu entender, são questões mais profundas, que dizem respeito a valores, à ética e à Democracia.

O PT foi criado tendo por bandeira justamente esses valores. Defendeu-os por muitos anos. Combatia ferozmente os desvios de conduta na administração pública, ganhando a simpatia da camada mais esclarecida da população.

Só não conseguia traduzir a simpatia em maior êxito eleitoral porque, por radicalismo, se opunha sistematicamente a todas as iniciativas do governo, não importando se eram boas ou não para o País.

Foi assim que, no governo Itamar Franco, combateu o Plano Real, arquitetado por Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda.

Boa parte do eleitorado de hoje não sabe o que representou o Plano Real, não sabe o que era uma inflação de 20% ao mês. Quem hoje tem um pouco menos de 30 anos de idade não viveu esse período, não sabe o que era entrar num supermercado e ver os preços dos produtos subindo (remarcados) à sua frente.

A inflação atingia principalmente os mais pobres. O salário chegava ao fim do mês valendo quase 20% menos. A classe média ainda podia salvar um pouco do valor do dinheiro ao recorrer ao mecanismo da correção monetária, ao chamado over night, que corrigia os valores, como o nome indica, de uma dia para outro.

Era um inferno. Collor achou que poderia, com apenas um tiro, matar o “dragão da inflação”. O tiro não passou de um traque, a não ser pelo efeito desastroso de haver bloqueado quase todo o dinheiro que as pessoas tinham em contas bancárias ou em aplicações financeiras. Sarney também tentou, recorrendo a congelamentos. Finalmente, Itamar teve a feliz inspiração de deslocar Fernando Henrique – contra a vontade deste – do Ministério das Relações Exteriores para o da Fazenda e ele reuniu uma competente equipe de economistas que soube encontrar a engenhosa solução do Plano Real.

A inflação, que por décadas, desafiava os governos, foi finalmente contida – contra o voto do PT, comandado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi o Plano Real que permitiu a ascensão social das classes mais pobres. Se hoje há tanta gente comprando carros, eletrodomésticos e eletrônicos, isso se deve muito mais à estabilização da moeda proporcionada pelo Plano Real que a medidas tomadas pelo atual governo.

O PT, sob a liderança de Lula, foi contra também à Lei da Responsabilidade Fiscal, que pôs fim à gastança irresponsável de governadores e prefeitos; foi contra o Proer, o programa de evitou a quebradeira geral de bancos e saneou o setor, contribuindo decisivamente para que, ao contrário do que ocorreu em quase todos os outros países, o sistema bancário brasileiro não fosse engolfado pela crise financeira mundial; foi contra as privatizações, graças às quais todos os brasileiros têm, hoje, acesso a telefones (antes, privilégio dos mais ricos), e empresas como a Vale e a Embraer tiveram enorme expansão, criando milhares de empregos e pagando vultosas somas em impostos.

Fernando Henrique tinha candidato à sua sucessão. Era José Serra. Mas comportou-se como presidente de todos os brasileiros, não indo às ruas em defesa do seu candidato. E depois, tendo sido este derrotado, fez exemplar transmissão do cargo.

É claro que, com todo o histórico de ferrenhos opositores das medidas saneadores da economia, Lula e seu PT suscitassem fundados receios com sua chegada ao poder. Esse temor produziu ligeiro abalo na estabilidade econômica do País, não se chegando, porém, ao caos a que a candidata Dilma recentemente aludiu. E tendo o ministro da Fazenda Antonio Palocci demonstrado que seriam mantidas as linhas básicas da política econômica herdada do governo Fernando Henrique, os temores foram afastados e o País rapidamente voltou à normalidade.

O PT, no poder, lançou fora a bandeira dos valores que defendera. Em nome da “governabilidade” aliou-se a partidos e políticos que antes classificava de “espúrios” e lançou mão de práticas condenáveis para garantir votos de deputados, a ponto de alguns de seus fundadores o terem abandonado pelo caminho, como é o caso do respeitável promotor público paulista Hélio Bicudo.

O PT nunca desistiu, porém, de outra marca de nascença: a vocação autoritária e o rançoso esquerdismo. Nunca se conformou realmente com a alternância democrática no poder. Foi contra o segundo mandato quando proposto por Fernando Henrique, mas, no poder, dele se aproveitou – e o presidente Lula ainda acalentou a possibilidade de ir para um terceiro. Não chegou a propô-lo abertamente por saber que quase certamente sofreria derrota, se não na Câmara dos Deputados, com certeza no Senado. Mas inventou a candidatura Dilma, imaginando que conseguiria elegê-la para, por seu intermédio, continuar mandando.

O PT nunca se conformou também com a liberdade de imprensa. Por mais de uma vez tentou pôr a imprensa “burguesa” sob controle. E aspira controlar igualmente a educação e a cultura. Tudo, em nome da “causa”. Suas intenções, seu verdadeiro programa, estão no texto inicial (posteriormente amenizado) do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos.

Então, o que se vai decidir, no dia 31, é se o País dará continuidade ao processo democrático, com a alternância no poder, ou se vai enveredar por um caminho que pode criar-lhe graves obstáculos.


MARINA, A INDEPENDENTE

Curiosa a posição da Marina Silva e do seu Partido Verde. Ela conhece bem o governo Lula e a ministra Dilma. Foram tantas as dificuldades que encontrou para poder pôr em prática seu programa ambientalista que acabou por demitir-se do cargo de Ministra do Meio Ambiente e por desligar-se até do PT. Não poderia, pois, por coerência, apoiar a candidatura Dilma. Mas poderia optar pela de Serra, pois, como assinala o professor José Goldemberg (USP), “as únicas medidas sérias tomadas no Brasil, nos últimos anos, para orientar o País na direção do desenvolvimento sustentável foram a aprovação de leis propostas pelo prefeito Gilberto Kassab, no município de São Paulo, e pelo ex-governador José Serra, no estado de São Paulo, que estabeleceram metas e prazos para reduzir as emissões de carbono (e outros poluentes) até o ano 2020”. “Essas leis – acrescenta – vão conduzir o País a uma economia de baixo carbono e não constituem um freio ao crescimento econômico, mas, ao contrário, levarão a uma modernização da indústria brasileira, o que aumentará sua competitividade no comércio internacional.”

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