04/10/2010
DERRAPADA DE DILMA
Ary Ribeiro
O que parecia quase impossível aconteceu: a candidatura Dilma Rousseff derrapou a poucos metros da chegada.
Para isso contribuíram certamente as denúncias envolvendo sua amiga e sucessora na chefia da Casa Civil, Erenice Guerra – que devem ter alarmado ao menos parte do eleitorado mais esclarecido –, a melhora registrada na campanha de José Serra (que parou de cair) e sobretudo o surpreendente desempenho da Marina Silva.
O fato é que a candidatura sofreu forte abalo. Por mais que seus partidários procurem disfarçar, é inegável a frustração que devem estar sentindo. Para quem estava certo de ganhar em primeiro turno, ir para o segundo não deixa de ter ligeiro sabor de derrota.
Podem dizer que o segundo turno será moleza, para quem obteve 46% dos votos válidos no primeiro. Bastariam apenas mais 4%. Em tese, sim. Mas em política as coisas não se passam assim.
O segundo turno será, sim, nova eleição. Para onde irão, por exemplo, os quase 20% dos votos dados a Marina Silva e mais alguns dos outros candidatos? Quem votou nela em função da causa ambientalista não terá razão para apoiar justamente a candidata que, quando no governo, se opunha às causas da Marina, a ponto de levá-la a demitir-se do cargo de Ministra e a desligar-se do próprio PT. E muitos dos que nela votaram, não pela causa, mas por ela mesma, por ter-se encantado com a sua singeleza, sinceridade e preparo, estariam, por isso mesmo, mais propensos a optar pelo candidato que se mostre mais experiente e qualificado para conduzir os destinos do País.
Agora, os dois candidatos – Dilma e Serra – irão se defrontar diretamente. Acabaram aqueles engessados e monótonos debates na TV, em que nada se debatia e a Dilma, para evitar confronto direto de ideias e programas, não fazia perguntas a Serra, preferindo o território mais ou menos neutro dos outros dois contendores: Marina Silva e a Plínio de Arruda Sampaio.
No confronto direto, os eleitores vão poder avaliar realmente as qualidades e as fraquezas de cada candidato. Serra terá oportunidade de demonstrar que se o País está bem, se diminuiu a pobreza, isto não foi realização do governo Lula e sim de governos anteriores, sobretudo de Itamar Franco e de Fernando Henrique. Eles plantaram o que Lula colheu. Mas o alarde que faz da colheita engana até respeitáveis jornais do exterior, como se vê pela edição de hoje do New York Times e do Le Monde. Mas não na do Financial Times, que realisticamente atribui a César o que é de César.
A propósito, muita gente está satisfeita com a situação por estar podendo comprar mais (ou simplesmente comprar) e, por isso, aprova o governo Lula. Mas e a saúde pública, a educação e a segurança pública não contam? Ou está satisfeita com o estado em que se encontram?
Lula anunciou que no segundo turno vai arregaçar as mangas – como se já não o tivesse feito no primeiro – para conseguir a vitória. Que mais pode fazer? A máquina já estava mobilizada. O peleguismo sindical também. Talvez só falte o MST.
Agora, o outro lado pode possivelmente contar com as lideranças regionais que, prudentemente, estiveram enrustidas no primeiro turno, receosas de ser arrazados pelo “efeito Lula”, como algumas o foram. É o caso, por exemplo, de Aécio Neves, que praticamente não apareceu na campanha de Serra, imaginando que isso talvez pudesse atrapalhar o que para ele era prioritário: reeleger o governador Anastásia e eleger a si próprio e a Itamar Franco para o Senado. Garantido isso no primeiro turno, com larga vantagem, está livre para se engajar para valer na campanha de Serra. Não somente ele, mas também o governador eleito Anastásia e o senador eleito Itamar Franco. Eles podem virar a votação em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País.
Em São Paulo, Geraldo Alkmin, eleito governador no primeiro turno, também está livre para fazer campanha não somente no Estado como também no País, pois como ex-candidato presidencial, é reconhecida liderança nacional.
Podem juntar-se também à campanha outras lideranças, como a governadora eleita e o senador reeleito do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini e Agripino Maia, ambos do DEM; o tucano Beto Richa, governador eleito do Paraná; o governador eleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM); e até mesmo o tucano Arthur Virgílio, que, apesar de derrotado no Amazonas pelas poderosas forças que se juntaram contra ele, é reconhecidamente um líder nacional, com grande número de admiradores em todo o País.
Resta saber se finalmente a Oposição vai se unir ou se seus principais líderes vão continuar cada um para seu lado. E também se a campanha de Serra terá a inflexão reclamada por tanta gente, até dentro das próprias fileiras tucanas.
DF: DIFÍCIL OPÇÃO
Brasília está diante de difícil opção: de um lado, a candidata que representa o velho grupo que ostenta realizações – inclusive a Ponte JK – mas é alvo de denúncias de corrupção e criticado pelo inchaço do Distrito Federal; de outro, o candidato do esquema que também tem sido alvo de denúncias de corrupção – como os casos do mensalão e, recentemente, do que ocorreu na Casa Civil da Presidência da República – e apresenta traços de autoritarismo – inclusive controle da imprensa – em seu projeto de governo. Qual o mal menor? É a questão.
EFEITO TIRIRICA
Quem sabe se a eleição do Palhaço Tiririca a deputado federal por São Paulo, com mais de um milhão de votos, não terá o efeito útil de levar o Congresso, finalmente, a fazer a tão falada reforma política? Não se pode continuar com um sistema eleitoral que estimula candidaturas, digamos exóticas, para atrair avalanches de votos e, com estes, graças à soma e divisão que se faz, por legendas, eleger mais três ou quatro candidatos quase desconhecidos dos eleitores. Muitos votam nesse tipo de candidato em sinal de protesto ou por achar engraçado. Depois ficam reclamando do Congresso. Pior não fica; fica sim! Os votos no rinoceronte Cacareco foram também de protesto, mas ao menos não ajudaram a eleger outros candidatos.
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
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Um comentário:
Para mim não há dúvida sobre o que fazer no DF. Pelos mesmos motivos que voto em José Serra para Presidente, voto em Agnelo para Governador do DF. Brasília precisa mudar. Desde a independência política somos dominados pelo clã Roriz, BASTA, Agnelo é renovação no DF e sua eleição é um clamor. Zé Ricardo
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