25/10/2010
Ary Ribeiro deixa de escrever neste blog. Esta é a última colaboração.
Este blog, seus leitores e o Zé vão sentir falta de suas colocações e sabedoria.
Esperamos que ele se sinta "convocado" a se tornar um colaborador eventual.
Em nome de meus leitores, eu lhe sou muito grato Ary.
Zé Ricardo
O PAPEL DO PMDB
Ary Ribeiro
Alea jacta est, a sorte está lançada, como disse Júlio César ao atravessar o Rubicão e levar seu exército para enfrentar o poder instalado em Roma.
Aqui também a sorte está lançada. Domingo os eleitores irão novamente às urnas para decidir o futuro próximo do País (e em alguns casos, de Estados também).
A crer-se nas pesquisas, não haverá surpresa: todas apontam vantagem de 10 a 12 pontos a favor da candidata Dilma Rousseff, diferença difícil de ser tirada em tão poucos dias. Mas não impossível. No primeiro turno já houve um “milagre”. Quem sabe, pode haver outro.
Qualquer que seja o resultado, há que ser respeitado. As urnas vão traduzir a vontade do povo, que erra e acerta, como é natural numa Democracia. E nem sempre aprende com os erros.
O povo já elegeu Jânio Quadros e Fernando Collor, se bem que nesse último caso, como a opção era Lula, não se pode dizer que tenha votado mal. Collor era o mais preparado e, postos de lado os fatos que levaram ao impeachment, fez coisas boas: abriu o País, obrigando a indústria nacional a modernizar-se; acabou com reservas de mercado; e iniciou o processo de privatização. E hoje é um dos grandes aliados de Lula e Dilma.
Apenas para raciocinar, imaginemos que as urnas confirmem as pesquisas. Como seria o governo Dilma Rousseff?
O País teria no governo alguém sem liderança própria. Dilma foi uma criação de Lula, e ele batalhou por ela sem se incomodar com os limites da decência política. Ela chegaria ao poder, assim, sem méritos políticos próprios. Lula a escolheu justamente para continuar mandando – um terceiro mandato de fato. Talvez até pensando em continuar usando o Aerolula e desfrutando de outras regalias do poder, inclusive em viagens ao exterior.
Tudo muito bem arquitetado e executado. O presidente jogou tudo no seu projeto, mandando às favas o respeito à dignidade do cargo. Uma coisa, porém, são os planos, os objetivos, outra a realidade, em política sujeita a mil variáveis.
Quem pode assegurar que Dilma, no governo, seria mera executante das ordens de Lula? Faria isso por gratidão? Em política, isso não existe. Além disso, seu temperamento forte, autoritário, seria avesso a esse tipo de interferência. E uma coisa é Lula presidente, com todo o poder de fato e de direito nas mãos, outra é Lula fora do poder, um ex-presidente.
O governo Dilma começaria, pois, com esse forte potencial de atrito. Mas há outros armados, a começar pelo PT. Ela não tem controle sobre ele. Até pouco antes do início do governo Lula, nem petista era. Estaria, portanto, à mercê de pressões do partido, onde despontam duas lideranças opostas: a de José Dirceu e a de Antonio Palocci. Dirceu já declarou que, com Dilma seria a vez do PT, dando a entender que sob Lula o partido não conseguiu se impor.
Outro atrito iminente estaria nas relações com os partidos aliados, principalmente o PMDB, que desta vez quer lugar privilegiado, de “sócio” no governo. Argumenta que das outras vezes aderiu ao governo, inclusive ao de Lula, pois embora o vice-presidente José Alencar tivesse saído de suas fileiras, ele fora escolhido não por essa condição, mas por ser respeitável empresário. Agora, não. Agora foi parceiro do PT desde a primeira hora, colocando inclusive seu presidente, Michel Temer, como vice na chapa de Dilma.
O PMDB, por sinal, estaria destinado a representar importante papel num futuro governo Dilma Rousseff. Por incrível que pareça, poderia ser o fator de equilíbrio, impedindo quaisquer investidas do governo contra as liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição.
Isso é o que mais se teme num governo petista. As intenções do partido, claramente expostas na primeira versão do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e no programa da candidata encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (por ela rubricado “sem ler”) e depois retirado, são de controlar a imprensa, a cultura e a educação.
O PMDB é sabidamente partido ávido pelo poder. Troca cargos por apoio. Esteve no governo Fernando Henrique e está no governo Lula. Mas é, na essência, partido conservador e que ainda guarda lembrança de suas lutas contra o regime militar e pela volta à Democracia. Pode-se esperar que a resistência a quaisquer medidas antidemocráticas comece pelo próprio Michel Temer.
Assim seja – se ela se eleger.
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DESPEDIDA
Com essas observações, encerro minha participação neste Blog. Agradeço ao Zé Ricardo por ter-me aberto este espaço, por meio do qual procurei lançar algumas luzes sobre a campanha eleitoral. Sem agressões, sem ofensas, sem dar curso a mentiras, tentei mostrar que José Serra é competente (comprovadamente competente), com muito mais experiência política e administrativa que Dilma Rousseff; que a eleição desta poderia representar risco para liberdades fundamentais; e que votar em Serra seria votar pela Democracia e por valores mais altos, como a ética na administração pública. Acredito ter feito o que pude. A decisão está com eleitor.
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P.S. - Parece que caminhamos para o "milagre". Circulam informações
de que o candidato a vice na chapa de Serra, Índio da Costa, tem em
mãos recente pesquisa feita por especialistas independentes da Unicamp
dando empate técnico entre Serra e Dilma. A julgar pelo mergulho de
Lula na campanha, a ponto de abandonar seus afazeres (?) no Palácio
do Planalto, sua candidata estaria mesmo correndo risco de uma
segunda e definitiva derrota (a primeira foi por não ter saído vitoriosa
no primeiro turno, como Lula esperava). Setores ligados ao PSDB, por
sua vez, estão cada vez mais confiantes. Estão certos de que a grande
maioria dos indecisos penderá para Serra. Se estão indecisos, é porque
não se deixaram levar pela lábia lulista e, se estão analisando as duas
candidaturas, não há dúvida de que optarão pela que apresenta a mais
longa e competente folha de serviços prestados ao País, além de conduta
exemplarmente ética na condução dos negócios públicos. Esses mesmos
setores estão certos também de que Itamar Franco, Aécio Neves e
Anastasia, em Minas, Alckmin, em São Paulo, e outras fortes lideranças
tucanas e do DEM no Sul e no Centro-Oeste do País conseguirão os votos
de que Serra precisa para alcançar a vitória.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
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