Tirando os comentários mais preconceituosos, a análise é muito interessante e nos mostra que os resultados da eleição é vitória de Lula e derrota do PSDB que não soube lidar democraticamente com suas divisões internas. Apesar disto o futuro próximo é uma grande icógnita. Tomara que seja um sucesso e que a presidenta eleita seja mais o que prometeu, do que o que ela se apresentou nos anos anteriores.
De Carlos Newton publicado na Tribuna da Imprensa de 31/10/2010
Vencedores e Perdedores
Os grandes vencedores desta eleição foram o presidente Lula e o ex-governador mineiro Aécio Neves, ao provarem que são capazes de transferir votos a candidatos sem a menor chance, como Dilma Rousseff ou Antonio Anastasia. Sem apoio de Lula e Aécio, respectivamente, nem Dilma nem Anastasia jamais ganhariam eleição.
E os maiores perdedores, quem são? Além de Artur Virgilio, Jereissati, Marco Maciel, Roriz, Mão Santa, Helio Costa, Jarbas Vasconcellos, Gabeira, Fogaça, Serra etc., não há dúvida que são Ciro Gomes, Aloizio Mercadante e o especialmente oPSDB, que sequer aceitou discutir a proposta de Aécio Neves de realizar prévias eleitorais para escolher o candidato à Presidência.
Se o PSDB tivesse aceitado, mesmo se Aécio perdesse a eleição interna e a candidatura Serra fosse a preferida, a própria realização das prévias teria impacto positivo junto ao eleitorado do PSDB, mobilizando antecipadamente as bases do partido. Além do mais, Aécio poderia ser vice de Serra e as prévias soariam bem, principalmente porque no PT não houve nem discussão. Lula simplesmente impôs a candidatura Dilma, e estamos conversados.
Ciro Gomes também saiu perdendo, e muito, porque foi enganado por Lula e ficou fora da disputa presidencial. Com Ciro concorrendo, o quadro seria outro, os debates ganhariam entusiasmo e os votos no primeiro turno se dividiram pelas quatro candidaturas, (Dilma, Serra, Marina e Ciro), trazendo muito mais emoção.
Ciro foi inacreditavelmente ingênuo. Acreditou quando Lula lhe disse que o PT poderia até apoiar a candidatura dele. Depois, acreditou de novo, quando Lula lançou Dilma e prometeu a Ciro que, se ela não decolasse, o candidato seria ele. Acreditou tanto, que mudou seu endereço eleitoral para São Paulo. Quando descobriu que tinha sido ludibriado, já era tarde, seu partido (PSB) já tinha feito acordo com Lula para apoiar Dilma e ele só podia disputar eleição em São Paulo. Mas ser candidato a quê?
Mesmo enganado e humilhado por Lula, Ciro Gomes ainda aceitou ser um dos coordenadores da campanha de Dilma no segundo turno, sem lembrar que no primeiro turno deu várias declarações à imprensa defendendo a eleição de Serra, por ser “mais experiente do que a Dilma”. Agora, Ciro é cotado para voltar ao Ministério. Mudou Ciro? Mudou Dilma? Ou mudou a dignidade humana? Escolha a sua resposta.
Já Mercadante saiu perdendo porque desde 1994 tem sido uma marionete nas mãos de Lula. Foi eleito deputado federal em 1990, seria facilmente reeleito em 1994, mas aceitou ser vice de Lula na disputa presidencial, foi para o sacrifício e ficou sem mandato por quatro anos. Até que, em 1998, voltou à Câmara Federal. Em 2202, foi um dos coordenadores da vitoriosa campanha presidencial de Lula e se elegeu senador. Estava em alta politicamente.
Todos pensavam que Lula o nomearia ministro da Fazenda, por ser o melhor e mais respeitado economista do PT, mas o presidente jogou-o para escanteio e preferiu o médico sanitarista Antonio Palocci. Justificativa: “Preciso de você no Senado”. Mercadante acreditou.
Palocci saiu, expulso pelo caseiro, e Lula, que tudo fazia para que Mercadante não se projetasse no cenário nacional, preferiu Guido Mantega. Depois, na hora de escolher o candidato à sucessão, preferiu Dilma. E sua justificativa para alijar Mercadante foi a seguinte: “Preciso de você em São Paulo“. Mercadante acreditou de novo, partiu para uma disputa altamente desfavorável contra Alckmin, com pouca chance de vitória. Até hoje Mercadante não entendeu que Lula quer o PT só para ele, no partido ninguém mais pode se projetar.
Assim, Mercadante – que, sem dúvida é o melhor quadro do PT – vai ficar mais quatro anos na chuva, sem mandato. A não ser que Dilma o convide para algum ministério. Mas será que Lula permitirá que isso aconteça? Claro que não. Só se for um Ministério bem mixuruca. Mercadante vai ficar em posição subalterna. Podem apostar.
E Dilma? Será que vai arrancar a máscara carnavalesca e recuperar a carranca de antes, ou seguirá eternamente na linha “paz e amor”, que adotou na campanha presidencial? O mais provável é que ressurja o perfil da verdadeira Dama de Ferro. E se isso acontecer (e vai acontecer, mais cedo ou mais tarde), como ficará Lula? Dilma permitirá que Lula continue mandando no Planalto, como ele acha que acontecerá? Claro que não.
Quem conhece Dilma Rousseff e já esteve com ela em reunião de trabalho, fora da campanha, sabe que a nova presidente tem um temperamento fortíssimo. Assim que colocar a faixa e sentar naquela cadeira, vai rodar a baiana e não aceitará ordens de ninguém. Lula não perde por esperar. Se ele pensa que vai ser uma espécie de Rasputin no Planalto (ou uma versão de Garotinho no governo da mulher Rosinha), pode desistir. Dilma não é Rosinha. Traído e abandonado pela nova presidente, a decepção e a conseqüente depressão de Lula serão arrasadoras. Ninguém sabe o que ele fará.
Temperamentos à parte, na verdade Dilma Rousseff é uma incógnita na Presidência e vai surpreender, positiva ou negativamente. Com a experiência que acumulou nos últimos oito anos, pode se sair bem, caso escolha um bom ministério, mais isso será muito dificil, pois tem de agradar aos partidos coligados, que estão com as bocarras escancaradas, famélicos por prestígio, cargos e poder, não necessariamente nessa ordem.
A partir de hoje, está oficialmente aberta a temporada de caça aos ministérios. Por trás de tudo, a figura sinistra de Michel Temer, que há alguns anos Antonio Carlos Magalhães apelidou de “Cocheiro de Vampiro”. Realmente o novo vice-presidente mais parece personagem do escritor irlandês Bram Stoker, criador do Drácula.
É Temer quem trama nos bastidores a distribuição dos cargos, à revelia de Dilma e com apoio integra do PMDB. Como advertiu o líder Henrique Eduardo Alves, no mais recente encontro nacional do partido: “Não aceitamos essa história de uma eleição para um partido só ganhar. O PT é um grande partido, mas ou ganhamos juntos ou não ganha ninguém”.
Assim, Temer procura desesperadamente abrir espaço e se fixar como coordenador da base aliada. É como se Dilma estivesse dormindo com o inimigo. Os próximos capítulos serão eletrizantes. Você não pode perder
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
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