30/08/2010
SENTADA NA CADEIRA
Ary Ribeiro
Com o resultado da última pesquisa do Ibope, confirmando as de outros institutos, a candidata Dilma Rousseff já se sente sentada na cadeira presidencial, mesmo faltando um mês e pouco para as eleições.
Ao menos assim foi interpretada por José Serra a declaração da candidata de que pretende estender-lhe a mão num eventual governo do PT.
A declaração deixa efetivamente margem para esse entendimento, que implicaria menosprezo à vontade do eleitorado. Mesmo que neste momento a maioria se mostre inclinada a votar em Dilma, essa opinião ainda pode mudar.
Parece difícil. Imaginava-se que com a propaganda pelo rádio e televisão, Serra tomaria a dianteira, tal a diferença, em seu favor, entre a sua biografia e a da candidata oficial, entre a experiência e as realizações de um e de outra. Mas seu marketing se mostrou desastroso.
O Serra mostrado nos programas não é – ao menos não era – o Serra que se conhecia: sério, firme, até um tanto antipático. Transformaram-no num falso “Serra paz e amor”, que se recusava a combater Dilma e seu patrono, sob o argumento de que este desfruta de alta popularidade.
A aprovação do governo e de Lula se deve ao fato dele não ter desmantelado a casa que seu antecessor, Fernando Henrique, lhe passou arrumada: moeda estabilizada (graças ao Plano Real), endividamento dos Estados sob controle, Responsabilidade Fiscal, câmbio flutuante etc.
Todas essas medidas tomadas pelo governo do PSDB, melhorando a vida de milhões de pessoas, deixaram de ser proclamadas pela propaganda de Serra. Lula ficou com os louros, sem ser incomodado.
Em todo o caso, como falta algum tempo para as eleições, pode ser que a ficha ainda caia no comando da campanha serrista, pois ela está sendo muito criticada. Talvez o candidato guarde algumas cartas nas mangas para lançá-las na última hora. Dilma é candidata com muitos flancos vulneráveis.
BOAS BRIGAS À VISTA
Não é somente Dilma que já estaria se sentindo sentada na cadeira presidencial, como observou Serra. Alguns de seus principais aliados e colaboradores não têm dúvida disso.
Em comentário anterior, mencionei matéria de O Estado de S.Paulo, segundo a qual o PMDB começou a mostrar suas garras. Quer ser tratado, num futuro governo Dilma, como sócio do poder e não como partido aliado, como foi até agora. Quer, portanto, dividir com o PT o comando do governo, tendo, inclusive, assento na chamada “reunião das 9 horas”, no Palácio do Planalto, durante a qual se faz análise da situação política e econômico e se estabelecem medidas a tomar.
Eleita Dilma, essa será uma boa briga, até porque Lula não estará de fora. Ele também quer um bom naco do poder, de preferência o comando de tudo. Foi por isso que escolheu e impôs ao PT uma candidata sem experiência eleitoral – inteiramente dele dependente – e arregaçou as mangas para elegê-la.
E há ainda outra briga se armando. Briga antiga. Entre dois pesos pesados do petismo: Antonio Palocci e José Dirceu. Eis o que escreveram os repórteres Wilson Tosta e Vera Rosa na edição de domingo do Estadão: “A 35 dias da eleição, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci disputam os rumos de eventual novo governo comandado pelo partido. Depois de emitir sinais contrários à possível indicação de Palocci para a Casa Civil, Dirceu luta agora para impedir que ele volte a ditar os caminhos da economia, a partir de 2011. Os dois ‘generais’ do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reeditam a queda de braço que travaram no primeiro mandato do PT para definir a fisionomia do governo.”
PALAVRAS PRESIDENCIAIS
Além de participar com toda desenvoltura de comícios em favor de seus candidatos – coisa que um presidente da Repúblia jamais fez em toda a história do País – Lula ainda ataca a oposição e candidatos oposicionistas, atropelando também o que seu aliado José Sarney chama de “a liturgia do cargo”.
No fim da semana passada, em comício realizado no Recife, o presidente, segundo noticiário, classificou oposicionistas de “picaretas e chantagistas” e foi além. Sem citar nomes, assim se referiu a Marco Maciel, homem de bem, um dos políticos mais expressivos de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Letras: “Desde pequeno eu ouço um cidadão aí, que já foi deputado, presidente do Congresso, da Câmara, do Senado, vice-presidente, e me contem o que é que ele trouxe para Pernambuco?” Do senador Jarbas Vasconcelos (dissidente do PMDB), outro político que engrandece Pernambuco e que se lançou candidato a governador para ajudar a campanha de Serra, disse: “Ele vai ficar devendo pontos ao Ibope.” Jungmann foi tratado de político menorzinho, que “parecia que tomava conta da reforma agrária” (Foi ministro da Reforma Agrária no governo Fernando Henrique.) E completou: “Pernambuco de Julião, de Arraes, de Frei Caneca, Eduardo Campos e de Lula não pode votar neste tipo de gente para senador da República.”
A LOJINHA DA DILMA
Está é revelação da Folha de S.Paulo, edição de domingo:
Segundo a repórter Fernanda Odilla, a candidata Dilma Rousseff teve uma experiência gerencial – não incluída em seu currículo – antes de tornar-se “gerente” do governo Lula e do PAC. Foi uma das donas de uma loja, no Rio Grande do Sul, denominada “Pão & Circo”, especializada na importação de produtos diversos do Panamá, para vender no atacado e no varejo. Os outros sócios eram a ex-cunhada Sirlei Araújo, o ex-marido Carlos Araújo – que foi dirigente da organização da luta armada VAR-Palmares – e um sobrinho, João Vicente. A loja durou um ano e meio, tendo sido fechada em julho de 1996.
Na iniciativa privada, a “gerente” do PAC não teve êxito.
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terça-feira, 31 de agosto de 2010
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