23/08/2010
AO BUTIM!
Ary Ribeiro
Nem bem saiu a pesquisa do DataFolha registrando a ascensão de Dilma (com 47 pontos) e a queda de Serra (30 pontos), e já começa a corrida ao futuro butim presidencial.
O PMDB quer dividir o poder “meio a meio” com o PT, informou o jornal O Estado de S.Paulo, em sua edição de ontem, domingo, sem precisar como ficariam os demais partidos que integram a coligação governista. Certamente como mero coadjuvantes.
O maior partido político do País, todo mundo sabe, tem irresistível vocação governista. Não para disputá-lo. Para isso não tem candidato – ou não quer tê-lo. Prefere entrar no poder por uma porta lateral. Foi assim nos governos Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva.
Desta vez, porém, argumentam seus dirigentes, o partido deu respaldo desde o início à candidatura Dilma, exigiu e obteve a vice-presidência, para ela indicando seu próprio presidente, Michel Temer.
José Alencar era senador pelo PMDB de Minas Gerais. Mas sua candidatura a vice-presidente não resultou de indicação do partido e sim de escolha direta de Lula (ou da cúpula do PT). E foi escolhido não por ser peemedebista, mas por sua condição de próspero empresário, o que daria consistência à mudança de rumos do PT, consubstanciada na sua então recém-lançada Carta aos Brasileiros.
Agora, não. Agora, a aliança PT-PMDB se fez antes da eleição, cabendo ao PMDB o cargo de vice na chapa. Então – esse é o raciocínio – se a vitória se confirmar, ela será de ambos, fifty-fifty, como dizem os ingleses. Nada mais de hegemonia petista. O PMDB vai querer dividir tudo, participando inclusive do núcleo decisório palaciano, com presença na chamada “reunião das 9 horas”, e do comando da economia. Temer não será um José Alencar, sem demérito nenhum para este, que é homem de bem e de comportamento irrepreensível no governo. Mas ele é essencialmente um empresário; Temer é professor universitário e político. Terá vindo da presidência do partido e da Câmara dos Deputados.
O PMDB vai querer ampliar também a sua participação nos ministérios. Mesmo antes de externar suas pretensões, já estava acertado entre Dilma e Édison Lobão que, em caso de vitória, ele voltaria a ocupar a pasta das Minas e Energia. Uma de suas principais auxiliares nem foi devolvida ao órgão de origem. Ficou lá à sua espera.
Outra coisa que o PMDB deixará bem claro é que não vai mais aceitar que o PT ou outros partidos da base aliada dividam cargos de direção em ministérios que lhe couberem numa futura partilha. Vai querer o que no mundo político se chama de “porteira fechada”.
A disputa pelo futuro butim, portanto, está se armando, mesmo não sendo ainda tão certa, como imaginam, a vitória de Dilma. As pesquisas registram momentos. Por enquanto, muito favoráveis a ela em função, de um lado, da intensificação da participação de Lula na sua (aqui vale o sentido duplo) campanha e, de outro, da frouxa campanha que Serra faz na cadeia de rádio e televisão. Há ainda bastante chão pela frente. Não se pode esquecer que eleições “ganhas” se perdem por algum fator inesperado. Fernando Henrique, em 1985, estava com a eleição ganha para prefeito de São Paulo (contra Jânio Quadros), quando, indagado na televisão se acreditava em Deus, respondeu que não e, não bastasse isso, deixou-se fotografar, na véspera do pleito, sentado à mesa do Prefeito. Foi derrotado. E Lula perdeu a eleição praticamente ganha, em 1989, quando Collor revelou que ele tinha uma filha rejeitada, Lurian.
Mas, admitindo, apenas para raciocinar, que Dilma saia vencedora e que o PMDB não abra mão de dividir o poder, o tão esperto plano de Lula de elegê-la para continuar mandando (num terceiro mandato camuflado) poderá ir por água abaixo. Uma coisa é Lula no governo fazendo concessões ao PMDB. Outra, é Lula formalmente fora do governo e o PMDB sentindo-se dono da casa e ainda por cima controlando o Congresso. E o plano do próprio PT, consubstanciado no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) – de censurar a imprensa e controlar a educação e a cultura – também poderá ir pelo mesmo caminho. PMDB não é PT. Está muito distante da herança ideológica petista.
Bem, é esperar para ver.
CACARECOS NA TV
Esse horrível desfile de candidatos, na televisão, alguns com nomes, apelos ou slogans de muito mau gosto, está levando comentaristas políticos a lembrar-se da campanha do Cacareco, em São Paulo.
Muita gente talvez não saiba o que isso significa. Vou explicar. Estava em curso, há muitos anos, uma campanha para vereadores, em São Paulo. Com candidatos também de baixíssimo nível.
Enojados com aquele desfile, uns cinco ou seis redatores do jornal da Rádio Eldorado – entre os quais me incluía – teve a ideia de lançar o Cacareco como candidato. Era uma forma de protesto, que, como se vê, de nada adiantou.
O nome foi por mim lembrado por estar em evidência. Tratava-se de um rinoceronte que, cedido pelo Zoológico do Rio, acabara de chegar ao Zoológico de São Paulo. Estava nas páginas dos jornais e nas rádios e televisões. E, afinal, estava no nível de vários candidatos, como aquele gordo cujo slogan dizia: “Vale quanto pesa” .
Feita a escolha, compramos tinta e pincel, fomos à noite para a frente da entrada principal do Estádio do Pacaembu, pintamos no chão o nome de Cacareco para vereador e no dia seguinte avisamos os jornais, que foram ao local, fizeram fotos e a partir daí a campanha pegou e cresceu sozinha. O jornal Ultima Hora publicou uma cédula (votava-se por meio de cédulas) que podia ser recortada.
Ao abrirem as urnas, cédulas de Cacareco apareciam em muitas delas. Obviamente não foram contadas. Mas se calculou que o rinoceronte obteve mais votos que o vereador mais votado. Hoje, com a urna eletrônica, não mais seria possível repetir isso. Mas há vários “Cacarecos” na disputa, inscritos sob os mais variados nomes...
Ary Ribeiro é jornalista e escreve às segundas-feiras neste blog.
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010
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