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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Democracia, Alternância e Mentiras

Criei-me na luta pela redemocratização do Brasil. Do antigo MDB, PMDB e finalmente PSDB. Apesar disto e de ser eleitor do Serra, vibrei com a eleição de Lula em 2002, pela chegada de um operário na presidência, pela renovação política, pela vitória da democracia.

Outro dia a Dilma disse no jornal Nacional que o Lula chegou ao governo com a inflação descontrolada. Isto me lembrou aquela planilha que passa na internet comparando o governo FHC com o de Lula e afirma ser retirada da The Economist. Trabalho na área de Macroeconomia do Banco Central há 18 anos, me surpreendo e me envergonhado pela falta de pudor com que se manipula informações para uso político.

Com a possibilidade da eleição de Lula naquele ano de 2002, os investidores, nacionais e estrangeiros ficaram com medo. O investimento externo caiu, quem tinha dinheiro no pais arrumou um jeito de mandar para fora. Quem tinha dólares (e nisto também a classe média) guardou. O medo de Lula e do PT gerou um caos na macroeconomia. O dólar mais que duplicou do início de 2001 até a eleição de Lula, ninguém queria mais emprestar ao governo com medo do calote que parte do PT pregava e por isto este teve que aumentar os juros pagos em seus empréstimos. O risco país saltou de forma exorbitante devido ao fator PT e Lula, pois todo o mundo achava que o PT no governo ia declarar moratória, quebrar os contratos. Com isto a inflação estourou, o país entrou em recessão, o desemprego aumentou e os salários em termos reais caíram.

Os fundamentos econômicos do Governo FHC estavam muito melhores que estes números. Estes números foram frutos da crise de confiança provocada pela possível vitória de Lula e do PT. O efeito medo do PT-Lula causou isto. Usá-los para comparar o governo FHC com o de Lula é no mínimo um comportamento de má fé.

O que permitiu o Brasil viver este período de bonança que vivemos hoje foi uma conjunção de fatores, a primeira delas as medidas impopulares tomadas pelo governo de FHC para ajustar a maquina pública, para limpar o sistema bancário e para dar capacidade de ação ao Estado brasileiro, a segunda a sabedoria do Lula de manter tudo isto e aprofundar ainda mais estas reformas de ajustes no seu primeiro mandato, o que fez com que a crise de confiança fosse revertida, dando total independência ao BC para atuar na política monetária e creditícia, principalmente na crise financeira internacional. Também a forma sensata como o atual governo atuou diante da crise. Por fim, como me disse um economista americano outro dia, o risco Brasil caiu e a situação do País melhorou, porque Lula, nem o PT são ameaça a estabilidade e o respeito aos contratos.

Votar no partido A ou no partido B é uma questão de visão de mundo, que eu respeito muito. E acho fundamental que existam visões distintas e que se alternem na direção pública. Inventar mentiras e distorcer os fatos é uma questão de caráter, quando se faz isto para se manter no poder, é uma questão democrática.

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