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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

Expectationalmente, por motivos de força maior do editor deste blog, a Coluna do Ary só está sendo publicada na quinta-feira.


06/09/2010

O “ORGANISMO” DE LULA
Ary Ribeiro


Parece cada vez mais difícil, faltando menos de um mês para as eleições, uma alteração no panorama eleitoral desenhado pelos institutos de pesquisa.

Falam em manipulação de pesquisas. Há até estudos técnicos demonstrando que alguns dos institutos procuraram ouvir eleitores de municípios comandados pelo PT. Mas até pesquisas encomendadas ao Ibope pelos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo – que estão longe de ter simpatias pela candidata de Lula – não discreparam dos resultados apresentados por outros institutos.

O fato mais animador para a oposição foi a verificação, pela pesquisa do Ibope, na semana passada, de que Dilma parou de subir e Serra, de descer. A diferença entre ambos, entretanto, continua muito grande. A última esperança é de que algum fato novo leve os indecisos a optar por Serra, provocando, assim, um segundo turno, quando então os dois principais candidatos poderiam confrontar-se mais diretamente e em condições mais ou menos iguais.

O vazamento de dados da Receita relativos a dirigentes do PSDB, inclusive a filha de José Serra, é fato novo e grave. Mas quanto por cento do eleitorado sabe exatamente o que isso significa? Certamente, apenas pequena parcela da faixa mais instruída. E mesmo dentro dessa faixa, muitos estão dando de ombros para essas notícias.

A imensa maioria dos brasileiros parece anestesiada. Perdeu a capacidade de indignação. Longe vão os tempos em que a denúncia de estar o governo (de Getúlio Vargas) ajudando um jornalista (Samuel Wainer) a montar uma rede nacional de jornais desencadeava uma revolta no País. Nem é preciso recuar tanto no tempo. É recente a saída às ruas dos “caras pintadas” exigindo o impeachment de Fernando Collor. Agora, tudo parece “normal”: mensalão, caixa 2, dinheiro na cueca, “aloprados” apreendidos com R$ 1,7 milhão – dinheiro de origem até hoje desconhecida – para a compra de falso dossiê a ser usado, nas eleições de 2006, contra a candidatura – veja-se – de Serra ao governo de São Paulo. Parece perfeitamente normal também um presidente da República participar de campanha eleitoral, discursar em comícios e falar pelo rádio e televisão, pedindo votos para a sua candidata. Para a grande maioria, “é assim mesmo”, como observou o ex-presidente Fernando Henrique.

Há poucos dias – 28 de agosto – num comício, em Recife, o presidente Lula criticou o Senado. Disse que ele o fez “sofrer”, crítica de resto não justificável, porque, apesar de não ter maioria folgada na Casa, esta aprovou e aprova praticamente tudo o que ele quis ou quer. A derrubada da CPMF foi quase a única exceção.
Depois de fazer a crítica, Lula anunciou (O Globo): “Não pensem que quando deixar o governo, vou deixar a política. Vocês vão me ver andando por esse país. Vou continuar construindo a nossa organização política. Penso em criar um organismo muito forte, juntando todas essas forças que nos apoiam, para que nunca mais a gente possa permitir que um presidente sofra o que eu sofri com um Senado que quase derrubou um presidente da República.”
Que “organismo forte” será esse? Qual será a sua composição? O objetivo já se sabe: constranger uma instituição democrática, o Senado Federal, para que um presidente – naturalmente Dilma e não qualquer presidente – não “sofra” o que ele, Lula, “sofreu”. Vindo de um presidente da República, é afirmação grave. Em outros tempos, suscitaria forte reação no País. No entanto, passou mais ou menos batida até mesmo nos setores da imprensa que ainda criticam o presidente.
Sábado, em outro comício de apoio a Dilma, em Guarulhos-SP, o presidente se permitiu fazer até deboche com a quebra de sigilo de oposicionistas em repartição da Receita Federal. “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê esse vazamento? Mentira tem perna curta." Até agora não apareceu reação.
Aquele amigo de Hamlet diria que “há algo de podre no Reino da Dinamarca”. Mas aqui não é a Dinamarca... Nem há Shakespeares por estas plagas.

COMPUTADOR “INTELIGENTE”
A propósito do vazamento de dados do vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, ocorrido na agência da Receita Federal, em Mauá-SP, a servidora Adeildda Leão dos Santos – sobre a qual recaem suspeitas – divulgou nota (segundo o jornal O Estado de S.Paulo) dizendo que a senha de seu computador era de fácil acesso: estava na agenda que ficava em cima de sua mesa. Não via problema na possibilidade de colegas a usarem. Muitas vezes, chegava de manhã e encontrava seu computador ligado, embora o tivesse desligado ao sair, na véspera. Seus colegas diziam que “o computador ligava sozinho”. Ela comunicou o fato à Corregedoria da Receita e “o corregedor disse que isso é normal". Deve ser computador de geração novíssima, que liga sozinho e vai ver que sozinho também busca dados de dirigentes de partidos da oposição...

NO DF, UMA “ESCOLHA DE SOFIA”

No Distrito Federal, estamos diante de uma “escolha de Sofia” às avessas. No livro e filme nele inspirado fala-se de uma polonesa, Sofia, à qual os nazistas propuseram escolher qual dos dois filhos – um menino e uma menina – seria morto. Se ela não indicasse nenhum, ambos morreriam. Aqui em Brasília, conforme as pesquisas, a escolha real está entre um candidato impugnado pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa e outro recomendado por Lula e Dilma. Qual dos dois não gostaríamos de ver eleito?

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