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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

07/06/2010

Ary Ribeiro Ary Ribeiro Jornalista e escreve as segundas neste Blog


SEGUNDO TEMPO



A pesquisa do IBOPE do fim de semana, indicando rigoroso empate entre os dois principais candidatos à Presidência da República – Serra e Dilma, ambos com 37% – marcou o encerramento do “primeiro tempo” da campanha eleitoral. Pelos próximos 30 e poucos dias, a atenção do País estará voltada para a África do Sul. O patriotismo do verde-amarelo, representado pela nossa Seleção, tomou conta das ruas. Somos, neste momento, mais que nunca, o País do futebol. Só se pensa, só se fala em Copa do Mundo, rememorando jogadores, vitórias e até derrotas, como a que silenciou o Brasil inteiro, em 1950: na final, em pleno Maracanã, o Uruguai levou embora a taça – que já julgávamos nossa. Uma tristeza! E, depois, em 1982, com uma Seleção que podia não ser a melhor de todos os tempos, mas apresentava o belíssimo futebol de Zico, Sócrates e Falcão, além de estarem no time também Renato, Júnior e Roberto Dinamite, sofremos a frustração de voltar mais cedo para casa. Enfim, essa é a hora da bola. A política e a campanha eleitoral ficarão, por algum tempo, lá para o segundo plano.

Para os dois principais times eleitorais – PSDB e PT, com seus aliados – é a hora do intervalo entre o primeiro e o segundo tempo. Hora de, nos vestiários, avaliarem erros e acertos e se prepararem para a segunda e decisiva etapa. O jogo não está ganho, nem para um lado nem para outro. O time Dilma/Lula (ou ao contrário?), que estava sozinho em campo, havia já muito, e contando com a ajuda faltosa de certos coadjuvantes, diante de juiz tolerante, foi crescendo. Serra entrou em campo, assim, em desvantagem e andou levando algumas caneladas. E estava para ser atingido por ilegal complô articulado por novos “aloprados” quando este foi abortado por integrantes do próprio time adversário – que acharam demais aquilo. E assim terminou o primeiro tempo.

O empate indicado pelo IBOPE, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, não é mau para Serra. Há quase um mês havia sido detectado pela pesquisa Sensus e confirmado, depois, pelo DataFolha, o que significa que, nesse período, as duas candidaturas estacionaram. Dilma parou de subir e Serra, de descer. Então, é preparar-se para o jogo bruto do segundo tempo. O time Dilma/Lula voltará a campo com tudo, com toda a força da máquina que tem nas mãos e de organizações paralelas, cooptadas, e que vão desde o MST até as cúpulas sindicais, passando por várias ONGs. Já se viu que esse time não é lá muito de respeitar as regras do jogo. Se o juiz continuar bonzinho, relutante até em dar cartão amarelo, vai fazer gols em impedimento, cavar pênaltis, dar cotoveladas no rosto do adversário e carrinhos por trás, para machucá-lo e tirá-lo do jogo. E conta, nas arquibancadas, com a silenciosa simpatia de magnatas, de banqueiros, de uma camada social satisfeita com a estabilidade econômica – que parece atribuir a este governo, cujo mérito, no entanto, foi apenas o de não ter bagunçado a casa que recebeu arrumada por governos anteriores – e de uma parcela da pobreza, beneficiada por programas assistencialistas.

O que pode fazer o time de Serra? Poderia começar por mostrar que o Rei está nu, mas não haverá de querer correr esse risco, pois 80% dos brasileiros insistem em vê-lo em deslumbrantes vestes. Pode, no entanto, mostrar que o País está nu. As estradas estão nuas, quase todas em mau estado e em alguns lugares, em certas épocas, com lamaçal intransitável; os portos e aeroportos estão nus, não dando vazão às importações e às exportações; a Saúde Pública está nua, bastando percorrer os hospitais e postos de saúde para ver isso; a Educação está nua, é uma das piores do mundo; a Segurança Pública está nua, com a violência, os crimes e tráfico de drogas espalhando-se pelo território nacional; a carga tributária está nua, sobrecarregando principalmente os alimentos e as pessoas mais pobres; e os juros estão nus, são os segundos mais altos do mundo. Se as pessoas, deslumbradas pelas artes de animação de auditório ou satisfeitas por estarem se endividando e comprando eletro-eletrônicos, não estão vendo isso, é preciso mostrar-lhes esse quadro, que deve e pode ser mudado. O Brasil pode mais!

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Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro José Ricardo,

Interessante o teu blog e o debate de ideias que ele pode mobilizar.
Gostei muito da citação de B. Brecht... O Analfabeto Político ... Não conhecia !!! Mas concordo integralmente.
um abraço forte
Arnaldo