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terça-feira, 22 de junho de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

21/06/2010


MORALIZAÇÃO NA VIDA PÚBLICA

Como vinha antevendo, neste Blog, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu de forma acertada mais um ponto importante da Lei da Ficha Limpa, descartando a interpretação puramente gramatical que alguns pretendiam dar ao tempo verbal.

Eu dizia que a expressão “forem” (condenados), em substituição ao “tenham sido”, não alterara a essência da lei. Era condição e, portanto, atemporal. O Tribunal entendeu que ela se refere à situação do candidato, o que é mais ou menos a mesma coisa. E afastou também a alegação de que a lei não poderia retroagir. Ela não está retroagindo nem impondo condenação a ninguém, apenas acrescentando, aos já existentes, mais alguns requisitos para a elegibilidade. De parabéns o Tribunal: foi ao encontro da aspiração da sociedade pela moralização na vida pública.


PRESIDENTE CANDIDATO

Por falar em TSE, ele talvez devesse estar mais atento à crescente desenvoltura com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da campanha eleitoral. Nem se preocupou de, em público, na frente da candidata, dizer que o candidato é ele. Na recente Convenção Nacional do PT, declarou que pela primeira vez seu nome não estará na cédula. “Vai ficar um vazio na cédula e para que esse vazio seja preenchido eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula", afirmou.

Então, temos o presidente da República declaradamente disputando um terceiro mandato por interposta pessoa, sem ter-se desincompatibilizado e, portanto, no comando da máquina administrativa?


CANDIDATA SEM DEBATES

A propósito de Dilma Rousseff, corre a informação de que o comando de sua campanha resolveu afastá-la o máximo possível de debates, principalmente com o candidato tucano José Serra. De fato, ela cancelou um que deveria ter-se realizado na Folha de S.Paulo e, depois, outro na Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e foi fazer um giro pela Europa, onde também procurou escapar (e reclamou) do assédio da imprensa. Dizem seus assessores que ela dará prioridade a debates pela televisão, começando pela TV Brasil, chamada pela Oposição de “TV Lula”.

Se ela é apenas candidata para constar; se o candidato de verdade é Lula; se será ele que governará o País em caso de vitoria dela – então o País não precisa mesmo saber o que ela pensa ou deixa de pensar. Isso passa a ser irrelevante. Mas se ela é candidata para valer, se pretende mesmo governar o Brasil, se não passa de bazófia a afirmação de Lula – então os debates são imprescindíveis para que a Nação possa fazer comparações e avaliações entre os candidatos.


BRASIL E IRÃ

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o chanceler Celso Amorim revelou que o Brasil desistiu de tentar ser mediador do conflito entre o Irã e as grandes potências mundiais. “Não vamos novamente ter posição proativa, a não ser que sejamos solicitados”, declarou.

Foi-se a esperança de solução...



SARAMAGO E A JUSTIÇA

Não poderia deixar de modestamente associar-me às numerosas e justas homenagens prestadas a José Saramago, falecido aos 87 anos na Ilha de Lanzarote (Canárias), onde residia.

Tomei contato com sua obra, há vários anos, ao ler O Memorial do Convento. Encantei-me com a sua narrativa e com a forma, inusitada, de não utilizar sinais para separar os diálogos. Li quase todos os seus principais livros, inclusive o último, Caim. Para mim, ele se inclui no rol dos grandes nomes da literatura de língua portuguesa, entre Camões, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Fernando Pessoa e outros.

Saramago esteve algumas vezes em Brasília. Proferiu pelo menos duas palestras na Embaixada de Portugal, às quais não pude comparecer. Há pouco mais de dois anos, num cruzeiro marítimo, passei por Lanzarote. Mesmo que tivesse tempo para visitá-lo, não teria sido possível, pois vi por um jornal local que ele estava hospitalizado, com pneumonia.

Tive, no entanto, contato com ele por e-mail. Em 2002, editores da Revista do TST queriam publicar um texto dele sobre “o mundo da injustiça globalizada”, lido no encerramento do II Fórum Social Mundial. Pediram-me – era, então, assessor de Comunicação Social do Tribunal – que tentasse obter a autorização. Por meio da Embaixada de Portugal, enviei e-mail a Saramago e ele me respondeu, diretamente, também por e-mail, não deixando de fazer fina ironia a respeito da Justiça.

Eis sua resposta:

“Disponham do meu texto como se fosse vosso. Um dia destes vamos ter que decidir, e oxalá que fosse de uma vez para sempre, se à justiça lhe faltam os juízes, ou se aos juízes lhes falta a justiça.”


CORREIOS: DE MARCHA À RÉ

A história dos Correios, no Brasil, pode ser representada por uma curva que começa a subir no início da década de 70, atinge o pico no fim dessa década e então desce a ladeira.

Até fins de 1969, o Brasil tinha seguramente um dos piores serviços postais do mundo. Cansamos de ler histórias em que personagens, em Paris ou Londres, se comunicavam por cartas, que chegam ao destino em questão de horas. No Brasil, até a década de 70, não se sabia quantos dias poderia demorar – nem se chegaria. E para pôr selos em cartas era uma lambuzeira. Tinha-se de passar cola nos selos – e ela sobrava pelo envelope, pelo balcão dos Correios ou pelos dedos.

Em 1969 começou a virada, com a criação da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT) e aí veio a modernização, impulsionada principalmente, a partir de 1974, pelo ministro Euclides Quandt de Oliveira. Seguiu-se o modelo francês. Técnicos foram enviados à França, para aperfeiçoamento, instalaram-se Centros de Treinamento em vários pontos do País, os envelopes foram padronizados, adotou-se o endereço numérico para distribuição eletrônica (a propósito, a colocação de ponto, por exemplo, 70.377-000, impede a leitura; 70377-000 é sigla), sistematizou-se o transporte e, com isso, uma carta simples postada num dia em Brasília, no outro chegava ao destino no Nordeste ou no Sul do País. O Brasil tinha, finalmente, Correios de Primeiro Mundo.

Durou, porém, apenas até o início da década de 80. Em 1982 já foi criado o Sedex, para assegurar prazo máximo de 24 horas para entrega de correspondência entre capitais, pois a carta simples, de propósito ou não – o Sedex é muitíssimo mais caro – já não circulava com presteza. Depois, o Sedex também começou a demorar. Então, em 2001, criou-se o Sedex 10, bem mais caro, para a correspondência chegar ao destino, no dia seguinte, antes das 10 horas. Esse também começou a atrasar. Então surgiu o Sedex Hoje, bem mais caro. Quantos mais serão criados?

Em resumo, na década de 70, pagava-se, em valores de hoje, cerca de R$0,90 para uma carta simples chegar ao destino em 24 horas; hoje, paga-se uns R$20,00 por Sedex simples – e a demora pode ser de dois ou três dias.


PRAGA SUL-AFRICANA

A Taça do Hexa pode não vir para o Brasil, mas uma praga sul-africana já chegou: as vunvuzelas, mencionadas sempre com boa dose de humor e simpatia pela imprensa brasileira que cobre a Copa. Pode ser que não pegue. As cornetas, que não são senão vunvuzelas menores, mas igualmente infernais, felizmente não tiveram êxito. Caso contrário, a CBF precisará tomar providências, porque senão os estádios se tornarão insuportáveis.

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