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domingo, 20 de março de 2011

Somos Um: Japão e a nova sociedade

Não preciso dizer que tenho dificuldades de expressão diante da dor alheia. É mais fácil lidar com a minha. Ver toda a destruição pela qual o Japão e seu povo passou, ou está ainda passando com o terremoto, o maremoto e agora com a crise nuclear, me deixa atônito.

Mais uma vez vale as observações de Ulrich Beck. Até o século XIX éramos dependentes da natureza. Respeitávamos a ela. Sujeitávamo-nos às suas intempéries. Depois acreditamos, ou nos iludimos de que tínhamos conseguido controlá-la. O ser humano passou a olhar só para seu umbigo. Seu esforço para crescimento individual era só o que importava, uma vez que não mais precisava do coletivo para lidar com o imponderável da natureza. A sociedade dos outros, como descreve Beck é aquela em que a miséria era do outro. O desastre ocorria apenas por falta de cuidado do outro. Conosco não ocorria nada porque éramos virtuosos.

A sociedade que surge da energia nuclear vira de cabeça para o ar a questão do individualismo. Mesmo dominando a natureza, uma falha humana feita em uma usina nuclear pode contaminar a todos, ou muitos, mesmo aqueles que tiveram uma existência exemplar, como ocorreu com Chermobil. A crise financeira internacional e os tristes fatos que afetam o Japão agora devem afundar de vez o individualismo exacerbado. Falhas alheias podem desempregar multidões, destruir economias, abalar a saúde alheia e até matar milhões. Por cima disto fica evidente de que não dominamos a natureza, era só uma ilusão do século XX. E a natureza tem respondido com fúria a essa ilusão. Nos fazendo ver a duras penas o quão tolo fomos.

Que sociedade nascerá depois da crise de 2008 e do terremoto do Japão? Já não é mais a sociedade onde a “culpa” é dos outros. Provavelmente será uma sociedade mais consciente. Uma sociedade mais atenta a sua co-responsabilidade. Não uma sociedade mais forte, mas provavelmente uma sociedade mais consciente de sua própria fragilidade. Uma sociedade melhor a meu ver.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá prof. sou repórter do jornal Diário de SP e gostaria de escrever uma matéria falando sobre a vantagem de usar táxi em relação ao carro próprio (no valor de R$ 40 mil). Quero ver se aqui em Sampa essa vantagem também se justifica. Quais são os dados que eu preciso apurar aqui. O senhor pode fazer as contas da comparação e comentar.