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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Somos Um e Política: Mercado, Estado e Distribuição de Renda

Por muito tempo neste país e no mundo, a questão da distribuição de renda era vista como uma bandeira do “comunismo” ou dos padres de “esquerda”.
A guerra fria criada entre soviéticos e americanos traduzia o espírito de guerra de idéias entre aqueles que acreditavam que o mercado era a melhor forma de alocação dos recursos e aqueles que viam o mercado como coisa a ser abolida em nome do bem comum.

Lado a lado esta divisão crescia na Europa a opção social-democrática, baseada na dissidência do marxismo do início do século e na teoria econômica keynesiana, a social-democracia ganha o aspecto de estado do bem-estar. Nele, o mercado é visto como forma legítima de expressão das relações econômicas da sociedade civil, mas se aceita suas limitações na criação de uma sociedade mais justa e autônoma. Também se reconhece a dificuldade de se encontrar o equilíbrio apenas pelas soluções de mercado.

Este modelo político econômico entrou em crise em 1973 com o aumento no preço do petróleo, a falência do sistema de pagamentos internacionais criado em Bretton Woods e o esgotamento da capacidade do estado do bem-estar em lidar com estas restrições.
De lá para 2008 o mundo viveu o apogeu do liberalismo, qual seja da opção por soluções de mercado para todas as questões econômicas e até políticas.

A queda do muro de Berlin e a enorme sofisticação do sistema financeiro internacional foram fruto disto. A economia mundial viveu também um período de ouro. Todos os problemas poderiam ser resolvidos com as soluções de mercado. O estado mínimo voltou a se tornar solução.

Não vou falar aqui das falhas de mercado que levaram à provavelmente maior crise financeira que este mundo que conhecemos já viveu e da qual apesar da reação correta dos governos, ainda não nos livramos e que trouxe a tona mais uma vez a necessidade da intervenção do estado na economia para sanar falhas de mercado.

Mas vou falar da questão da distribuição de renda. Se quisermos criar uma sociedade mais justa, melhor olharmos para esta questão. A julgar pelos que acreditam que o mercado resolveria todas as questões, estudos divulgados pela Veja da semana passada mostram que dos anos 90 aos anos 2000, piorou a distribuição de renda.

Instituições como o Fundo Monetário Internacional, que antes não se preocupavam com o assunto agora vêem esta questão como importante de se tratar para o equilíbrio dos mercados. Estudos mostram que sociedades com melhores distribuições de renda apresentam mais baixos índices de criminalidade e de violência urbana. Parece que agora, sem mais vestígios da guerra fria, sem mais a divisão ferrenha entre liberais e comunistas, estamos mais livres de nos posicionarmos a favor uma questão tão importante para a humanidade, uma sociedade menos desigual econômica e socialmente. Não é criar um caminhão cheio de robôs iguais, mas é permitir que o talento de cada um possa se dar, é dar condições para que todos tenham oportunidades de desenvolver sua potencialidade e que a riqueza seja também reconhecida como um bem coletivo.

Os programas de distribuição de renda são um começo para reduzir a desigualdade. Mas podem ser muito pouco se não estimular o interesse de quem o recebe de buscar se desenvolver para participar do processo criativo. Se não na geração que o recebe, pelo menos nas gerações seguintes. O mercado não resolve tudo, mas ele é a expressão da criatividade e da participação da coletividade individual. Se não for criado mecanismos que estimulem que as pessoas que recebem estes aportes financeiros participarem dos mercados, podem produzir efeito reverso ao que se intenciona. Em vez de criar uma sociedade autônoma, pode criar uma sociedade dependente.

Como um mosaico, o mercado reflete o todo construído de partes e das belezas individuais, mas também como um mosaico, se colocado de forma aleatória as partes individuais podem gerar um mosaico caótico e esteticamente desequilibrado. Assim mercados e estado devem se complementar para criar uma sociedade mais justa, menos desigual, com mais oportunidades para todos os seus participantes.

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