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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

26/07/2010

O EXPEDIENTE DO EXPEDIENTE

Ary Ribeiro


Para participar da campanha eleitoral de sua candidata, o presidente Lula lançou mão de dois dos significados do verbete expediente registrados pelo Houaiss: medida para se sair de uma dificuldade ou chegar a uma solução; artifício, meio; e horário de funcionamento das repartições públicas.

Não sei se esse expediente (no primeiro sentido) vai mesmo prevalecer, caso em que o presidente deixaria de ser o Primeiro Magistrado da Nação – o que implicaria equidistância de partidos ou ideologias, para ser o mandatário de todos os brasileiros – para cumprir expediente (na segunda acepção) de mero funcionário, parece que de 8 horas diárias, de segunda a sexta-feira (40 horas semanais), podendo participar da campanha em favor de sua candidata fora do período de “trabalho”, nas horas e dias “de folga”.

Nesse caso, além da jabuticaba, o Brasil passaria a ter mais uma coisa única no mundo: horário de trabalho para Presidente da República! O inusitado fato levaria a inevitáveis perguntas: se aparecesse algum problema exigindo a pronta intervenção do presidente depois das 18 horas, ele faria jus a hora-extra? E nas viagens, internas ou externas, em que frequentemente se marcam encontros ou banquetes (obrigações presidenciais) para depois das 18 horas, também se pagaria hora-extra?

Os presidentes do período militar costumavam ter expediente definido, mas no Palácio do Planalto. Chegavam às 9 horas e, com intervalo para almoço, saíam às 18 horas. Encerrava-se, porém, o expediente protocolar, para despachos e audiências. Eles iam para o Palácio da Alvorada (ou Granja do Torto, conforme o caso) e continuavam presidentes, recebendo outras pessoas, telefonemas, examinando documentos ou, de qualquer modo, prontos para atuar em qualquer eventualidade. Eram, como em todo lugar do mundo, presidentes 24 horas por dia, todos os dias da semana.


FARC: AFINIDADES

O deputado Índio da Costa, candidato a vice na chapa de José Serra, causou alvoroço na semana passada ao dizer que “todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior”. Exagerou com a questão do narcotráfico. Mas não quanto a afinidades e simpatias. O jornalista Reinaldo Azevedo, em seu Blog, listou vários fatos indicativos da proximidade. A Veja desta semana reforça isso. “Os laços do PT com as Farc já duram 20 anos”, afirma.

Podem alegar que a revista e o jornalista são facciosos, antiLula, mas o insuspeito (para as esquerdas) presidente venezuelano Hugo Chávez, ao sugerir às Farc, no fim de semana, que deixem o caminho das armas e se reintegrem no quadro político-partidário colombiano, deu exemplo que deixa clara a afinidade ideológica. Para ele, esse é o melhor meio de chegar ao poder. Segundo matéria publicada na edição de domingo do Correio Braziliense, Chávez recordou alguns exemplos “no Brasil e na região”.

Disse ele: “Aí está Pepe Mujica (ex-guerrilheiro Tupamaro, agora presidente do Uruguai), está Daniel (Ortega, presidente da Nicarágua), está Evo (Morales, presidente da Bolívia), está Lula e estará Dilma (Rousseff), enfrentando as oligarquias e o imperialismo.” Ou seja, todos vieram das lutas da esquerda (algumas também armadas, como as Farc) e chegaram ao poder. Ele também. Não veio propriamente dessas lutas, mas se põe como integrante (senão líder) do grupo.


ENIGMA DILMA

Trechos de artigo do professor-doutor Carlos Alberto Di Franco na edição desta segunda-feira do jornal O Estado de S.Paulo:

“Dilma Rousseff continua sendo apenas uma embalagem, um enigma a ser decifrado. (...) Suas convicções, aparentemente, mudam como chuva de verão. Lança um programa de governo. Tem reação? ‘Não assinei, não li, só rubriquei.’ (...) Instaurou-se, sob a égide de certas esquerdas, a política do descompromisso radical com os fatos. A saída é sempre a mesma: ninguém sabe, ninguém viu.”

“Dilma Rousseff continua empacotada. Dilma não é Lula, um carismático de livro e mestre da conciliação. Conseguirá impedir que os radicais do PT imponham sua política do atraso?”

“Na verdade, Dilma é o terceiro mandato de Lula. Mas sem o carisma, sem a habilidade, sem domínio das bases e sem a ginga do criador. E isso precisa ser dito com todas as letras.”


MELHORIA PARA OS MAIS POBRES

Ao contrário do que faz crer a propaganda oficial, não foi o governo Lula, com seu Bolsa Família, que elevou o padrão de vida da população mais pobre, que promoveu, enfim, um up grade nas camadas da base ou do meio da pirâmide social. Já observei, neste espaço, que isso é resultado de longo processo, que vem desde a mudança da Capital e para o qual todos os governos, de lá para cá, deram sua contribuição, devendo-se destacar o Plano Real, de Itamar Franco/Fernando Henrique, que, ao pôr freio na tresloucada inflação, assegurou o poder de compra dos salários.

Hoje, em artigo também no jornal O Estado de S.Paulo, a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) traz mais uma informação nesse sentido: a verdadeira revolução por que passou a agricultura e pecuária a partir de 1965. A produção brasileira de grãos passou de 20 milhões de toneladas, para uma população de 80 milhões (250 kg por habitante) para 144 milhões de toneladas, para uma população de 190 milhões (758 kg por habitante). A produção de carnes passou de 2,1 milhões de toneladas (25 kg por pessoa) para 20 milhões de toneladas, em 2006 (100 kg por pessoa).

Graças ao aumento da produção e da produtividade, mediante o emprego de modernas técnicas – para o que em muito contribuiu também a Embrapa – os preços dos alimentos caíram. Kátia Abreu cita estudo dos professores José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Rizzieri, segundo o qual, de 1975 a 2005, o custo da cesta básica, na cidade de São Paulo, baixou, em média, 5% ao ano, em termos reais. Em consequência, gastando menos com comida, sobrou dinheiro para os mais pobres comprarem outras coisas e investirem em seu bem-estar. “O efeito da queda dos preços agrícolas é mais importante que as transferências de renda para explicar a melhoria do padrão de vida das populações mais pobres”, assinala a senadora.

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