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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Coluna do Ary Ribeiro

05/07/2010 Ary Ribeiro

MALES QUE VÊM PARA O BEM

A novela da escolha do Vice para a chapa de José Serra pode bem enquadrar-se no ditado popular acima.

Primeiro, o comando da campanha tucana depositara muita esperança em que o ex-governador mineiro Aécio Neves aceitaria a indicação. Ele dizia que não, mas deixava a entender – ao menos assim se interpretava – que a recusava não era definitiva. Até que deixou o governo, foi passar férias no exterior e, na volta, lançou uma torrente de água fria na possibilidade de uma chapa fortíssima, que reviveria os velhos tempos da política café com leite (união de São Paulo e Minas).

O comando do PSDB pareceria acreditar tanto numa chapa puro sangue Serra/Aécio que não tinha um Plano B, uma alternativa. Só então passou a examinar outros nomes, inclusive com sugestões do aliado DEM, que concordava com a indicação de Aécio, mas, não sendo ele, julgava-se com direito à Vice.

Quando o prazo para registro da chapa já se esgotava, o tucanato optou por chapa puro sangue mesmo e escolheu o nome do senador paranaense Álvaro Dias. A escolha, acertada em petit comité, acabou vazando pelo twitter e apanhou de surpresa o aliado DEM, que se sentiu passado para trás e estrilou.

Por que Álvaro Dias? Porque ele é irmão do também senador Osmar Dias, que integra um partido da base governista – o PDT – e pretendia ser candidato a governador. Como há acordo de família pelo qual um irmão não se lança em disputa contra o outro, Osmar desistiria da candidatura para não ficar contra Álvaro. E Dilma ficaria sem palanque no Estado. Essa era a jogada.

Lula, com a esperteza que lhe é peculiar, aproveitou-se do desacerto nas hostes oposicionistas, pressionou o PDT e levou Osmar a manter a candidatura.

Essa esperteza é que se teria transformado num bem, porque invalidou o principal argumento dos tucanos e deu força à pretensão do DEM. Álvaro Dias portou-se com a grandeza que se espera de um político que põe os interesses do País à frente dos seus, pessoais. Como não pleiteara a indicação, dela abriu mão em favor da aliança partidária.

O resultado foi que o DEM indicou o deputado federal Índio da Costa, um nome que poderá surpreender eleitoralmente. Ele não é tão conhecido como Aécio, Sérgio Guerra, Álvaro Dias ou outros Democratas, mas traz para a chapa oposicionista não apenas a força da juventude (tem 39 anos), mas a de um dos políticos que mais lutaram, na Câmara, pela aprovação da Lei da Ficha Limpa – da qual foi o relator – ou seja, pela moralização da vida pública. Ele tem boa presença, vem de família conceituada do Rio, e, ao contrário da candidata oficial, Dilma Rousseff – que nunca disputou um cargo eletivo – foi eleito para três mandatos de vereador e um (o atual) de deputado federal. E exerceu também cargos no governo do prefeito César Maia. Tem, portanto, experiência política e administrativa.

Fazem principalmente duas objeções à escolha do seu nome. Primeira: Dizem que é pouco conhecido. Mas é bem conhecido da juventude que usa sobretudo o twitter e de todos que acompanharam a luta pela aprovação da Lei da Ficha Limpa. E hoje, com os recursos da mídia, ele se tornará rapidamente conhecido. Ademais, representa o “novo”, a renovação política tão almejada pelo País. Enquanto Dilma vem cercada dos velhos caciques da vida pública – José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Fernando Collor e outros – Serra tem por companheiro um jovem político. Segunda: estaria Índio da Costa preparado para assumir a Presidência da República na hipótese de uma fatalidade? Sem dúvida. Como já se disse, ele tem experiência política e administrativa. Depois, Dilma, que é candidata a Presidente e não a Vice, é mais preparada que ele?

Aliás, é preciso que ela compareça a debates públicos, principalmente pela televisão, com Serra e Índio da Costa, para se saber o que todos pensam e quais são suas propostas para governar o País. O eleitorado tem o direito de saber e fazer suas próprias avaliações. Como disse Fernando Henrique, no final de artigo publicado na edição de domingo do Estadão: “Está na hora de cada candidato, com a alma aberta e a cara lavada, dizer ao País o que pensa.”

“ELA NÃO PODE DIZER O QUE PENSA”

Eis um trecho do artigo de FHC:
“Aqui, o ‘dedazo’ de Lula apontou a candidata. Só que ela não pode dizer o que pensa para não pôr em risco a eleição. Estamos diante de uma personagem a ser moldada pelos marqueteiros. Antigamente, no linguajar que já foi da candidata, se chamava isso de "alienação".
Esconde-se, assim, o que realmente está em jogo. Queremos aperfeiçoar nossa democracia ou aceitaremos como normais os grandes delitos de aloprados e as pequenas infrações sistemáticas, como as de um presidente que dá de ombros diante de seis multas a ele aplicadas por desrespeito à legislação eleitoral? Queremos um Estado partidariamente neutro ou capturado por interesses partidários? Que dialogue com a sociedade ou se feche para tomar decisões baseadas em pretensa superioridade estratégica para escolher o que é melhor para o País? Que confunda a Nação com o Estado e o Estado com empresas e corporações estatais, em aliança com poucos grandes grupos privados, ou saiba distinguir uma coisa da outra em nome do interesse público? Que aposte no desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, para a cidadania e para o trabalho, ou veja o povo como massa e a si próprio como benfeitor? Que enxergue no meio ambiente uma dimensão essencial ou um obstáculo ao desenvolvimento?”

A CAMPANHA DA SELEÇÃO

Dizem que todo brasileiro é técnico de futebol. Então exerço meu direito de dar palpite. Não acho que Dunga mereça tanta reprovação. Ele deixou de convocar excelentes jogadores que despontaram ultimamente, como os santistas Ganso e Neymar e mesmo Ronaldinho Gaúcho; manteve e escalou Felipe Melo. É verdade. Mas foi basicamente com esse time que disputou 60 jogos, vencendo 42, empatando 12 e perdendo seis. Não foi má campanha. O Brasil poderia muito bem ter vencido a Holanda. Começou bem, mas levou um gol em consequência de uma trapalhada. Um azar. Como foi um azar também o Elano ter ficado de fora. Como foi por puro azar que aquela bola de Kaká não subiu um centímetro mais, o que permitiu ao goleiro holandês desviá-la com a ponta dos dedos. Azar e sorte fazem parte do futebol. Se aquela bola de Kaká tivesse entrado, a história do jogo teria sido outra. Criticam também o fato de Dunga ter montado time mais defensivo que ofensivo. Mas e o belo time de Maradona, de futebol ofensivo, com Messi e tudo, não voltou para casa com quatro gols nas costas? E outras tradicionais Seleções, como as da Itália, França e Inglaterra, não foram embora mais cedo também? Perder faz parte das disputas. O importante é que, se o nervosismo e sobretudo a desleal falta de Felipe Melo prejudicaram a atuação no segundo tempo, ninguém pode dizer que os jogadores desta vez não se esforçaram ou andaram fazendo farras às vésperas das competições. São merecedores de aplauso. Dunga também. Na Argentina, Maradona e seus craques, apesar dos quatro a zero, foram recebidos com festa. Aqui, a CBF demitiu Dunga pela Internet. Uma deselegância!


CHABU NA FESTA DE LULA

Todos nós, é claro, nos sentimos frustrados com a eliminação do Brasil na Copa do Mundo. Pior foi para o presidente Lula. Ele arrumou até uma viagem, para terminar na África do Sul no dia da partida final, declaradamente por ser o Brasil o anfitrião da próxima Copa, mas na óbvia esperança de presenciar a vitória brasileira. Então, como Mandela no filme “Invictus”, poderia entrar no gramado, abraçar os jogadores e se deixar fotografar e filmar erguendo a Taça (com Dilma ao lado?). Depois, a festa prosseguiria em Brasília – em plena campanha eleitoral – com o presidente recebendo os jogadores nos jardins do Alvorada, presentes ministros, altos funcionários, petistas e políticos da base aliada e, naturalmente, também Dilma, como convidada especial. Deu chabu. A Seleção frustrou a expectativa presidencial – e, infelizmente, a nossa também, de simples torcedores.

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